Jovens empreendedores têm colocado o nome de Alagoas no roteiro do mercado da Ciência e da Tecnologia e atraído investidores para o estado. Segundo o levantamento da Associação Brasileira de Startups, o estado tem menos de 50 startups. Na região Nordeste, estão concentradas 13,4% de todas as startups do Brasil. Os dados são de 2021.
O economista e gerente adjunto da UGE (Unidade de Gestão Estratégica) do Sebrae, Fábio Leão, explica que as startups são muito importantes para a economia alagoana, principalmente para a capital, Maceió, onde o movimento é mais forte. “Essas empresas têm mobilizado investidores e o segmento começa a crescer significantemente”, afirma.
O Investindo por aí procurou três dos alagoanos mais reconhecidos nesse segmento, para contar as histórias de sucesso de suas startups, que ganharam o mundo a partir do interesse de seus fundadores em revolucionar o mundo através da inovação.
Trakto coloca Alagoas no mapa da inovação
Paulo Tenório estava na faculdade de Administração em 2013 quando percebeu a dificuldade dos colegas em apresentar seus trabalhos de classe. Foi aí que o alagoano teve a ideia que logo se tornaria a Trakto.
Usando conhecimentos de programação e animação digital – que aprendeu por conta própria durante um período de recuperação de saúde – chamou atenção em sala de aula por criar apresentações em um formato inovador.
A partir daí, Paulo começou a fazer pequenos trabalhos pontuais na faculdade, o que lhe trouxe experiência na área de animação e rendeu oportunidades de trabalho até mesmo fora do Brasil. Após alguns anos, essa vivência fora do Brasil o fez perceber que as pessoas tinham dificuldade de se vender, de mostrar seu trabalho e de se precificar. Então, naquele ano, teve a ideia de criar um aplicativo que ajudasse profissionais a apresentarem seus projetos.
Encontrou em Jorge Henrique o sócio ideal para auxiliar com a programação, e juntos criaram a Trakto, uma plataforma de criação e organização de materiais de marketing. Participou da primeira turma do Programa de Residência do Google for Startups, em São Paulo, e voltou a Alagoas com o objetivo de ampliar o empreendedorismo digital na região, com foco no impacto social.
Orgulho do sotaque
A primeira turma do Programa de Residência do Google for Startups foi formada em São Paulo, em 2016, quando Paulo e Jorge foram selecionados para fazer parte dela, recebendo apoio e mentoria durante seis meses. Paulo conta que até então a Trakto tinha um grande problema de credibilidade, por não estar localizada no eixo sul-sudeste do Brasil.
“A questão da representatividade sempre foi importante, por sermos uma startup nordestina. O sotaque e a localização não eram levados a sério por investidores. A chancela do Google foi muito importante para nós: abriu portas não só no Brasil, mas no exterior também. Dizer que era residente abria portas”, afirma Paulo.
Em 2017 o retorno com o programa chegou, quando a Trakto faturou o seu primeiro milhão em receita, triplicou o número de assinantes e quadruplicou o quadro de funcionários.
Tecnologia, inovação e responsabilidade social
Para além do retorno financeiro, Paulo também queria continuar fomentando o ecossistema local. E a partir de uma ideia que teve durante conversas no Google Campus, resolveu criar o Trakto Show, evento de empreendedorismo e marketing que já se firmou no calendário de eventos de Maceió e hoje é referência nacional em encontros de negócios.
E o próximo evento já tem data pra acontecer. O Trakto Show 2023 – Business in Paradise será realizado de 13 a 17 de dezembro, no estacionamento do Jaraguá, com atrações diárias a partir das 16h. A expectativa é de que cerca de 50 mil pessoas passem pelo evento ao longo dos cinco dias de programação.
Outra novidade para este ano será o Trakto Showzinho, voltado a crianças e adolescentes no dia 17 de dezembro, data de encerramento do evento. Os interessados em garantir seu lugar para o evento deste ano já podem realizar seu pré-cadastro para garantir a inscrição no evento, seja como “ingresso pass” ou “ingresso vip” – neste caso, com possibilidade de participar de uma programação extra e de oportunidades diferenciadas para realizar ações de networking dentro do próprio evento.
