O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), mais conhecida como transposição do Rio São Francisco, ganhou contornos importantes, podendo beneficiar milhões de nordestinos em situação de vulnerabilidade hídrica. Na última semana de maio, uma comitiva liderada pelo presidente Lula e pelo ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, visitou os estados da Paraíba e de Pernambuco para fazer vistorias de obras da jornada do Caminho das Águas.
A transposição do Rio São Francisco não é algo novo. Considerada a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil e da América Latina, o PISF foi lançado oficialmente em junho de 2007 com a meta de beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios e 294 comunidades rurais. Atualmente o projeto é composto por 477 km de extensão, organizados em dois eixos de transferência de água: Norte com 260 quilômetros, e Leste com 217. Ao todo, incluindo sistemas complementares de distribuição de recursos hídricos, os investimentos já passaram dos R$12 bilhões.
Porém, além dos grandes canais de transposição do “Velho Chico”, há outros projetos de segurança hídrica espalhados pelos sertões da Bahia, Alagoas, Piauí e Maranhão, formando o Caminho das Águas. As medidas incluem, por exemplo, adutoras, ramais e reservatórios. De acordo com o governo federal, somando estudos e programas em andamento, são mais de 70 ações, todas inscritas no Novo PAC.
Com a capacidade de beneficiar milhões de nordestinos, o presidente Lula falou, durante evento realizado em Salgueiro (PE), da importância da transposição do Rio São Francisco.
“A transposição das águas do Rio São Francisco tinha como objetivo dar aquilo que Deus dá a todo mundo, que é um copo de água para beber para 12 milhões de pessoas que viviam no semiárido brasileiro. E por que tomei a decisão de fazer as obras do Rio São Francisco? É porque sei o que é ir para um açude sujo pegar água para beber.”
Além de ser um direito fundamental, o acesso à água tem o poder de desenvolver a região economicamente. O professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba, Cássio Besarria, falou como a água pode ser um elemento importante para a economia.
“A água, além de necessária para a vida, ela acaba sendo um insumo importante para a produção agrícola e para a produção industrial. Quando há ausência de água, dificilmente municípios ou estados vão conseguir atrair empresas ou ter um desenvolvimento agrícola sustentável. Então a transposição, além de garantir a vida, ela também tem o potencial de atrair empresa e de renda. Além disso, quando você instala empresas ou produção agrícola em determinado local, acaba fixando pessoas, evitando migração, gerando empregos e renda, além de atrair outros serviços.”
Vistorias no Caminho das Águas
No dia 25 do último mês, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, iniciou uma série de inspeções técnicas em todo o Caminho das Águas. Além das visitas realizadas pela comitiva presidencial, a vistoria deve percorrer trechos do PISF nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará também no mês de junho.
A primeira visita realizada foi no município de Cabrobó (PE), onde marca o início dos 260 km de extensão percorridas pelo Eixo Norte do PISF. O trecho, que é responsável por levar água a 237 municípios em quatro estados do Nordeste e beneficiando cerca de 8,1 milhões de pessoas, passará por uma duplicação na estação de bombeamento (EBI-1), passando de 24,8 m³/s para 49m³/s com a instalação de quatro conjuntos. Ainda no estado de Pernambuco, a comitiva seguiu para Terra Nova para acompanhar a aplicação das águas do PISF na agricultura irrigada.
Na segunda-feira (26) houve a inauguração do sistema de abastecimento de água em Mauriti (CE). Ao todo são 24 sistemas, dos quais 16 já foram entregues. Os investimentos foram de R$126,1 milhões, sendo R$112,4 milhões de responsabilidade do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional e R$13,3 milhões do estado. Segundo a comunicação do governo, esse sistema beneficia 32 mil pessoas nas comunidades rurais da Palestina e de Anauá.
Já na terça-feira (27), o ministro Waldez Góes visitou as obras do Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Com uma vazão de 30 m³/s, o objetivo do projeto é aumentar a oferta de água para 5 milhões de pessoas nas cidades de Fortaleza, Juazeiro do Norte e aquelas que são abastecidas pelos açudes Orós e Castanhão. A obra, que já possui um investimento superior a R$2 bilhões, está sendo realizada pelo estado do Ceará, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/CE) e está com 83,49% de execução. A previsão é que o CAC seja concluído até o fim deste ano.
Por fim, o último dia da comitiva (28) contou com a presença do presidente em dois momentos. O primeiro deles foi em Salgueiro (PE), em que Lula participou de uma assinatura de ordem de serviço de R$491,3 milhões para duplicar a capacidade de bombeamento de água.
Ainda no mesmo dia houve a entrega do 1º trecho do Ramal do Apodi, na Barragem Redondo, no sertão da Paraíba. A obra possui vazão de 40 m³/s e possui 115,5 km de extensão, ligando a Barragem do Caiçara (PB) à Barragem Angicos (RN). As obras, iniciadas em 2021 com um investimento de 1,45 bilhão de reais, atualmente estão 74,83% concluídas e só devem ser entregues em outubro de 2026. A expectativa é que o ramal beneficie 750 mil pessoas em 54 cidades entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte.