O uso de bioinsumos, produtos de origem biológica utilizados na nutrição e proteção de plantas, registrou um crescimento expressivo de 13% na safra 2024/2025, segundo um levantamento feito pela CropLife Brasil (CLB) em parceria com a consultoria Blink. No Nordeste, esse cenário se torna ainda mais relevante, uma vez que os produtores da região vem intensificando a adoção de práticas sustentáveis em resposta aos desafios ambientais e às exigências do mercado internacional.
“O Brasil é uma das agriculturas mais competitivas do mundo e a maior agricultura tropical do planeta. Essa liderança se deve ao avanço tecnológico que tivemos nos últimos 50 anos, fruto da pesquisa e desenvolvimento promovida por empresas públicas e pela indústria nacional”, afirma Amália Borsari, diretora de Bioinsumos na CropLife Brasil.
Agricultura sustentável em solo nordestino
Na região Nordeste, onde os solos são arenosos, há baixa matéria orgânica e períodos prolongados de estiagem, os bioinsumos têm se mostrado ferramentas eficazes para elevar a produtividade e garantir estabilidade na produção. “A crescente adoção de bioinsumos no Nordeste está diretamente ligada ao dinamismo das exportações de frutas, algodão e à demanda global por produtos com resíduos reduzidos”, explica Borsari. “Além disso, esses produtos melhoram a estrutura e a fertilidade do solo, aumentam a retenção de água e elevam a tolerância das plantas à seca.”
Essa resposta técnica à realidade climática do Nordeste posiciona os bioinsumos como aliados estratégicos para culturas cultivadas sob condições adversas. Segundo o levantamento, o ganho com o uso desses produtos é especialmente expressivo em cultivos como cana-de-açúcar e algodão, em sistemas de monocultura extensiva. “Nesses cenários, os produtos biológicos podem acelerar a recuperação do equilíbrio biológico do solo e aumentar a tolerância ao estresse abiótico (alta temperatura e seca). O restabelecimento do microbioma do solo gera efeitos diretos e duradouros”, destaca a especialista.
Culturas mais beneficiadas e distribuição regional
O estudo da CropLife Brasil mostra quais são as culturas mais beneficiadas pelo uso dos bioinsumos no Brasil. A soja, por exemplo, lidera o ranking, com 62%, seguido do milho (23%), cana-de-açúcar (10%), e algodão, café, citrus e HF (6%).
Na distribuição regional, o maior uso de bioinsumos agrícolas concentra-se no Mato Grosso, com 34%. Em seguida, vem Goiás/DF (12%), São Paulo (10%), Paraná (8%), Mato Grosso do Sul (8%), Minas Gerais (7%), Rio Grande do Sul (5%), Bahia (4%), Tocantins (4%), Maranhão (3%) e demais estados com 5%.
Integração com o manejo de pragas
Outro ponto-chave para o crescimento sustentável da agricultura nordestina é o manejo integrado de pragas e doenças (MIP). Nesse modelo, os bioinsumos têm papel fundamental, pois não apenas controlam pragas e doenças, como também promovem o equilíbrio biológico do solo e contribuem para o desenvolvimento saudável das plantas.
“Os bioinsumos são ferramentas importantes no MIP, pois atuam como aliados no controle de pragas, reduzindo a dependência de defensivos químicos. Isso traz impactos positivos tanto para o meio ambiente quanto para os custos da produção”, afirma Borsari. A diretora ressalta ainda que a combinação equilibrada entre defensivos e bioinsumos tem sido uma das chaves para o sucesso da produção agrícola brasileira, especialmente em regiões de clima mais extremo como o Nordeste.
Inovação e políticas públicas como vetores de expansão
O avanço tecnológico também tem sido determinante para ampliar a adesão dos produtores aos bioinsumos. A pesquisa nacional vem se fortalecendo com produtos cada vez mais seguros e eficazes, ampliando a confiança dos agricultores e incentivando a adoção em larga escala.
“A ampliação da demanda proporcionou um aumento da oferta e o crescimento do mercado. Mas, para avançarmos ainda mais, é essencial o fomento à inovação por meio de políticas públicas bem definidas, com clareza de regras para a produção e comercialização da tecnologia”, observa a diretora da CropLife.
Esse é justamente um dos pilares do projeto Bioinsumos do Brasil, iniciativa lançada em junho de 2025 pela CropLife Brasil em parceria com a ApexBrasil. A proposta visa consolidar o país como referência global em soluções agrícolas baseadas na natureza e expandir a presença de empresas brasileiras no mercado internacional.
“O projeto pretende fortalecer a posição do Brasil no cenário global e impulsionar a sustentabilidade da agricultura e da agroindústria nacional. Entre os mercados-alvo estão países como Argentina, Chile, México, além dos Estados Unidos e da União Europeia”, detalha Borsari. Segundo ela, o projeto chega em um momento estratégico, às vésperas da COP 30, sediada no Brasil, quando o país busca reafirmar seu compromisso com práticas agrícolas sustentáveis.
O futuro verde da agricultura nordestina
Com apoio institucional e avanço da ciência aplicada ao campo, o uso de bioinsumos no Nordeste se consolida como um vetor de modernização da agricultura regional. Os ganhos são múltiplos: do aumento da produtividade à valorização da produção no mercado internacional, passando por uma menor pressão sobre o meio ambiente.
Além disso, mais do que uma tendência, trata-se também de uma resposta concreta aos desafios de um setor que precisa se adaptar rapidamente às mudanças climáticas e à crescente demanda global por alimentos seguros, sustentáveis e rastreáveis.
“O produtor nordestino está cada vez mais preparado e disposto a adotar soluções inovadoras. Os bioinsumos são parte de um novo paradigma da agricultura — mais resiliente, eficiente e conectada às demandas de um mundo em transição”, finaliza Amália Borsari.