O Nordeste brasileiro é uma região vibrante, onde a força e a determinação das mulheres empreendedoras estão moldando o tecido econômico e social de forma notável. Para alcançar seus objetivos, essas mulheres esbarram em inúmeras dificuldades, principalmente com a falta de apoio para a gestão.
De acordo com a pesquisa especial empreendedorismo feminino 2023, do DataSebrae, 51% das brasileiras donas de negócios são também chefes de domicílio, ou seja, suas famílias dependem fundamentalmente da renda de seus empreendimentos. Dentre os nove estados do Nordeste, quatro estão acima da média nacional, com destaque para Sergipe, onde 58% das empreendedoras são as únicas responsáveis por suas famílias.
Ainda de acordo com a pesquisa do Sebrae, no momento de abrir a empresa mais da metade dos entrevistados contaram com o apoio de clientes, fornecedores, do cônjuge e de amigos. No entanto, entre empreendedores do sexo masculino o apoio do cônjuge é mais frequente do que entre mulheres. Por outro lado, entre as mulheres, o apoio por parte de outros parentes é mais frequente do que entre os homens.
Sebrae Delas
Para as mulheres que pensam em iniciar sua carreira no empreendedorismo, a coordenadora do Sebrae Delas em Alagoas, Erica Pereira, conta que o Sebrae Delas apoia mulheres que querem empreender, tirar uma ideia do papel e alavancar um negócio, através de capacitações tanto na área de gestão como na parte comportamental dessa empreendedora.
Entre as principais dificuldades apontadas pelas mulheres que buscam o empreendedorismo está a tripla jornada de trabalho, já que muitas precisam dar conta dos afazeres domésticos sem rede de apoio. Erica aponta ainda a dificuldade no acesso ao crédito, já que a maior parte dessas mulheres atuam como microempreendedoras individuais (MEI) ou sozinhas dentro do negócio. Muitas também encontram dificuldades em fazer gestão do tempo de forma efetiva.
“A carga horária das mulheres empreendedoras é frequentemente desafiadora e envolve várias jornadas ao mesmo tempo. Elas enfrentam o desafio de conciliar suas responsabilidades profissionais com as tarefas domésticas e familiares. Elas precisam gerenciar a empresa e, ao mesmo tempo, cuidar dos filhos, da casa e da família”, ressalta.
Erica Pereira diz ainda que é perfeitamente normal sentir medo diante do desconhecido e do desafio de abrir um negócio. “Mas vale lembrar que muitas empreendedoras já passaram por essa mesma situação e conseguiram superar seus medos. Buscar conhecimento sobre o que pretende fazer é algo primordial para dar o primeiro passo. Com planejamento e trabalho duro, você pode alcançar seus objetivos. E por fim, não deixe o medo te paralisar, dê o primeiro passo e vá em frente, você é capaz de dar conta sim! E pode contar com o Sebrae para se capacitar”, orienta a coordenadora..
Impacto socioeconômico no Nordeste
Contudo, o empreendedorismo feminino na região não é apenas uma questão de superação de obstáculos, mas também de impacto socioeconômico significativo. Mulheres empreendedoras estão movendo a economia local, gerando empregos e contribuindo para a renda familiar. De acordo com dados do Ministério da Fazenda, 45,1% dos Microempreendedores Individuais (MEIs) na região são mulheres.
Os setores em que as mulheres mais se destacam como microempreendedoras individuais também revelam sua diversidade de talentos e interesses. Do comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios ao ramo de serviços, como cabeleireiras, as mulheres estão deixando sua marca em uma ampla gama de indústrias.
Em entrevista ao Investindo por aí, Marília Xavier, empreendedora formada em administração que hoje atua no ramo de confeitaria, contou que precisou fazer “malabarismo” no início para conciliar casa, filhos e empresa.
“No início meus filhos eram pequenos e eles não entendiam que eu ficava em casa fazendo os bolos e que aquilo era meu trabalho. Eles achavam que trabalho era sair de casa e voltar como o pai faz todos os dias. Eu também me cobrava muito, porque eu tinha que dar conta de tudo, não podia deixar nada. Você tem que dar conta da casa, do filho, do almoço e eu ficava sobrecarregada, super estressada, porque como é que conseguimos dar conta de tudo sozinha? Hoje em dia tento me organizar e sei que tudo tem o seu momento e nem tudo eu vou conseguir dar conta”, disse a empreendedora alagoana.
Marília lembra que fez seu primeiro curso em 2016, um curso profissionalizante no SENAC de bolos artísticos e desde lá começou a produzir bolos para os aniversários da família e dos amigos. “A minha primeira dificuldade foi tentar conciliar o tempo de pegar encomenda de produtos de bolos com a minha jornada de trabalho formal. Depois a minha principal dificuldade foi na maternidade. Eu tive o meu primeiro filho em 2017 e eu tentava conciliar tudo”, conta.
No final das contas, foi o Sebrae que influenciou a empreendedora a seguir em frente. “A partir do Sebrae, houve um efeito furacão que foi proporcionado pelo Sebrae. Eu consegui me enxergar dessa forma. Saí de um estado em que não me valorizava, não me via como empresária, como uma empreendedora, e a partir daí eu consegui me ver dessa forma. E apesar das dificuldades, a gente aprende que não é só fazer o bolo e entregar para o cliente, mas eu tenho que atrair o cliente, eu tenho que ter gestão financeira, cuidar do meu estoque, enfim, é muita demanda que temos que dar conta. Então eu tenho ainda muitos desafios, mas o Sebrae nos mostra que conseguimos gerir tudo isso e muito mais”, conclui.