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27 de março de 2024 18:04

EXCLUSIVO | Mercado de arte contemporânea no Nordeste: sim, ele existe e está crescendo

EXCLUSIVO | Mercado de arte contemporânea no Nordeste: sim, ele existe e está crescendo

Casas como a Galeria Amparo 60 (PE) e a Lima Galeria (MA) empenham-se na divulgação e comercialização de artistas regionais com alto potencial

Por Karina Sérgio Gomes

Para o Investindo por Aí

Exposição no projeto Preamar (São Luis, MA) sobre o trabalho colaborativo de Silvana Mendes e Tassila Borralho, com peças de ceramistas do Quilombo de Itamatatiua, de Alcântara (MA). Crédito: Chuseto

Quem visitar a 59a Bienal de Veneza (23 de abril a 27 de novembro deste ano) e passar pelo pavilhão do Brasil vai encontrar a exposição “Com o coração saindo pela boca”, do artista alagoano Jonathas Andrade. Os trabalhos inéditos levados para a mostra se apropriam de expressões e ditados populares como “entrar por um ouvido e sair pelo outro” e “nó da garganta”. Andrade hoje vive em Recife, cidade onde Bárbara Wagner, artista brasileira da mesma geração, também fixou residência. Em parceria com o artista Benjamin De Burca, Wagner foi quem ocupou o pavilhão do Brasil na edição anterior da mostra italiana, em 2019. Esses exemplos servem para ilustrar que não é só de artesanato e arte popular que vivem as artes visuais nordestinas. E não é de hoje. 

De acordo com Fernanda Feitosa, fundadora e diretora executiva da SP-Arte, principal feira de arte do país, em 2018 o evento realizado na capital paulista teve presença de três galerias do Nordeste. Neste ano, foram cinco. “É um aumento gradual, mas significativo e sustentável”, avalia em entrevista ao Investindo Por Aí. Entre os dias 24 e 28 de agosto deste ano, a SP-Arte terá uma segunda edição com o título “Rotas Brasileiras”. Nesta feira, contará com a presença de galerias e projetos convidados de Pernambuco, Alagoas, Ceará e Maranhão. 

“Esse mapeamento da singularidade de cada cena local com seus artistas e seus agentes é fundamental”, afirma. “Nossa ideia é que o público e os próprios galeristas entrem em contato com artistas que ainda não conhecem ou que redescubram veteranos brasileiros com produções que nem sempre temos a oportunidade de ver.” Os galeristas Lucia Santos, de Pernambuco, e Marco Antônio Lima, do Maranhão, contam como é empreender com arte contemporânea no Nordeste. 

Bodas de prata no mercado de arte de Recife

Em 1998, antenada na produção dos jovens artistas de Recife, Lucia Santos fundou a galeria Amparo 60. A galerista reuniu em seu primeiro time nomes como José Patrício, Marcelo Silveira e Eudes Mota, que estavam em início de carreira na época e hoje têm obras nas principais instituições de arte no país. Santos recorda que a chegada da galeria culminou com um bom momento das artes visuais na capital pernambucana – o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) foi fundado em 1997, por exemplo. 

Lucia Santos, fundadora da Amparo 60, que representa artistas de expressão nacional. Crédito: Sofia Lucchesi

“A galeria não é apenas um lugar de pendurar obras nas paredes. Além de ser um instrumento comercial, é um espaço cultural importantíssimo”, afirma à reportagem. De acordo com a galerista, a Amparo 60 esteve muito relacionada à cena cultural da cidade, o que acabou ajudando a formar esse público de colecionadores e interessados em arte. Santos destaca ainda que para formar um público é preciso ter uma relação sincera, explicando, por exemplo, o motivo de alguns trabalhos custarem mais e outros menos. 

