Por Correio da Bahia
A Refinaria de Mataripe deve receber este ano um volume de investimentos de R$ 1,1 bilhão por parte da Acelen, empresa do fundo Mubadala, que comprou a unidade de refino da Petrobras no ano passado. O volume de recursos é 2,5 vezes maior que o anteriormente disponibilizado anualmente quando a refinaria fazia parte do Sistema Petrobras, de acordo com o CEO da Acelen, Luiz de Mendonça.
“Na química orgânica, a gente aprende que é possível combinar o carbono de C2 até C22, incluindo-se também a mistura com outros elementos da tabela periódica. Nós queremos preparar a refinaria para produzir tudo o que for possível”, explicou o executivo da Acelen, na terça-feira (5), durante a assinatura de dois contratos com o Senai Cimatec para a capacitação de profissionais e de inovação tecnológica, com um investimento somado de R$ 8,6 milhões.
De acordo com o executivo, o volume de investimentos previstos para este período é um sinal de que a empresa chega à Bahia para ficar. “Este é apenas o nosso primeiro ativo, mas não será o único. A refinaria é importante porque será uma vitrine das nossas capacidades”, destacou Mendonça.
“Desde o início deste processo, nós tínhamos o compromisso de ter o nosso centro de inovação aqui na Bahia”, contou Luiz de Mendonça. Ele destacou a importância da parceria. “Queremos aprofundar as nossas raízes aqui e tendo um parceiro como o Senai fica muito mais fácil”, avaliou.
No contrato para a capacitação de pessoal, está previsto um investimento de R$ 4,6 milhões na formação de técnicos de operação e manutenção para o refino privatizado. O projeto prevê editais para a seleção dos alunos. O primeiro foi aberto na terça-feira, com 350 vagas para capacitação de técnicos em refino e contará com 216 horas de aulas. Além deste, outro edital será lançado em agosto, com a oferta de 30 vagas para capacitação em manutenção.
Já o segundo contrato, no valor de R$ 4 milhões e com prazo de três anos, será voltado para inovação e tecnologia com foco no desenvolvimento de soluções com grande impacto na competitividade industrial e eficiência no uso dos recursos naturais. As soluções serão desenvolvidas pelo Senai Cimatec com a participação da equipe Acelen. Já foram mapeadas iniciativas relacionadas com eficiência hídrica, novas tecnologias de análise laboratorial, automação e indústria 4.0.
Balanço
Luiz de Mendonça avaliou as dificuldades enfrentadas pela empresa nos últimos sete meses e destacou que, para a Acelen, o saldo é positivo. “Aqui é a nossa casa e vamos investir cada vez mais para tornar a Refinaria de Mataripe um símbolo na produção tecnológica mundial”, afirmou. O executivo comparou o início da operação privada da unidade de refino com o que ele viveu na indústria petroquímica.
“Quando a Petrobras vendeu as unidades petroquímicas para a formação da Braskem havia os mesmos questionamentos que temos hoje, eu estava lá. E agora, quando vemos o quanto aquela indústria evoluiu, percebemos que tratou-se de uma decisão acertada. Criou-se uma indústria de ponta que traz valor para o Brasil. Este é o caminho que enxergamos para a Acelen”, acredita.
Hoje, a Acelen opera com 350 funcionários próprios e tem pré-contratos assinados com 300 trabalhadores que atualmente estão na Petrobras.
Segundo Mendonça, o primeiro semestre de 2022 foi marcado por “muita turbulência” internacional”. Ele defendeu a política de preços adotada pela empresa. “Não existe um mercado mais mundial que o de petróleo e gás. Nós temos que nos posicionar levando em conta todos os fatores, mas posso garantir que nós não perdemos vendas”, afirma, garantindo que a empresa pratica preços competitivos.
Mendonça contou que atualmente a Acelen compra petróleo no Brasil por um preço acima do mesmo produto que é destinado à exportação. “Existe um custo Brasil que torna mais barato o óleo em Amsterdam do que aqui”, diz.
Para o CEO da Acelen, é papel dos governos oferecer medidas para atender os públicos mais afetados pelas oscilações nos preços dos produtos. “É normal, faz parte do ato de governar. Agora, o controle, o congelamento de preços, nunca deu certo em lugar nenhum”, pondera.
Incertezas
Segundo o presidente da Acelen, as constantes mudanças no comando da Petrobras, principal empresa de petróleo do Brasil, ou mesmo as eleições que se aproximam, não trazem qualquer tipo de preocupação para a empresa. Nem mesmo uma eventual vitória de candidaturas que prometem rever as privatizações na área de petróleo e gás. “Não temos que nos preocupar com nada disso. Quem investe em refino no mundo é a iniciativa privada. Eu não me permito comentar mais sobre o cenário político, mas acredito que o nosso projeto é bom para qualquer um que administre o Brasil”, defendeu.
Outra questão em que Luiz de Mendonça buscou trazer uma mensagem de tranquilidade foi em relação ao fornecimento de óleo diesel. Além da escalada nos preços do produto, nos últimos dias debates sobre o risco de falta do combustível ganharam espaço. “O mercado está abastecido. Nós, por exemplo, estamos batendo recordes de produção de diesel, e o país tem um nível de estoques que é saudável”, aponta. “Eu não considero que exista um risco de desabastecimento, desde que sigamos alinhados ao mercado internacional”.
Desenvolvimento econômico
O empresário Ricardo Alban, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), destacou a importância do posicionamento de mercado da Acelen para o desenvolvimento da economia na região. Para ele, o acordo entre a empresa e a Federação das Indústrias, para a formação de pessoal e desenvolvimento tecnológico, pode ser a base para o criar um novo vetor de crescimento econômico. “Nós não estamos mais falando de uma refinaria apenas, mas de uma empresa de energia, que vai gerar novas demandas e novas soluções”, destacou.
“A Acelen está renovando a nossa antiga refinaria e nós estamos satisfeitos por ela reconhecer a nossa competência para realizarmos este trabalho em conjunto, no desenvolvimento de pessoas e de tecnologia”, ressaltou Alban.
O presidente da Fieb falou sobre o papel que a empresa pode desempenhar no fomento da produção de petróleo em áreas terrestres (onshore), que é uma expertise baiana. Atualmente a Refinaria de Mataripe adquire 100% da produção onshore baiana e os planos da empresa são de manter isso. “A Acelen está se capacitando, entendendo o produto, e será uma alavancadora da produção em campos maduros (aqueles que já passaram do seu auge de produção) e encadeadora da produção onshore”, acredita.
Para Alban, a Bahia tem tudo para desenvolver um novo vetor de crescimento a partir da área energética. “Temos o potencial para produzir hidrogênio verde e cinza aqui na Bahia, porém não nos interessa que isto sirva apenas para engordar as nossas exportações, precisamos utilizar este potencial para descarbonizar a indústria brasileira”, defende.