Por Felipe Saturnino e Matheus Prado
Para Valor Econômico – São Paulo
O dólar comercial opera em forte alta nesta quinta-feira, tendo superado R$ 5,67 na máxima do dia, e os juros futuros disparam, com os investidores tensos após o ministro Paulo Guedes propor um “waiver” (perdão) para permitir gastos de R$ 30 bilhões ou mais fora do teto de gastos a fim de financiar o Auxílio Brasil, programa que irá substituir o Bolsa Família.
Perto de 12h30, a moeda americana avançava 1,61%, saindo a R$ 5,6480 no mercado de câmbio à vista. No pico de estresse do dia até o momento, o dólar comercial saltou a R$ 5,6750. No mercado de ações, o Ibovespa operava em baixa de mais de 2%. Com baixa de 2,46%, o índice atinge a mínima do dia aos 108.076 pontos. Caso feche neste patamar, o indicador marcaria seu pior fechamento de 2021, superando a marca do dia 20 de setembro, quando terminou o dia aos 108.844 pontos.
Nos juros futuros, o nível de tensão era ainda maior — e bastante visível nos preços. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia de 7,66% no ajuste anterior para 7,886% e a do DI para janeiro de 2023 saltava de 9,91% para 10,42%. Em vencimentos mais longos, o juro do DI para janeiro de 2025 disparava de 10,90% para 11,30% e o do DI para janeiro de 2027 se impulsionava de 11,27% para 11,60%.
Ontem à noite, poucas horas depois de o presidente Jair Bolsonaro assegurar que o pagamento do Auxílio Brasil seria de R$ 400 e reiterar que respeitaria o teto de gastos, o ministro da economia, Paulo Guedes, sinalizou que o governo estuda pedir uma licença (“waiver”) para gastar R$ 30 bilhões fora da regra, considerada a principal âncora fiscal do país. Como alternativa, ele disse que pode antecipar a revisão do indexador do teto de gastos, prevista para 2026, o que ampliaria o espaço para despesas no ano que vem.
“O fato de expoentes da oposição ao governo federal defenderem valores mais elevados do programa de sustentação de renda, a exemplo do sugerido pelo ex-presidente Lula, de R$ 600 mensais de benefício, deve ser considerado como fator adicional de risco para o mercado, pois pode fomentar ainda mais a pressão de políticos do Centrão por valores mais altos do Auxílio Brasil”, acrescenta o departamento de Economia da Renascença DTVM, em relatório diário.
A corretora afirma ainda que a volta da operação das ações da Evergrande no mercado da China fornece uma dose de cautela dos investidores no exterior, o que contribui para manter as bolsas na Europa e os futuros de Nova York no vermelho. Além disso, investidores seguem preocupados com o avanço da inflação e a diminuição das perspectivas de crescimento em escala global.