A Amparo 60 nunca quis ser vista como uma galeria regional. E tem em galeria artistas de fora de Recife – como o paulistano Cássio Vasconcellos e o português Ascânio MMM, que vive no Rio de Janeiro. Nesses 24 anos, trabalhar com artistas “não pernambucanos” tem se revelado a sua maior dificuldade. “Pernambuco gosta muito de consumir seus próprios artistas. Para nomes de outros estados terem um retorno por aqui demora um pouco”, explica Lucia. Atualmente, 70% das vendas da galeria são feitas para um público local.

Trabalhos de José Patrício na exposição coletiva “3×6 Percursos”, na galeria Amparo 60. Crédito: Hannah Carvalho

Sem deixar que quase 25 anos de atuação a acomodassem em seu negócios já consolidado, Lucia fundou, em 2021, a Número Galeria, focada na venda de trabalhos seriados, como gravuras, pequenos objetos e bandeiras. “Quem era criança em 1998 hoje pode ser um jovem colecionador. Queremos mostrar que, para consumir arte, você não precisa olhar só para os nomes que estão consagrados. Conheça o trabalho de jovens artistas. E não precisa dispor de grande quantias”, explica. De acordo com a galerista, com R$ 2 mil é possível comprar um trabalho de artista em começo de carreira ou, por cerca de R$ 500, adquirir um múltiplo . “Há várias escalas de consumo, todas interessantes”, conclui. 

Um novo mercado no Maranhão

Enquanto a Amparo 60 já colhe os frutos do que plantou em mais de duas décadas, Marco Antonio Lima dá os primeiros passos em São Luís, no Maranhão. Em 1996, o galerista fundou com a esposa, Fátima Lima, um escritório de arte e design de móveis autorais. A área de mobiliário acabou tomando mais o tempo do casal, que foi um dos primeiros a levar os móveis dos irmãos Campana para fora do eixo Rio-São Paulo. O Espaço Fátima Lima tornou-se um endereço de referência de peças de design brasileiro em São Luís. Mas a ideia de trabalhar com arte persistia

Marco Antonio Lima lidera projetos para fomentar o mercado de arte em São Luís (MA). Crédito: Matheus Marques

“Estava incomodado com o fato de que nós temos muitos artistas maranhenses com reconhecimento fora e totalmente desconhecidos aqui. Assim como nós temos artistas jovens com um potencial gigante, mas sem um espaço para mostrar sua arte”, conta Lima ao IPA. A fim de aliviar o incômodo,  fundou a Lima Galeria em outubro de 2020. Para começar, o galerista formou um grupo de nove artistas para representar. 

Nesse pouco tempo como galerista, Lima já percebeu que o trabalho é  de longo prazo. Por enquanto, tem conseguido fechar mais negócios no eixo Rio-São Paulo do que no comércio local e batalha para abrir um mercado de arte contemporânea praticamente inexistente no Maranhão. A fim de fomentar a cena artística local, uniu-se a outros dois projetos: Chão SLZ, voltado para formação de jovens artistas; e Preamar, que tem o objetivo de formar novos públicos e estará presente na próxima edição da SP-Arte.

Apesar de financeiramente o negócio ainda não ter grandes resultados, o trabalho de Lima já está sendo notado por importantes profissionais da área das artes. As curadoras Lisette Lagnado, que esteve à frente da 27ª Edição da Bienal de São Paulo, e Beatriz Lemos, que atualmente integra o corpo curatorial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, já estiveram na Galeria Lima para conhecer os  artistas representados. 

O trabalho de Silvana Mendes, um dos nomes representados por Lima, esteve presente na mostra “Carolina Maria de Jesus – Um Brasil para os brasileiros”, em cartaz no Instituto Moreira Salles, em São Paulo (de 25 de setembro de 2021 a 3 de abrll deste ano), e faz itinerância no Sesc Sorocaba, no interior paulista (de 15 de junho a 25 de setembro). “Nós não queremos ser uma galeria regional. Está nos nossos planos trabalhar com alguns artistas em conjunto com espaços de São Paulo e também representar artistas de outros estados”, planeja Lima. 

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