Por Fabíola Lago
Para Investindo Por Aí
As cervejas artesanais podem chegar a 2,9% da fatia de mercado do Nordeste em cinco anos. A estimativa é da Abracerva, Associação Brasileira de Cervejas Artesanais. Pode parecer pouco, mas em termos absolutos, para uma país que ocupa o terceiro lugar em consumo de cerveja no mundo, com 14,1 bilhões de litros só em 2020, 2,9% é uma projeção grandiosa. Nos Estados Unidos, primeiro do ranking, a cerveja artesanal já representa 12,3% do mercado cervejeiro. No Brasil, especialistas estimam entre 2 a 3% do mercado, mas a tendência é de crescimento. Até o ano passado, o número de microcervejarias registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) somava 1.383 – um aumento de 14,4% em relação a 2019.
O Nordeste, com sua vocação para o turismo e com sol durante todo o ano, tem tudo para ser um polo de microcervejarias. Outro fator que favorece a região é a diversidade de frutas, insumo importante no segmento de cerveja artesanal. Os estados com maior crescimento no número de cervejarias em 2020, segundo o MAPA, foram Piauí, com 200%, e Paraíba, com alta de 60%. E Salvador, que já é líder no consumo de cerveja no país, possui inclusive um programa do Sebrae-BA, o Cervejas & Negócios, para atração de investimentos.
“Tudo começou em 2018, quando um grupo de cinco empresários veio até o Sebrae para entender como poderíamos ajudá-los. Passamos a estudar esse mercado e perceber seu grande potencial para o desenvolvimento local, geração de emprego, atração de investidores, além de incremento do turismo”, conta Edicarlos Moreira, coordenador do programa no Sebrae-BA.
Desde então, os empreendedores recebem subsídios para consultorias especializadas, pesquisa, viagens de benchmark para o festival da Cerveja em Blumenau (um polo de inovação), onde têm contato com fornecedores de equipamentos e insumos. O Sebrae-BA também abriu um canal de diálogo com o governo municipal para alteração da legislação, uma vez que o plano diretor de Salvador proibia a implantação de plantas fabris no centro urbano da cidade. Até o final do ano, a região metropolitana de Salvador deverá contar com 29 microcervejarias.
O evento Beba Local Bahia foi uma outra iniciativa de empresários para levantar a cultura cervejeira na cidade. Realizado em 2019 no Museu do Ritmo, em Salvador, com bandas locais, DJs e palestras do Sebrae-BA, o evento reuniu 11 microcervejarias. A ArtMalte, no bairro boêmio do rio Vermelho, onde o apreciador de cerveja pode conhecer a instalação fabril dentro do próprio bar-restaurante, é um dos empreendimentos de destaque nos projetos apoiados pelo programa.
“Com a pandemia, tivemos o papel de colocar esses empresários no universo do delivery para resistir à crise em função do distanciamento social. Também criamos um consultório financeiro para apoiá-los na negociação de dívidas e gestão de negócios”, conta Edicarlos.
História de sucesso
Para o gaúcho Filipe Bortolini, CEO da Beer Business e uma das consultorias parceiras do Sebrae, o Nordeste oferece grandes oportunidades de negócio porque a cerveja artesanal ainda tem muito o que crescer. “A força do turismo, especialmente de quem vem de fora do país e já tem maior exigência com uma cerveja de qualidade, é uma vantagem. O importante é entender seu público. Como faz muito calor o ano inteiro, investir em estilosrefrescantes, mais leves, como a pilsen, a sour, berliner weiss, cai bem. Sem falar nas frutas que são exclusivas da região e podem se transformar em cervejas muito originais”, argumenta Bortolini.
O consultor tem uma larga experiência com cerveja artesanal. Bortolini começou como a maioria dos microcervejeiros, produzindo a bebida por hobby, com amigos. No caso dele, o empreendimento nasceu na garagem da avó, na cidade de Maraú (BA), por volta de 2013. O prazer de produzir cada vez melhor levou suas cervejas IPA (India Pale Ale) e APA (American Pale Ale) a premiações importantes na categoria de artesanais, o que trouxe um público cativo para degustação. Em 2015, ele inaugurava o Arnesto Brewery Cave, no endereço da avó,onde tudo começou.
Executivo de TI, com trajetória na gestão de projetos, viu a necessidade de profissionalização nesse mercado. Passou a entender toda a cadeia de negócios, legislação, desde municipal até federal para fabricação e registro de cervejas; sistema tributário para o segmento, além de pesquisar fornecedores de insumos. Criou então a BeerBusiness, cuja missão é amadurecer empresarialmente o mercado cervejeiro. Recentemente, Bortolini inaugurou mais uma cervejaria, dessa vez em São Paulo, no bairro Chácara Santo Antônio. A paulista Manda Uma é fruto de uma experiência de três modelos de negócio da consultoria para chegar ao mix de cerveja própria e gastronomia de boteco.
Para Bortolini, esse é o melhor modelo de negócio, os brewpubs, que combinam a produção local com uma gastronomia sob medida, adequada para a harmonização das cervejas oferecidas. “É um ótimo negócio, com muito potencial de rentabilidade. Como não há distribuição, a carga tributária é menor, porque o consumo é no próprio bar-restaurante. Não há preocupação com a logística, com a chegada até o consumidor final”, conclui o consultor.
Aumento de consumo
As vendas de cerveja no Brasil cresceram 5,3% em 2020frente a 2019, na contramão da economia e do mercado global, segundo levantamento da Euromonitor. O percentual de brasileiros com mais de 18 anos que consumiu cerveja em casa atingiu marca recorde de 68,6%, de acordo também com dados da Kantar.
O faturamento das cervejas consideradas premium – considerada a ponte para o consumo de artesanais – cresceu 85% entre 2015 e 2020, para R$ 52 bilhões. A expectativa da Euromonitor é que esse número cresça mais 53,9% até 2025 e alcance faturamento de R$ 80,2 bilhões.