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3 de outubro de 2024 16:10

Banco Central eleva Selic a 9,25%, e taxa básica de juros atinge o maior patamar em quatro anos

Banco Central eleva Selic a 9,25%, e taxa básica de juros atinge o maior patamar em quatro anos

Com a decisão, o choque de juros este ano chega a 7,25 pontos percentuais, o maior em quase 20 anos

Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
Para O Estado de São Paulo

Com a inflação sem dar trégua e a economia em recessão técnica, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por uma nova alta de 1,50 ponto porcentual da Selic – a taxa básica de juros -, nesta quarta-feira (8). A taxa subiu de 7,75% para 9,25% ao ano, conforme já havia indicado o Copom na última reunião, em outubro.

Foi o sétimo movimento consecutivo dos juros, após o BC cortar a taxa básica à mínima histórica (2%) em meio à pandemia de Covid-19. Nas seis reuniões anteriores, o BC havia subido a taxa em 0,75 ponto porcentual em três ocasiões, em 1 ponto nos encontros de agosto e setembro e em 1,5 ponto em outubro.

Com a decisão de dezembro, o choque de juros este ano chega a 7,25 pontos percentuais, o maior em quase 20 anos – desde o ciclo entre o fim de 2022 e o início de 2003. E a Selic alcançou o maior patamar desde setembro de 2017, quando estava em um ciclo de afrouxamento após alcançar 14,25% em meio à crise de 2015 e 2016.

A taxa está, portanto, no maior nível do governo Bolsonaro. Quando o presidente chegou ao poder, a taxa Selic estava em 6,50%.

Além de elevar a Selic mais uma vez em 1,5 ponto porcentual, o Copom sinalizou um novo aumento de mesma magnitude na próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano. Ainda assim, o colegiado deixou a porta aberta para uma ação ainda mais forte na taxa básica de juros e prometeu preservar essa possibilidade até que as projeções de inflação voltem às metas para os próximos anos.

“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, afirmou o BC em comunicado.

Se na reunião anterior o colegiado considerou apropriado que o ciclo de aperto seguisse em território “ainda mais” contracionista (isto é, com taxas de juros mais elevadas), agora o Copom avalia ser necessário avançar “significativamente” nesse território. O BC chamou a atenção para o risco de as expectativas de inflação ficarem acima da meta em prazos mais longos, a partir de 2023.

“O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, enfatizou o comunicado.

EFEITOS NA ECONOMIA

aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

Com a inflação em dois dígitos, a aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara e no Senado (que abre espaço no Orçamento para o novo Auxílio Brasil ao driblar o teto de gastos), e a economia em recessão técnica, a decisão de hoje era amplamente esperada pelo mercado financeiro.

A avaliação fiscal é que, embora as manobras patrocinadas pelo governo no teto de gastos (que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação) sejam negativas, a aprovação da PEC ao menos circunscreve o tamanho do estrago em 2022. Com todas as mudanças da PEC, um espaço de R$ 106,1 bilhões para gastos adicionais é aberto em 2022, ano eleitoral.

“Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, afirma o documento do Banco Central.

Na decisão desta quarta, o Copom reconheceu ainda que os últimos indicadores sobre a atividade vieram mais uma vez “moderadamente” abaixo do previsto e repetiu que a inflação ao consumidor continua elevada. “A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente”, completou o BC.

No cenário internacional, o Copom citou especificamente o aparecimento da variante Ômicron do novo coronavírus como um fator que adiciona incerteza sobre o ritmo de recuperação da economia mundial, diante da possibilidade de uma nova onda de covid-19 no inverno do Hemisfério Norte. “No cenário externo, o ambiente se tornou menos favorável. Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes”, destacou o comunicado.

JURO REAL

Com o último movimento de aperto monetário, o Brasil continuou a ter uma das maiores taxas de juros real (descontada a inflação) do mundo, mas perdeu o pódio para a Turquia (+5,83%), considerando as 40 economias mais relevantes.

Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em +5,03% ao ano. Na terceira posição, aparece a Rússia (+4,23%). A média dos 40 países considerados é de -1,13%.

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