Alagoas tem fortalecido sua presença no cenário nacional e internacional com uma estratégia que vai além dos incentivos fiscais e das tradicionais missões econômicas. A nova aposta do estado é o soft power: um conjunto de atributos culturais, sociais e ambientais capazes de atrair investimentos de forma sutil, por meio da valorização da identidade local, da criatividade e da sustentabilidade.
De acordo com o secretário especial da Receita Estadual, Francisco Suruagy, os incentivos fiscais concedidos pelo Governo de Alagoas estão cada vez mais alinhados com estratégias que valorizam a cultura, a sustentabilidade e a responsabilidade socioambiental. “Um exemplo concreto disso é a recente regulamentação da política pública de incentivo fiscal à cultura e aos esportes. Por meio dessa iniciativa, empresas que atuam no estado, sejam ou não beneficiárias de regimes especiais de tributação, podem deduzir, via crédito presumido de ICMS, valores destinados ao patrocínio de projetos culturais e esportivos previamente habilitados”, explicou Suruagy.
Segundo ele, essa ação transversal integra diferentes áreas do governo, com destaque para as secretarias de Cultura e do Esporte, e representa uma nova e estratégica forma de financiamento para atividades culturais e esportivas em Alagoas. “O Estado também vem trabalhando para estimular uma maior sinergia entre as cadeias produtivas, fortalecendo os polos de desenvolvimento econômico de forma integrada”, completou.
Nesse contexto, está em curso um planejamento que busca aproximar setores criativos e sustentáveis da dinâmica econômica local, promovendo conexões entre produção, distribuição e consumo com base em uma lógica de complementaridade. “Um exemplo prático é a articulação entre a indústria leiteira, a rede de atacadistas e o setor hoteleiro, bem como a cadeia produtiva do coco sendo potencializada pelas centrais de distribuição”, afirmou Suruagy. “Todos estão conectados por uma política de desenvolvimento que estimula o consumo interno de produtos locais e a geração de renda no estado”.
Para ele, Alagoas vem se destacando em setores como o turismo sustentável, a indústria criativa, a bioeconomia, a transição energética e os produtos da agricultura familiar com valor agregado. “Essas frentes não apenas refletem a identidade cultural e os ativos ambientais do estado, mas também dialogam com tendências globais de consumo consciente, inovação verde e redução da pegada de carbono — elementos cada vez mais valorizados por investidores internacionais comprometidos com ESG e sustentabilidade de longo prazo”.
A secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, também reforça o papel da cultura como elemento estratégico na projeção da imagem de Alagoas. “A cultura alagoana tem uma força gigante, e, felizmente, cada vez mais gente tem reconhecido esse valor. Quando a gente compartilha nossas expressões artísticas, nossos saberes tradicionais e toda essa diversidade que nos forma, estamos mostrando para o Brasil e para o mundo uma Alagoas rica, plural e profundamente enraizada em suas origens”, afirmou. “Isso muda a forma como o estado é visto, não só como um destino turístico, mas como um território criativo, cheio de potência”.
Segundo Mellina, políticas públicas já estão em andamento para internacionalizar a produção cultural local. “Estamos sempre em contato com instituições culturais, tanto do Brasil quanto de fora, buscando caminhos para que a produção cultural alagoana ganhe espaço em circuitos internacionais. Também temos apoiado iniciativas que ajudam nossas obras, produtos e experiências culturais a circularem fora do país. É um trabalho que exige planejamento, articulação e muita parceria, mas acredito totalmente que a cultura é um dos grandes ativos de Alagoas”.
Ela acrescenta que expressões como a música, a gastronomia e o artesanato têm sido vistas como motores do desenvolvimento local. “A gastronomia é um patrimônio que movimenta o turismo. O artesanato carrega história, afeto e, ao mesmo tempo, gera renda, principalmente em comunidades tradicionais e quilombolas. Já a música tem esse poder de conectar nossos talentos com o mundo. Quando cultura e economia andam juntas, a criatividade vira oportunidade real e gera dignidade pra muita gente aqui no estado”.
Para a cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o conceito de soft power — criado na década de 1980 pelo cientista político Joseph Nye — diz respeito à capacidade de exercer influência não por coerção ou pagamento, mas por atração. “Soft power é essa capacidade de atrair e influenciar outros por meio do encantamento. Isso acontece, por exemplo, quando filmes, músicas ou modos de vida promovidos por um país acabam sendo adotados por pessoas ao redor do mundo. O exemplo mais conhecido talvez seja o de Hollywood e o estilo de vida americano que foi exportado por décadas”, explica.
Luciana cita outros exemplos bem-sucedidos de uso do soft power, como a cultura pop da Coreia do Sul, o K-pop e os doramas, e reforça que o Brasil também tem atributos que encantam o mundo. “O carnaval, o futebol, a música brasileira. Tudo isso influencia positivamente a imagem do país. E isso pode ser aproveitado estrategicamente por governos para fortalecer alianças, minimizar conflitos ou atrair investimentos e turistas. É um tipo de influência sutil, mas extremamente poderosa”.
Alagoas tem buscado justamente explorar esse tipo de influência por meio da valorização da identidade cultural e da sustentabilidade. Um exemplo recente foi a participação do estado no Brazil Northeast Day, realizado no Catar, onde a delegação alagoana reforçou parcerias e apresentou o programa Alagoas Feita à Mão, voltado à internacionalização do artesanato local, com o apoio da Secretaria de Relações Federativas e Internacionais (Serfi). A proposta é mostrar que Alagoas é mais do que belas paisagens: é também um celeiro de inovação, criatividade e responsabilidade socioambiental.
Com essas estratégias integradas, o estado busca consolidar uma imagem positiva no exterior e, assim, ampliar seu acesso a mercados globais, atrair novos investimentos e abrir frentes de cooperação que tenham como base valores compartilhados. Um soft power genuinamente alagoano, que nasce da cultura, da criatividade e da vontade de crescer com sustentabilidade.