Cada vez mais cobiçado por investidores, o Nordeste está se tornando um polo atraente para a instalação de data centers, impulsionado por fatores como a disponibilidade de energia renovável (solar e eólica), a infraestrutura de cabos submarinos e incentivos governamentais. No entanto, a região, que busca se consolidar como um hub de inovação digital, atraindo investimentos e promovendo o desenvolvimento econômico, precisará vencer desafios estruturais para isso.
Segundo estudo “O Cenário atual do desenvolvimento de Inteligência Artificial no Brasil”, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, a expansão do desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) enfrenta uma série de desafios.
Com ajuda do pesquisador Rodrigo Brandão, agrupamos os principais desafios que a região deve se empenhar para garantir que a atratividade territorial e humana se concretize.
Infraestrutura tecnológica deficiente e concentrada
Data centers e conectividade: Apesar de algumas cidades costeiras, como Fortaleza, serem pontos estratégicos para cabos submarinos (o que melhora a conectividade internacional), a infraestrutura de data centers de grande porte no Brasil ainda está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Isso significa que a maior parte do ambiente de TI no Nordeste é gerenciada internamente pelas empresas (“in-house”), o que pode não suportar as altas demandas de escalabilidade e processamento da IA.
Energia: Embora a região tenha uma matriz energética com alta proporção de fontes limpas, o desafio reside na infraestrutura de distribuição. “A energia existe, mas não chega, o que dificulta o fornecimento estável e abundante necessário para data centers e centros de pesquisa de IA”, explica Brandão.
Resfriamento: A IA intensifica o uso de energia e gera calor em níveis sem precedentes. Em climas quentes como o do Nordeste, o resfriamento tradicional (com ar externo) é inviável, exigindo tecnologias mais avançadas e eficientes, como o resfriamento líquido (DLC), que ainda não são amplamente disponíveis na região.
Escassez de profissionais qualificados: Embora o Nordeste seja a terceira região do país com maior número de profissionais de tecnologia, ainda há uma lacuna significativa de especialistas em IA, como cientistas de dados, engenheiros de machine learning e pesquisadores.
“Essa é uma defasagem que já vemos alguns esforços públicos, junto das universidades e institutos federais, mas leva tempo formar esse pessoal”, afirma o pesquisador.
Capacitação e atualização: A demanda por conhecimento em IA evolui rapidamente. A região precisa de programas contínuos de capacitação e formação, que preparem os profissionais para as tecnologias mais recentes e as demandas complexas do mercado. Há iniciativas importantes de universidades (como a Universidade Federal de Pernambuco com cursos de graduação em IA e projetos de extensão) e institutos (como o Instituto Atlântico com seu laboratório de IA e programas de formação), mas a escala precisa ser ampliada.
Investimento insuficiente: Apesar de alguns aportes importantes, como os R$ 13,2 milhões para um laboratório de IA do Instituto Atlântico no Ceará e os R$ 5 milhões do Google Brasil para capacitação em IA no terceiro setor, o investimento em P&D em IA no Nordeste ainda é menor em comparação com outras regiões do país.
Conexão academia-empresa: É fundamental fortalecer a colaboração entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo. Já temos alguns exemplos de parcerias (como a UFPE com Samsung e o Instituto Atlântico com universidades locais).
Políticas públicas e regulamentação
Estratégias regionais robustas: Embora o Piauí tenha se destacado ao criar uma Secretaria de Inteligência Artificial e Economia Digital, é fundamental que todos os estados e a própria região Nordeste desenvolvam estratégias e políticas públicas coordenadas para impulsionar a IA de forma ética, transparente, justa e inclusiva, e seguir o exemplo.
“Superar esses entraves exigirá um esforço conjunto e coordenado do governo, academia, setor privado e sociedade civil, com investimentos estratégicos e políticas públicas direcionadas para impulsionar o desenvolvimento da IA e transformar a região em um polo de inovação tecnológica”, concluiu Brandão.