GUILHERME GUILHERME para Exame Invest
Depois de a pandemia ter alavancado em 2020 as vendas digitais (e as ações) das principais varejistas do país, 2021 foi um ano para os acionistas de Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) esquecerem. Os papéis das três companhias caíram para menos da metade do valor e estão entre as piores performances do Ibovespa no ano.
Inflação e juros correntes e futuros muito acima do que havia sido projetado no início do ano, com reflexo na atividade abaixo do esperado também, ditaram o ritmo da bolsa em 2021. Houve ainda incertezas sobre a política fiscal por parte do governo, com mudanças no teto de gastos, além do aumento da concorrência de players estrangeiros.
Esses fatores somados pressionaram ainda mais as ações do setor de varejo ao longo do ano e, principalmente, a partir de agosto. Os balanços trimestrais tampouco animaram investidores: a redução do nível de crescimento no e-commerce afetou o apetite então crescente que os investidores haviam demonstrado sobre o setor no ano anterior.
Desempenho acumulada no ano (até 28/12):
Magazine Luiza (MGLU3): – 72,83%
Via (VIIA3): – 69,93%
Americanas (AMER3): – 57,81%
Mas, após tamanha desvalorização, a dúvida no mercado é se as ações das maiores varejistas do país conseguirão se recuperar em 2022. Ainda que investidores vejam o e-commerce como uma tendência secular, analistas do BTG Pactual mantiveram de fora Via, Magalu e Americanas de sua carteira recomendada de curto prazo (até 3 meses).
Para a carteira de 2022, a preferência foi pelas ações do Mercado Livre (MELI) negociadas na Nasdaq. Embora a empresa tenha grande exposição ao Brasil, ostenta maior diversificação geográfica na América Latina — o que pode se mostrar uma vantagem no próximo ano, marcado pelas incertezas eleitorais no país.
Em 2021, a empresa argentina também se mostrou mais resiliente que suas concorrentes no e-commerce brasileiro, caindo apenas 20% na Nasda. Em reais, os BDRs do Mercado Livre (MELI34) acumulam perdas menores, de 15%.
Tendência secular
Para o longo prazo, porém, analistas do BTG Pactual seguem otimistas com a possibilidade de Magazine Luiza e Americanas estarem entre as vencedoras do “ciclo virtuoso” do e-commerce brasileiro.
Até 2025, a expectativa do BTG é a de que as vendas digitais no Brasil saltem de 220 milhões de reais, em 2021, para 505 milhões de reais. Ao menos no curto prazo, porém, esse crescimento deve ser acompanhado de um cenário de concorrência intensa, com empresas brasileiras e estrangeiras brigando pelos mesmos consumidores.
“Os vencedores devem promover mais engajamento do usuário por meio de investimentos em conteúdo, maior variedade de produtos (e serviços) e melhorias contínuas no nível de serviço, o que significa maior monetização do GMV [volume bruto de mercadorias transacionadas no marketplace]”, afirmam os analistas do BTG Pactual em relatório.
Pelas projeções de analistas da casa, Magazine Luiza, Americanas e Mercado Livre responderão por 82,5% de todo o e-commerce brasileiro até 2025. Em 2020, a fatia de mercado somada dessas três empresas foi de 60%.
Segundo as estimativas, proporcionalmente, o maior ganho de mercado deve ficar com o Magalu, que, até a metade da década, deve crescer de 16,4% para 23,8% do total. Para 2022, a expectativa é que a fatia chegue à casa dos 20%.
Upside atrativo
Espera-se que tal crescimento seja acompanhado pelo preço das ações, para o qual analistas do BTG Pactual projetam alvo de 16 reais para os próximos 12 meses. Isso representa um potencial de alta de quase 140%. Ou seja, em 2022, as ações do Magalu podem subir mais do que os 102% de 2020 — com a ressalva de que o preço ainda ficaria abaixo do patamar de 24 reais alcançado no início de 2021.
Para a Americanas, as expectativas são um pouco menos otimistas. Embora mantenham a recomendação de compra para o papel no longo prazo, os analistas do BTG Pactual enxergam um potencial de alta de 40% – inferior ao upside para as ações da Via, de cerca de 60% e para as quais os analistas têm recomendação neutra.
A maior cautela em relação à dona da Casas Bahia e do Ponto se deve a preocupações com “perspectiva competitiva, superexposição ao segmento de eletrônicos/eletrodomésticos e incertezas com relação às provisões futuras e monetização de créditos fiscais em seu balanço patrimonial”. Em balanço do terceiro trimestre, a companhia dobrou as provisões trabalhistas para 2,5 bilhões de reais, gerando perdas de até 10% nos papéis após essa divulgação.
A maior percepção de risco envolvendo as ações da Via é compartilhada por outros agentes do mercado. Em levantamento do TradeMap com 13 especialistas entre corretoras e casas de análises, somente 3 recomendam a compra das ações da Via, enquanto 9 de 16 recomendam comprar ações da Magazine Luiza, e 8 de 15, da Americanas.