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10 de outubro de 2025 14:07

Segurança hídrica segue como prioridade na Paraíba, que garante novo aporte internacional para ampliar abastecimento

Segurança hídrica segue como prioridade na Paraíba, que garante novo aporte internacional para ampliar abastecimento

Com 90% do território no semiárido, estado reforça investimentos em infraestrutura hídrica e garante R$430 milhões do NDB para construção de novas adutoras
Parte dos recursos do Banco dos Brics será destinada ao Sistema Adutor Curimataú | Foto: Governo da Paraíba-Divulgação

A convivência com a seca é um desafio antigo para os paraibanos — e deve continuar sendo nos próximos anos. É o que reforça o secretário de Estado da Infraestrutura e dos Recursos Hídricos, Deusdete Queiroga, ao lembrar que mais de 90% do território paraibano está localizado em área de semiárido. Para enfrentar essa realidade, o estado tem investido de forma constante em obras de captação, transporte e distribuição de água. A mais recente conquista nesse sentido é a liberação de R$430 milhões por meio de um financiamento com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco dos Brics.

Os recursos serão destinados à construção de novas adutoras e redes de abastecimento, dentro do Programa de Segurança Hídrica da Paraíba (PSH-PB), beneficiando cerca de 2 milhões de pessoas. “Assegurar o fornecimento de água para a população tem sido, e continuará sendo por muito tempo, um grande desafio para a Paraíba e para o Nordeste como um todo”, afirma o secretário.

Adutoras do sertão paraibano ampliam cobertura hídrica no semiárido

Com o novo financiamento, duas grandes obras estruturantes ganham fôlego: a segunda etapa da adutora que abastece a região do Curimataú e a construção de uma nova adutora para atender o município de Catolé do Rocha, no sertão paraibano. Ambas utilizarão água captada de rios que passaram a ter fluxo permanente graças à transposição do Rio São Francisco.

“Quando surgiu a oportunidade de parceria com o Banco do Brics, a gente já tinha um financiamento voltado à segurança hídrica com o Banco Mundial. Em contato com o NDB, surgiu a chance de viabilizar um novo financiamento. O Governo do Estado, com decisão do governador João Azevêdo, optou por direcionar esse recurso para duas adutoras importantes”, explica Queiroga.

Obras previstas pelo Projeto de Segurança Hídrica da Paraíba (PSH-PB)

 

A distribuição da água ficará a cargo da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA), que atua com melhorias contínuas na rede de abastecimento. Segundo o secretário, a infraestrutura precisa acompanhar as características do clima e do solo. “Um pouco mais de 90% do nosso território está no semiárido, o que exige investimentos permanentes na captação e no transporte de água por meio de adutoras, além da melhoria na distribuição feita pela CAGEPA”, ressalta.

Parceria internacional fortalece política hídrica

O financiamento foi aprovado pelo Senado Federal em fevereiro deste ano e integra uma estratégia mais ampla de ampliação da infraestrutura hídrica da Paraíba. A assinatura do contrato com o NDB aconteceu no início deste mês, na sede da instituição em Brasília, com a presença de representantes do banco e do governo estadual.

“O objetivo foi justamente complementar algumas obras de distribuição de água dentro do Estado com esse financiamento do Banco Mundial e do NDB”, conclui Queiroga.

Criado pelos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o NDB tem como missão financiar projetos sustentáveis em países em desenvolvimento, com ênfase em infraestrutura e inclusão social.

Nordeste concentra maioria dos investimentos federais em segurança hídrica

A Paraíba integra o grupo de estados nordestinos que têm priorizado obras estruturantes para enfrentar os efeitos das estiagens prolongadas. De acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em 2024 o Nordeste concentrou mais de 60% dos investimentos públicos federais em segurança hídrica.

Em resposta aos questionamentos do Investindo Por Aí, a ANA reforça que a segurança hídrica no Semiárido brasileiro — com destaque para a Paraíba — ainda enfrenta obstáculos históricos que exigem atenção estratégica contínua.

Segundo o Índice de Segurança Hídrica (ISH) municipal, desenvolvido pela ANA em parceria com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), grande parte dos municípios nordestinos apresenta níveis baixos ou mínimos de segurança hídrica, reflexo direto da escassez persistente na região. No caso específico da Paraíba, os indicadores permanecem frágeis, o que justifica a priorização de projetos como os previstos no Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH).

Esses investimentos incluem adutoras, barragens e sistemas integrados de abastecimento. Além de ampliar a oferta de água, essas obras fortalecem a resiliência do estado diante da intensificação dos eventos climáticos extremos.

Mudança climática amplia urgência por adaptação

Além do contexto histórico, há uma nova camada de complexidade imposta pelas mudanças climáticas. Um estudo inédito publicado pela ANA em 2024, que analisou mais de 120 cenários climáticos e hidrológicos em alta resolução, identificou uma tendência de redução da disponibilidade hídrica em 10 das 12 regiões hidrográficas brasileiras — incluindo o Semiárido.

A análise projeta quedas de até 40% na disponibilidade de água em rios estratégicos para a região, como o São Francisco, o Paraíba, o Piranhas-Açu e o Jaguaribe, até 2040. Essa queda tende a impactar o abastecimento humano, a agricultura irrigada e os ecossistemas locais.

No caso da Paraíba, municípios aparecem classificados como de impacto “Emergencial” e “Crítico” no cruzamento entre os níveis de segurança hídrica e os cenários futuros de mudança climática, conforme mapeamento da ANA para o Plano Nacional de Adaptação (PNA).

Classificação do impacto potencial da mudança do clima na disponibilidade hídrica em 2040 nos rios e municípios

Foto: ANA

Segundo os técnicos da agência, esses dados evidenciam a necessidade urgente de ações de adaptação. Eles também destacam que a maioria das obras previstas para a Paraíba no âmbito do PNSH pode ser considerada de “baixo arrependimento” — ou seja, investimentos que se justificam mesmo em cenários climáticos menos extremos, dada a vulnerabilidade estrutural do estado.

Acesso à água e justiça climática

Os investimentos hídricos também têm implicações sociais. Com cerca de 48% da população vivendo em áreas suscetíveis à escassez de água, segundo o IBGE, a Paraíba depende de ações robustas para garantir a regularidade do abastecimento. No semiárido nordestino — que cobre mais de 80% do território paraibano —, a expansão de adutoras e reservatórios é vista como uma estratégia essencial para o desenvolvimento econômico e a equidade no acesso à água.

A ANA conclui que essas obras não apenas elevam o nível de segurança hídrica no curto e médio prazo, como também são fundamentais para promover a justiça climática em territórios historicamente vulneráveis.

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