Por Luiza Müller
Para o Investindo por Aí
A cultura dos coquetéis abriu um espaço especial à entrada das bebidas destiladas no mercado brasileiro. De acordo com o caderno setorial do Banco do Nordeste, o Brasil produziu 1,71 bilhão de litros de destilados em 2021, uma expansão de quase 19% quando comparados ao 1,44 bilhão de litros registrados em 2016.
Com o aumento da produção, os empreendedores brasileiros voltaram seus olhos ao queridinho da vez: o gin. Refrescante e versátil, o destilado é utilizado no preparo de drinks consagrados, como martini, gin tônica e negroni. Para se ter uma ideia de seu rápido avanço, a partir principalmente de 2015, o consumo da bebida cresceu 111% em 2017, segundo um relatório publicado pela International Wine & Spirit Research (IWSR).
É neste cenário que marcas nordestinas de gin começaram a se multiplicar. Em busca de botânicos que ressaltassem a região e suas características, marcas como Santo Prazer e Tanajura surgiram para acrescentar ao coro de consagração do destilado, adornado com um toque genuinamente nordestino.
Para Ramon Morais, sócio e gerente do gin alagoano Santo Prazer, o sucesso da bebida na região não é mero acaso. “O gin é uma bebida muito refrescante e seu consumo é comum em regiões que são mais quentes, e como o Nordeste possui clima predominantemente praiano, há maior procura por este tipo de experiência”, ressalta Ramon.
Da cachaça ao gin
Com a proposta de um novo modelo de negócios, o gin Santo Prazer nasceu do sucesso da cachaça Saudade Pura, formulada pela SP Drinks, em 2012. À época, Paulo Florencio, co-fundador da empresa, associou-se a dois alambiques, localizados nas regiões interioranas de São Paulo e Rio de Janeiro. Os estabelecimentos, por sua vez, realizavam a produção, envase e rotulagem da cachaça, que era enviada ao Paraná para ser distribuída por Florencio.
Após a mudança da família de Florencio para Maceió (AL), em 2018, a empresa passou a atuar também como envasadora, aliando-se a produtores tradicionais de destilados para executarem as receitas que elaboravam. O destilado então é encaminhado a Maceió, onde é envasado pela SP Drinks. “Na época em que elaboramos nosso modelo de negócios, praticamente não se tinha conhecimento de outras empresas que faziam o mesmo que nós, então foi uma atitude pioneira”, afirma Morais.
Desse modo, munidos de uma envasadora própria e atentos à crescente popularidade do gin, a SP Drinks adicionou o rótulo Santo Prazer ao seu portfólio em 2019, e hoje ele corresponde a 70% (ou R$ 600 mil) das vendas anuais da empresa.
Formulada com sementes de coentro, zimbro e cardamomo, a receita do gin Santo Prazer foi elaborada com Felipe Jannuzzi, produtor e especialista em destilados, que buscou inspiração na tradição europeia do London Dry. “Como o público estava começando a conhecer o gin, acreditamos que seria melhor trazer uma receita mais clássica. Assim, o Santo Prazer é um destilado para quem quer entender o que é um gin tradicional, que vai bem em diversos coquetéis”, explica Jannuzzi.
Cacau e dendê
É em uma casa rosa na Ilha Grande de Camamu, localizada no sul da Bahia, que a história do Tanajura Gin se inicia. Quando pequena, Erica Melissa, sócia-fundadora da empresa, observava sua avó cozinhar o dendê na água salgada do mar de Ilha Grande, o que concedia ao ingrediente um sabor único. Nas férias de inverno, no entanto, ia à fazenda, onde escalava montes de amêndoa de cacau, cultivado pelo avô.
“Esse cacau e dendê viraram uma ideia de gin quando me reencontrei com a Débora. Visitamos uma destilaria boutique e nos apaixonamos, o que nos levou a produção do nosso próprio gin artesanal”, comenta Erica acerca da gênese da empresa, que fundou junto com a amiga Débora Borges.
Inspiradas pela história familiar de Erica e empenhadas na criação de um gin autenticamente baiano, as duas mulheres decidiram incluir o cacau e o dendê como ingredientes centrais da receita do destilado. Inédito, o Tanajura é o único gin do mundo que leva os dois ingredientes em sua composição, além de outros 11 botânicos, entre eles, capim-limão, coentro, zimbro e baunilha da Mata Atlântica.
Atualmente, a empresa possui faturamento anual de R$ 1,2 milhão e conta com capacidade de produção de 20 mil garrafas por mês, sendo sua produção realizada em alambiques de cobre, que refinam o álcool e concedem maior pureza ao gin. “Ainda hoje sinto o cheiro das amêndoas de cacau cultivadas pelo meu avô no aroma do Tanajura”, afirma Erica.