Além de tudo isso, a Trakto pensou em como transformar a educação do país por meio do design. No ano passado a startup apresentou uma nova maneira de exibir e compartilhar temas pedagógicos: a plataforma Trakto Educação, um conjunto de soluções criativas desenhado exclusivamente para professores e alunos com propostas adaptadas à realidade de cada escola.
Em Maceió, mais de 3 mil professores e quase 55 mil alunos de 146 escolas do município serão contemplados com um método de ensino mais moderno. Em Penedo, no interior de Alagoas, a Trakto Educação já está impactando cerca de 700 professores e 7 mil alunos em 29 instituições. No caso das escolas públicas, uma vez analisado o melhor molde para cada instituição – se com software e/ou hardware, o convênio é firmado com base nas metas de amplificação de excelência educacional, que serão analisadas conforme a métrica do Ideb.
“Como empreendedor, acredito no poder do design e da educação para o futuro dos nossos jovens e professores, que também precisam ser estimulados. Com a Trakto Educação, queremos estimular a criatividade e o interesse dos alunos pelos estudos por meio da tecnologia facilitando o aprendizado”, diz o animado CEO da Trakto.
Hand Talk: inovação tecnológica e acessibilidade digital a milhões de pessoas surdas
Utilizando simpáticos tradutores virtuais, a Hand Talk é uma startup que faz tradução automática de texto e áudio da web para Línguas de Sinais, levando inclusão para milhões de pessoas ao redor do mundo.
Ronaldo Tenório, CEO da startup, explica que cerca de 80% das pessoas surdas do mundo não compreendem bem as línguas faladas em seus países, a maior parte delas é alfabetizada em Línguas de Sinais e depende delas para se comunicar.
Nesse cenário, atividades simples como fazer um pedido em um restaurante ou assistir a um filme se tornam grandes desafios para grande parte das pessoas surdas, que vivem como estrangeiras na própria terra, impossibilitadas de usufruírem de serviços básicos pela falta de acessibilidade em Línguas de Sinais.
Foi a partir dessas informações que tudo começou. O que hoje tem a forma de um serviço de acessibilidade digital voltado para empresas, teve início com uma ideia mais simples mas não menos ousada: o aplicativo Hand Talk. Foi em 2008 que o publicitário Ronaldo Tenório, hoje CEO da Hand Talk, teve a ideia que mudaria não só a sua vida, mas a de milhões de pessoas surdas pelo país.
Com mais de cinco milhões de downloads, o aplicativo Hand Talk funciona como um tradutor de bolso, traduzindo texto e voz automaticamente para Libras e ASL (Língua de Sinais Americana), e conta com a seção educativa Hugo Ensina – uma série de vídeos em que o personagem ensina sinais e expressões em Libras para os interessados na língua. O app é gratuito e está disponível para tablets e smartphones, nos sistemas Android (na Play Store) e iOS (na App Store).
“A surdez é uma deficiência invisível, e a comunicação definitivamente é um dos grandes desafios que elas enfrentam”, opina o publicitário.
As principais conquistas e desafios da Hand Talk
Entre os principais desafios da Hand Talk, Ronaldo destaca a missão de mostrar ao mercado que acessibilidade não é só filantropia, e sim uma grande oportunidade de negócio, principalmente com a recente onda ESG (sigla para Environmental, Social e Governance) crescendo no Brasil.
Atualmente a Hand Talk possui cerca de 700 clientes no Brasil que utilizam o Hand Talk Plugin, e aproximadamente 250 mil usuários mensais que acessam o Hand Talk App.
Sobre a projeção para investidores estrangeiros, Ronaldo Tenório disse ao Investindo por aí, que a Hand Talk já teve alguns aportes de empresas de fora do Brasil, como Qualcomm e Google. “Com a expansão da nossa operação comercial para empresas nos Estados Unidos, a expectativa é que atraia outros investimentos estrangeiros”, explicou.
