Um dos principais desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o desperdício de recursos provocado por falhas na Atenção Primária à Saúde (APS). Uma pesquisa publicada em 2017 no Journal of Bioeconomics and Sustainability apontou que ineficiências como o absenteísmo de pacientes resultam em perdas de aproximadamente R$ 35,8 bilhões ao orçamento público. Situação que foi novamente destacada em 2023, durante o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, quando estudos comparativos reforçaram a necessidade de modelos de gestão mais integrados e participativos para melhorar o desempenho do sistema.
Foi nesse cenário que nasceu a DHF, uma startup paraibana criada em 2021 com o propósito de oferecer soluções tecnológicas que ajudem a otimizar a gestão pública em saúde. Com atuação no modelo SaaS (Software as a Service) e voltada ao setor B2G (Business to Government), a empresa desenvolveu uma plataforma de gerenciamento inteligente, capaz de adaptar-se à realidade de cada município.
Da sala de aula ao impacto social
A ideia surgiu a partir de uma disciplina acadêmica de empreendedorismo e inovação cursada por Wânderson Pio, hoje CEO da DHF, que contou com o apoio de Arthur Alcântara (CTO) e Mateus Cunha (CXO). Durante o curso, o grupo analisou a operação de uma instituição de saúde em Campina Grande (PB) e identificou problemas recorrentes, como altos índices de faltas em consultas, longas filas de espera, desperdício de recursos e falhas de comunicação.
“Esses gargalos não apenas geravam prejuízos financeiros, mas também comprometiam a saúde da população, com casos de diagnósticos tardios e agravamento de doenças. Percebemos que havia urgência em criar uma solução capaz de organizar dados, melhorar a comunicação e colocar a experiência do paciente no centro da gestão”, relembra Pio.
Inovação na gestão municipal
A startup atua em duas frentes principais: gestão pública e atendimento ao cidadão. Para as secretarias de saúde, a DHF oferece um sistema integrado que organiza as unidades municipais, fornece dados em tempo real sobre filas de espera, monitora a qualidade dos serviços, disponibiliza dashboards inteligentes e utiliza inteligência artificial para identificar padrões e propor soluções mais assertivas.
Para a população, a empresa criou a assistente virtual Celina – nome inspirado na epidemiologista brasileira Celina Turchi, reconhecida por sua pesquisa sobre o vírus Zika. Disponível 24 horas via WhatsApp, ela permite agendar consultas e exames, receber lembretes, avaliar serviços e acessar campanhas personalizadas, tornando o contato com a saúde pública mais simples e acessível.
Resultados já perceptíveis
Em apenas quatro meses de atuação em Cabaceiras, município paraibano com pouco mais de 5 mil habitantes, a DHF conseguiu reduzir em 18% o absenteísmo. Isso significou mais vagas liberadas nas agendas, maior eficiência no uso de recursos e uma melhora significativa na percepção da população: 83,4% dos usuários classificaram a ferramenta como boa ou ótima, destacando a praticidade do atendimento via WhatsApp. Entre os gestores, a aprovação foi unânime, reforçando a ideia de que soluções digitais podem trazer ganhos concretos para a saúde pública.
Segundo Pio, a comunicação eficiente é chave para quebrar o ciclo de agendas desorganizadas e diagnósticos tardios. “As causas das faltas vão além do esquecimento; envolvem fatores sociais, culturais e econômicos. Por isso, é essencial que gestores tenham dados estruturados para tomar decisões mais assertivas. Nosso papel é oferecer essas ferramentas”, conclui.