O cultivo de milho em Pernambuco tem sido impactado por condições climáticas adversas e desafios estruturais. Dados recentes indicam que metade da área plantada na mesorregião do Sertão foi perdida, enquanto o Agreste ainda não iniciou o plantio devido à seca prolongada. O pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), José Nildo Tabosa, em entrevista ao Investindo Por Aí, destacou que a produtividade do milho no estado está abaixo da média nacional, reforçando a necessidade de investimentos em tecnologia.
Produção e produtividade em Pernambuco
Os dados do IBGE/Sidra mostram que, em 2023, Pernambuco plantou 189.207 hectares de milho, mas colheu apenas 85.717 hectares, refletindo as dificuldades climáticas e estruturais enfrentadas pelos produtores. A produtividade média do estado foi de apenas 650-700 kg/ha, significativamente abaixo da média nacional de 5.913 kg/ha.
Comparativo regional
Na região Nordeste, estados como Maranhão e Piauí têm avançado no cultivo do milho, principalmente em áreas do MATOPIBA, onde a produtividade atinge 4.600-4.700 kg/ha. A Bahia lidera em área plantada e também alcança produtividade similar. Sergipe se destaca por contar com solos privilegiados, resultando em uma produtividade equivalente à média nacional. Por outro lado, estados como Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco encontram dificuldades devido às condições de solo e chuvas irregulares.
Estado | Área Cultivada (ha) | Produção (toneladas) | Produtividade (kg/ha) |
---|---|---|---|
Maranhão | 535.302 | 2.487.084 | 4.646 |
Piauí | 601.766 | 2.752.791 | 4.687 |
Bahia | 694.636 | 3.097.058 | 4.754 |
Alagoas | 54.358 | 71.427 | 2.611 |
Sergipe | 184.915 | 874.463 | 4.890 |
Pernambuco | 189.207 | 55.709 | 650 |
O papel do zoneamento climático
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), aprovado para a safra 2024/2025, aponta as áreas de maior e menor risco para o plantio do milho em Pernambuco. O estudo indica que mais de 90% da área do estado está no Semiárido, o que aumenta a vulnerabilidade climática. Segundo Tabosa, “o que tem que fazer é seguir o zoneamento de risco: que informa quando, como e onde plantar. Fora disso, o risco de frustração de safra é grande”.
O pesquisador também enfatiza a importância da irrigação para elevar a produtividade, mas alerta que nem todo tipo de solo permite essa prática. “Tem que investir forte em tecnologia e, com respaldo técnico, elevar a produtividade, como vêm fazendo Alagoas e Sergipe”, afirma.
Consumo elevado e dependência externa
Apesar da baixa produção, Pernambuco é o maior consumidor de milho do Nordeste, principalmente devido às demandas da avicultura local. Para suprir o déficit, o estado importa milho de outras regiões do país. “Esse nosso déficit é compensado pela grande produtividade da avicultura local, mesmo comprando de fora esse insumo”, explica Tabosa.
A situação do milho em Pernambuco evidencia a necessidade de políticas públicas e investimentos para aumentar a resiliência do setor, minimizando os impactos climáticos e melhorando a produtividade dos agricultores locais.