Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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18 de abril de 2024 18:10

Como pagaremos nossas contas? Desafiando as velhas fórmulas de empreender e de se inserir no mercado de trabalho

Como pagaremos nossas contas? Desafiando as velhas fórmulas de empreender e de se inserir no mercado de trabalho

Um dos grandes desafios presentes para um país como o Brasil, ainda marcado por ampla desigualdade social, é tratar da inserção no mercado de milhões de jovens, desempregados e dos que estão sendo deslocados pelas tecnologias e novos modelos de negócios emergentes. Falo aqui não apenas no mercado de trabalho, através de atividade remunerada, mas também pelo empreendedorismo, onde criar seu próprio negócio ainda é a esperança de subsistência de milhões de brasileiros.

Um dos grandes desafios presentes para um país como o Brasil, ainda marcado por ampla desigualdade social, é tratar da inserção no mercado de milhões de jovens, desempregados e dos que estão sendo deslocados pelas tecnologias e novos modelos de negócios emergentes. Falo aqui não apenas no mercado de trabalho, através de atividade remunerada, mas também pelo empreendedorismo, onde criar seu próprio negócio ainda é a esperança de subsistência de milhões de brasileiros.

Empreender está cada vez mais desafiador, porém, vimos o número de pequenos negócios crescer nos últimos cinco anos. Mas sobreviver está ainda mais incerto. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional sobre sobrevivência de empresas, publicada em maio deste ano, aponta que Alagoas está entre os estados em que os pequenos negócios têm apresentado uma das menores taxas de sobrevivência após cinco anos de abertura. A menor taxa está entre os MEI e no setor de comércio. Para agravar, a maior parte dos que abriram negócios neste período ou estava desempregada antes de abrir o negócio ou abriu por necessidade. Não se preparou ou tinha pouca experiência no setor ou em gestão ou tiveram menor acesso à crédito. Os que fecharam em 2020, último ano considerado pela pesquisa, consideraram que a pandemia da COVID-19 foi determinante para o fechamento de seus negócios.

A pandemia, que ainda nos impacta, ampliou os desafios de superação de indicadores sociais negativos. Ainda que o auxílio emergencial, as linhas emergenciais de crédito e o programa de manutenção de emprego e renda tenham contribuído para que Alagoas tenha tido a contração de seu PIB minimizada (cerca de -1,4% comparada com -2,1% no Nordeste e -4,1% no país), é evidente que a reedição de medidas restritivas ao pleno funcionamento das atividades econômicas aprofundou níveis de endividamento, fragilizando, sobretudo, pequenos empreendimentos que formam a base da pirâmide socioeconômica. Num estudo recente, o professor Cícero Péricles mostra que a suspensão e os mecanismos de estímulo econômico já vêm impactando economias mais pobres como a de Alagoas, reduzindo renda, ampliando o desemprego e afetando, sobretudo, os pequenos empreendimentos.

Nesta coluna espero trazer contribuições sobre este duplo desafio que devemos todos enfrentar: o de contribuir para a inserção produtiva através do empreendedorismo e da abertura de pequenos negócios. Colaborar para a inserção no mercado de trabalho gerações de jovens e desempregados diante de uma economia que apresenta algumas oportunidades com enormes desafios, embora contemos com a boa notícia, no caso de Alagoas, de um quadro relativamente favorável em termos de ajuste fiscal e investimentos públicos.

Nosso empenho será o de interpelar se as velhas fórmulas, os itinerários formativos, a aquisição das competências necessárias, as estratégias de desenvolvimento e os modelos de negócios atuais e emergentes estão ajustados a um futuro que chega cada vez mais rápido, a um cenário de incertezas, grande volatilidade e não linearidade. O futuro vem chegando cada vez mais rápido e precisamos nos preparar para isso.

Economias e sociedades como a alagoana terão que enfrentar estes desafios que deslocam do mercado de trabalho milhares de pessoas, ao mesmo tempo em que há vagas não preenchidas em razão da inexistência de mão-de-obra qualificada. Negócios incumbentes também são fortemente impactados e essa disrupção vai estreitando as margens de competitividade de modelos de negócios tradicionais com baixa habilitação pelas novas tecnologias digitais pouco orientados por dados e com pouca atenção para as experiências e necessidades dos clientes.

O “mais do mesmo” já não responde nem para a oferta de mão-de-obra nos mercados, nem como alternativa sustentável e portadora de futuro para empreender. A concorrência se acirrou e hoje podemos estar competindo com negócios de todo o mundo e, mesmo com a força de trabalho remota, a partir das plataformas digitais. O mundo está ficando menor em termos de possibilidades de conexão com serviços e acesso a bens em escala global, ampliando assim os desafios para quem quer empreender. Mas também ampliou-se o acesso a recursos, conhecimento, expertise, financiamento e parcerias numa nuvem global de possibilidades para aprender e empreender.

Como pagaremos nossas contas? Esta pergunta, durante todo o século XX e já nestas duas décadas do século XXI, teve como resposta o emprego e o empreendedorismo ou as vias de acesso à renda passiva ou de programas de benefício social. E nas próximas décadas, diante da acelerada transformação da economia apoiada por tecnologias habilitadoras chave (key enabling technologies) como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, 5G, blockchain, computação em nuvem, nanotecnologias, biologia digital, impressão 3D, que vêm de forma combinada, desenhando novos modelos de negócios e exigindo outras competências.

Como pagaremos nossas contas? Certamente virá de remuneração pelo trabalho e cada vez menos por relações de emprego. Virá do ato de empreender, criando seu próprio negócio ainda que parcialmente. Virá da oferta de competências e habilidades em plataformas da chamada gig economy. Virá também de renda básica universal sob múltiplas formas ou de serviços básicos universais (como o SUS, o cuidar de seus filhos através de creches ou de entes mais idosos), e poderá vir também de dividendos digitais. Se na economia digital viramos o “produto”, pois nossos dados conferem aos algoritmos a assertividade que interessa às grandes corporações, é possível pensar em formas de dividendos a partir do uso dessas plataformas. Assim, se gero 2 terabytes de informação por mês através de meus hábitos de consumo, de deslocamento, nos canais de streaming, de ecommerce, por que não vir daí também parte de meus rendimentos? Enfim, como pagaremos nossas contas não é uma pergunta de respostas prontas. Muito vai depender da capacidade de construirmos um futuro em que possamos incluir mais gente, onde a educação e a aquisição de competências para entrar no mercado como força de trabalho ou empreendedor(a), vai depender das ações no presente. Sobre este futuro e seus desafios volto a falar em outras postagens.

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Uma resposta

  1. Brilhante este Artigo! Vinicius traz Luz ao recorte da realidade presente e aponta os faróis para iluminar as possíveis estradas alternativas de Futuro! Gratidão por sua clareza e consistência!

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