Por Paulo Alves
Para Infomoney
O Bitcoin (BTC) abre a semana no vermelho após sell-off no fim de semana que provocou um mergulho de mais de 20% no preço da criptomoeda. Foi a maior queda desde maio deste ano, quando o Bitcoin caiu quase 27% em um dia, de mais de US$ 43 mil para menos de US$ 32 mil.
Na madrugada de sábado (4), o preço do ativo digital foi de cerca de US$ 53.200 para quase US$ 42.600 em algumas corretoras em menos de três horas. Desde então a moeda não caiu mais para menos de US$ 46 mil, mas tampouco conseguiu subir para além dos US$ 49.500. Às 7h13 de hoje, ela era negociada a US$ 47.604, em queda de 3,2% nas últimas 24 horas enquanto investidores aguardavam a direção das negociações de ações nos EUA.
O recuo abalou fortemente as demais criptomoedas, chamadas de altcoins. Pelo menos 20 entre as 100 com maior capitalização caem pelo menos 30% no acumulado da semana. A liquidação generalizada fez as criptomoedas perderem, em conjunto, mais de US$ 430 bilhões em valor de mercado, voltando para o patamar de US$ 2,33 trilhões hoje.
A Kadena (KDA), por exemplo, uma cripto desenvolvida por ex-executivos do JPMorgan, despencou mais de 40% desde sexta-feira. Além disso, Harmony (ONE), The Graph (GRT), THORChain (RUNE) e Gala (GALA), que foi o maior destaque de novembro com alta de quase 600%, desabaram entre 30% e 40% durante o final de semana.
Entre as 10 principais no ranking por capitalização, a que mais cai no momento é a Terra (LUNA), que cede quase 20%. Já Solana (SOL) e a Polkadot (DOT) operam em quase 9% negativos, para US$ 180 e US$ 25,67, respectivamente.
Especialistas não garantem que a liquidação tenha terminado. Segundo a casa de análise CryptoQuant, embora investidores de varejo não estejam se desfazendo de seus ativos, grandes detentores de Bitcoin (baleias) seguem depositando em corretoras, em movimento que aponta para a continuidade da realização de lucros no curto prazo.
Por outro lado, análise da firma de dados Glassnode revela que as vendas seriam em grande parte provenientes de investidores que compraram Bitcoin recentemente. Enquanto isso, os detentores de longo prazo, cujo humor costuma dar o tom da saúde do mercado, seguem majoritariamente imóveis.
Não há consenso entre especialistas sobre os motivos que levaram à queda, mas analistas concordam que as razões estariam ligadas uma conjunção de fatores dos mercados tradicionais aliados a condições específicas do mercado não-regulado de criptomoedas.
Uma das possibilidades aventadas é de que o cenário é resultado do movimento global de aversão ao risco que também afetou as bolsas, em meio ao receio de novos lockdowns provocados pela variante ômicron, além de novos temores pelo destino da Evergrande, na China.
O cenário teria sido combinado com alta alavancagem em derivativos de criptomoedas, especialmente nos contratos perpétuos, que visam operar no curto prazo com posições multiplicadas em até 100 vezes usando criptos alugadas. Na semana passada, a casa de análise Arcane Research já alertava sobre o aumento dos contratos em aberto mesmo em meio à queda nos preços.
“Os contratos em aberto de Bitcoin permaneceram acima de 365.000 BTC por mais de um mês”, escreveram os analistas. “Não é comum ver uma quantidade tão alta sendo sustentada por tanto tempo. Isso pode sugerir que o mercado está saturado de alavancagem”.
Estima-se que cerca de US$ 1 bilhão tenha sido liquidado de posições compradas enquanto o Bitcoin e outros ativos digitais despencavam na madrugada de sábado. Desde então, as taxas de juros cobradas por corretoras para o aluguel de criptos se mantêm no negativo, indicando pouco interesse na abertura de novas posições.
Por outro lado, o sell-off também pode ter sido catalisado pelo temor de uma regulação mais restritiva nos Estados Unidos após o atual presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), Gary Gensler, se encontrar com o antigo chefe do órgão, Jay Clayton, em um evento em Nova York. Ambos concordaram que, com exceção do Bitcoin, provavelmente todas as demais criptomoedas devam ser consideradas valores mobiliários, reportou o The New York Times.