A chegada da Ferrovia Transnordestina ao polo gesseiro de Pernambuco tem potencial para reduzir custos logísticos, aumentar a competitividade do setor e atrair novos investimentos para o Sertão do Araripe. O tema esteve no centro do seminário Conexões Transnordestina, realizado na última quinta-feira (14) pelo portal Movimento Econômico, reunindo em Araripina lideranças públicas, empresariais e comunitárias.
A Sudene, principal financiadora do traçado por meio do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), participou do encontro. O investimento conecta Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE) e deverá incluir, futuramente, o ramal até o Porto de Suape (PE), projeto sob responsabilidade do Governo Federal com recursos do Orçamento Geral da União. Para a autarquia, a ferrovia é estratégica para impulsionar cadeias produtivas do interior nordestino, em especial a indústria do gesso.
“A Transnordestina vem para aumentar a competitividade do gesso produzido no polo. A complementação modal é essencial para adequar a logística e reduzir custos operacionais. Ouvir agentes públicos, privados e representantes da sociedade faz parte da atuação da Sudene para impulsionar avanços de infraestrutura que geram desenvolvimento”, destacou José Farias, economista e coordenador-geral de Estudos e Pesquisas da autarquia.
Um polo de peso nacional
O trecho da ferrovia financiado pela Sudene passa por Trindade, município que integra o polo gesseiro do Araripe. A região concentra 510 indústrias, sendo 55 mineradoras, 185 beneficiadoras e calcinadoras e 270 fábricas de pré-moldados e artefatos. O polo responde por 95% da produção nacional de gipsita, gesso e derivados, com reservas de alta pureza. Reconhecido como Arranjo Produtivo Local (APL), o setor emprega 3.582 trabalhadores diretamente e gera mais de 14 mil empregos indiretos, segundo o Sindusgesso.
Porto seco e gás natural no horizonte
Entre as propostas discutidas no seminário, ganhou destaque a criação de um porto seco no Araripe, estrutura intermodal que integraria ferrovia e rodovias, com espaço para armazenamento, transbordo de cargas e desembaraço aduaneiro. Para Daniel Torres, presidente da Agência do Desenvolvimento Econômico e Social do Araripe (Adesa), a iniciativa pode consolidar a região como hub logístico.
“Estamos numa posição estratégica, próximos a Teresina, Fortaleza e Recife, além da região do Matopiba e de polos agroindustriais. O porto seco será peça-chave para reduzir custos e ampliar o fornecimento de gipsita, calcário, gesso e outros produtos”, afirmou.
Outro ponto debatido foi o transporte ferroviário de gás natural liquefeito (GNL). A Copergás anunciou intenção de estruturar o fornecimento já em 2026, o que garantiria uma matriz energética mais competitiva ao polo. A estimativa é de consumo diário de 320 mil metros cúbicos de gás apenas pelo setor gesseiro.
Um setor que busca modernização
Para o presidente eleito do Sindusgesso, Joberth Granja de Araújo, a ferrovia será decisiva para modernizar a cadeia produtiva.
“Temos o gesso como principal atividade da região. A ferrovia é essencial não só pela logística, mas também para diversificar a matriz energética. O mundo está atento a esse debate e precisamos discutir mudanças estruturais em conjunto”, ressaltou.
Um projeto de país
Autoridades estaduais e municipais também reforçaram o caráter estratégico da obra. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, afirmou que a Transnordestina pode multiplicar por dez o volume de produção do polo. Já o prefeito de Araripina, Evilásio Mateus, destacou a necessidade de união: “O que for bom para Pernambuco é motivo de convergência”.
Segundo André Luís Ludolfo, diretor de Empreendimentos da Infra S.A., o cronograma prevê editais ainda neste semestre para contratação das empresas que atuarão nos trechos Custódia–Arcoverde e Cachoeirinha–Belém de Maria. A previsão é de início das obras no primeiro trimestre de 2026 e conclusão total da ferrovia até 2029, com investimentos estimados em R$ 3,5 bilhões.
O ciclo Conexões Transnordestina, que já passou por Salgueiro, Petrolina e Araripina, seguirá para Belo Jardim, Caruaru, São Bento do Una e Recife. O objetivo é manter o diálogo com as comunidades impactadas pela ferrovia e ampliar o debate sobre seus impactos econômicos e sociais.