“Localmente, a gente, como startup referência em Alagoas, ajuda na elaboração de políticas públicas para nosso estado, além de atrair o interesse de novos investidores atuarem aqui. Além disso, impactamos também a comunidade local, uma vez que passamos de 100 pessoas no time e geramos boa parte desses empregos localmente”, concluiu o CEO.
FaceDoor inova com controle de acesso por reconhecimento facial
Outro alagoano empreendedor que merece destaque é Cláudio Ribeiro, criador da FaceDoor. Ele conta ao Investindo por aí que a ideia da FaceDoor surgiu da experiência da I.Soluções Tecnologia na área de hotelaria, pensada inicialmente para o controle de acesso aos quartos.
“Com um projeto piloto em um dos hotéis parceiros e nossa participação em um programa de incentivo do governo do estado, chamado GDH Serviços, nos destacamos entre os três primeiros colocados. Após essa premiação, tivemos uma grande oportunidade e apoio por parte da Trakto e da SECTI e em agosto de 2022, implantamos a solução FaceDoor no evento Trakto Show. Essa experiência permitiu que demonstrássemos todo o potencial inovador da nossa solução e vislumbrássemos novas oportunidades para nossas soluções, incluindo a criação de novos produtos para atender as demandas do mercado”, conta.
Cláudio conta ainda que, atualmente, a FaceDoor é responsável por todo o controle de acesso facial do CIPT – Polo Tecnológico do Jaraguá, conta com o apoio de programas de inovação do Governo do Estado de Alagoas como o Mentoring Team, que tem apoiado com consultorias e expansão de mercado, inclusive com projeção internacional.
“Temos projetos sendo executados na área educacional entregando inteligência e inovação para os gestores no controle de acesso das escolas. Analisando novos e potenciais mercados, decidimos participar da seletiva do WebSummit Lisboa pois acreditamos que nossa solução tem ótimas aplicações em diferentes segmentos do mercado”, comenta.
“Entendemos que a relação com potenciais investidores, se dá não só pelo potencial de mercado, mas também pela capacidade de inovação e integração com novos produtos. Quanto ao mercado alagoano, muito mais do que contribuir com questões tributárias e geração de emprego, entendemos ser de fundamental importância, inclusive social, que mostrar para o Brasil e para o mundo todo o potencial de uma empresa alagoana”, conclui o empresário.
Sebrae foi parte fundamental para crescimento das startups
Paulo, Ronaldo e Cláudio destacaram algo em comum para o crescimento de suas startups: todos passaram por diversos programas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
“Foram vários programas que participamos dentro do Sebrae. Semana que vem eu estou indo para a Coreia do Sul a convite deles. A Trakto passou por muita coisa dentro do Sebrae e isso significa muito”, disse Paulo Tenório.
Ronaldo Tenório disse que o Hand Talk faz parte de programas do Sebrae voltados para startups. “Então participamos de alguns eventos deles apresentando nosso conteúdo”, explica o CEO.
Cláudio Ribeiro lembra que a FaceDoor passou por diversas consultorias com profissionais do Sebrae.
No início de maio, o Sebrae anunciou a criação de uma plataforma guarda-chuva para reunir todas as ações direcionadas ao ecossistema de startups. A ferramenta, batizada de Sebrae Startups, vai reunir as iniciativas de capacitação, conexão e fortalecimento de negócios em estágio inicial.
O projeto reforça a estratégia da entidade de estar cada vez mais em contato com os empreendedores. Para este ano, a meta é de impactar 10 mil startups com os seus programas de fomento – em 2022, o número ficou em 7.777 negócios, criados por 12.123 empreendedores e oriundos de 1135 municípios diferentes.
Para alcançar o objetivo, prevê investimentos de R$ 312 milhões, alta de 22,8% em relação ao montante que desembolsou no ano passado. O valor será usado para acelerar negócios, disponibilizar tecnologias e estimular as empresas no desenvolvimento de inovações.