Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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10 de outubro de 2025 15:25

Projetos fazem da casca de coco verde uma alternativa para produção de energia limpa

Projetos fazem da casca de coco verde uma alternativa para produção de energia limpa

Iniciativa da UECE usa a casca de coco verde para a produção de bastonetes de carvão híbrido
Foto: Reprodução/Internet

Quem resiste a uma água de coco em dia de praia? Esta fruta extremamente comum, sobretudo no litoral nordestino, apesar de saborosa e muito benéfica à saúde, pode ser muito prejudicial ao meio ambiente se descartada de forma indevida. Isso porque a casca do coco, além de ocupar grandes volumes, é um material de difícil decomposição, levando de 8 a 10 anos para ser degradado. Pensando nisso, uma equipe da Universidade Estadual do Ceará em parceria com a Energia Pecém, está desenvolvendo um projeto que usa a casca da fruta para produção de energia.

De acordo com a Embrapa Tabuleiros Costeiros, o Brasil tem 1,75% da sua área agrícola cultivada com coqueiros, o que corresponde a 215.683 ha e uma produção de aproximadamente 2,34 milhões de toneladas de frutos por ano. Pensando em resíduos gerados por esse cultivo, apenas na região Nordeste, uma pesquisa realizada em 2007 estimava que o número de casca de coco descartada era de aproximadamente 729 mil toneladas, 595 toneladas de folhas e 243 mil toneladas de inflorescências.

Há duas grandes questões a respeito do descarte da casca do coco. A primeira delas, como já foi dito, está relacionada ao seu tempo de degradação e ao volume que a mesma ocupa. A casca do coco verde é formada por cerca de 70% de fibras, que se caracterizam pela sua dureza e durabilidade, e 30% de pó, o que constitui cerca de 80% do coco em si. Por essa razão, o coco possui uma durabilidade alta, levando até 10 anos para se degradar. Outro impacto que a casca do coco pode ter está relacionado ao metano que é liberado durante sua decomposição, um dos gases mais potentes para o efeito estufa.

Por conta dessas preocupações com o descarte de resíduos, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela lei federal 12.305/2010, que dispõe os princípios, objetivos e instrumentos para encontrar uma melhor administração dos resíduos. Segundo o texto, tornou-se proibida a deposição de casca de coco em aterros sanitários por ser um material de longa decomposição. Com isso, o que fazer com as toneladas de cascas geradas anualmente? Pesquisas e projetos têm se debruçado nessa questão para buscar soluções ambientalmente corretas e produtivas.

Pesquisas e inovação

A iniciativa proposta pela UECE usa a casca de coco verde para a produção de bastonetes de carvão híbrido a partir de um processo chamado pirólise, uma técnica que consiste no aquecimento da biomassa (como a casca de coco) a altas temperaturas, entre 400 °C e 700 °C, em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio. Assim, o produto que se origina dessa queima é o biocarvão, que é usado em usinas termelétricas, mas diferentemente do carvão mineral, gera uma quantidade significativamente menor de gases poluentes, como explicou a professora Mona Lisa, coordenadora do projeto na UECE:

“O biocarvão possui características de queima muito similares ao carvão mineral e, portanto, o híbrido seguirá essa característica. No entanto, quanto a questão de CO2, existe aí um potencial significativo para redução de até 45%, mas tudo depende ainda de estudos de blends e análises de ciclo de vida do processos como um todo (do poço ao portão, por exemplo: da coleta a geração ), ou melhor, da casca de coco ao interruptor (ou tomada).”

O projeto da UECE, que possui uma parceria com a usina termelétrica Energia Pecém, faz parte de uma iniciativa de Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Aneel que visa o desenvolvimento tecnológico do setor elétrico brasileiro através de investimento em pesquisa e inovação.

A usina termelétrica Energia Pecém, na tentativa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa de suas próprias operações, busca substituir o carvão mineral para alternativas mais verdes de produção de energia. Por essa razão, em agosto de 2024 a empresa firmou uma parceria com a UECE, no qual investirá R$ 2,5 milhões em pesquisas envolvendo a produção de carvão híbrido, ou biocarvão, a partir da biomassa do coco.

Foto: Reprodução/Internet

Com 24 meses e 12 etapas a serem cumpridas, a pesquisa está atualmente no 7º mês ainda na primeira fase – que inclui o mapeamento local de produtores e o resíduo em si. Contudo, um importante passo está sendo concretizado, o projeto deve inaugurar no dia 30 de julho uma unidade de pirólise e torrefação de biomassa na própria UECE, sendo a primeira no estado. Ainda na fase de testes, o projeto deverá usar em torno de 4 a 5 toneladas de casca de coco para produzir biocarvão. O resíduo vem do litoral oeste do Ceará, sobretudo, da região de paraipaba, bem como do centro de Fortaleza.

Além do Ceará, outros estados também têm tentado fazer uso da casca de coco para produzir energia. O Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (NUESC) do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) de Aracaju usa o resíduo para a produção de combustível. A ideia busca converter a lignocelulose, presente na fibra do coco, em etanol a partir de processos mecânicos semelhantes ao usados na UECE.

Similar ao que está sendo feito em Aracaju, pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia Aplicada ao Agronegócio da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) desenvolveram uma tecnologia que usa a casca do coco para a produção de etanol de segunda geração. Em 2021, a equipe registrou a patente da tecnologia no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

Oportunidades na casca de coco

As iniciativas de reuso dos resíduos deixados pelo plantio do coco não beneficiam apenas o meio ambiente, elas também promovem a chamada economia circular. Os projetos, mesmo que de maneira indireta, promovem uma valorização das cascas de coco, aumentando o potencial dele na economia circular, transformando a casca de coco em produtos de valor agregado nas mais diversas aplicações, tanto nas indústrias, como na agricultura e na geração de energia.

Na avaliação de Maria Urbana da Embrapa Tabuleiros Costeiros, o desenvolvimentos de projetos e o incentivo pelo aproveitamento de cascas de coco também podem gerar um impacto social e econômico na geração de emprego e renda. “As cooperativas podem construir suas próprias usinas de beneficiamento e podem trabalhar em parceria com os pequenos produtores de coco, sendo fornecedores dessas cooperativas, realizando trocas de cascas por adubos orgânicos e comércio entre eles. Tudo isso gera emprego e renda”, afirma a pesquisadora que ainda comenta sobre os possíveis impactos econômicos. “A geração e comercialização de novos produtos nas diversas linhas de aproveitamento desses resíduos vai gerar novos lucros tanto para a cooperativa quanto para os pequenos produtores. Além disso, o uso de adubos orgânicos barateiam os custos de produção, impactando positivamente a economia e o solo.”

Apesar dos grandes benefícios resultantes do reuso da casca de coco, há inúmeros desafios para a realização dos mesmos, principalmente em termos de escala e logística para levar o produto (as cascas) até os centros de beneficiamento. Maria Urbana conta que primeiramente é preciso fazer um planejamento para a coleta das cascas de acordo com a época de colheita dos frutos, que normalmente são feitas em intervalos de seis a oito meses para o coco verde e de 11 a 12 meses para o coco seco. Outro ponto importante a ser observado é o raio de coleta de cascas em relação ao local de reciclagem pensando no melhor custo benefício para a produção.

Não há dúvidas que projetos inovadores como os realizados no Ceará, Sergipe e Espírito Santo são alternativas positivas para transformar o problema gerado pelos resíduos da casca de coco em soluções energéticas. Nesse sentido, é de grande importância o desenvolvimento de políticas públicas que incentivem e permitam a instalação de novas indústrias de reciclagem.

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