Após dois anos, o Nordeste está prestes a superar a região Sul e reassumir a segunda posição no ranking de consumo no Brasil, ficando atrás apenas do Sudeste. Em 2025, as famílias nordestinas devem movimentar R$ 1,515 trilhão, representando 18,59% do consumo nacional, enquanto o Sul responderá por 18,51%, segundo dados da consultoria IPC Maps. Essa inversão reflete uma combinação de fatores, desde os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul até o fortalecimento da economia nordestina, impulsionada por políticas sociais, turismo e investimentos em energia renovável.
Um dos principais motivos para a recuperação do Nordeste foi a crise climática no Sul, especialmente as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, afetando a produção agrícola, o comércio e a renda das famílias. Enquanto isso, o Nordeste se beneficiou de políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que injeta mensalmente R$ 6,4 bilhões na região, além do aumento real do salário mínimo, que impacta aposentadorias e benefícios sociais.
Além disso, o turismo voltou com força após a pandemia. Com a desvalorização do real, viagens internacionais ficaram mais caras para os brasileiros, enquanto o Nordeste se tornou um destino mais atrativo para estrangeiros. Nos primeiros quatro meses de 2025, os aeroportos da região receberam 159.149 turistas internacionais, um aumento de 51% em relação ao mesmo período de 2024.
Energia renovável e novos investimentos
Outro pilar do crescimento nordestino é a expansão da energia eólica e solar. Dos 76 parques eólicos instalados no Brasil em 2024, 73 estavam no Nordeste, com investimentos de R$ 10 bilhões apenas no último ano. Desde 2015, o setor já atraiu US$ 42 bilhões (cerca de R$ 237 bilhões), gerando empregos e melhorando indicadores sociais. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), cada R$ 1 investido em energia renovável gera R$ 2,90 no PIB, com efeitos positivos em cadeia para a economia local.
O setor de saneamento também tem recebido atenção, com obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esses investimentos em infraestrutura, somados à exploração de petróleo e gás natural, devem acelerar o crescimento do Nordeste nos próximos anos. Projeções da Tendências Consultoria indicam que, entre 2027 e 2034, a região terá um avanço anual de 3,2% no PIB, acima da média nacional (2,3%).
Mercado de trabalho e renda em ascensão
O Nordeste também registrou melhora no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego caindo de 11,2% em 2023 para 9,4% em 2024, o menor nível desde 2014. A renda do trabalho subiu 10,3% no último ano, acima da média nacional (7,6%). Esse movimento, aliado ao aumento das transferências de renda, tem fortalecido o poder de consumo das famílias, especialmente nas áreas rurais, onde programas sociais têm impacto significativo.
Flávio Ataliba, economista da FGV/Ibre, destaca em entrevista ao Estadão, que “qualquer variação na renda, seja do trabalho ou de benefícios, tem um peso enorme no Nordeste devido ao tamanho da população”. A antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS, por exemplo, deve injetar R$ 15,76 bilhões na economia regional em 2025.
A retomada do Nordeste como segundo maior centro de consumo do Brasil não é um fenômeno passageiro. A combinação de turismo em alta, investimentos em energia limpa, políticas sociais e recuperação do mercado de trabalho sugere que a região está em uma trajetória sustentável de crescimento. Enquanto o Sul se recupera dos desastres climáticos, o Nordeste consolida seu papel como um dos principais motores da economia brasileira, com potencial para superar até mesmo as projeções atuais nos próximos anos.