Rennan Setti para O Globo
Além daquela que te entristeceu no supermercado, uma outra inflação marcou 2021: a dos “unicórnios”. Pelo menos dez start-ups brasileiras anunciaram, no ano que passou, aportes que as avaliaram em mais de US$ 1 bilhão — esse valor tão simbólico quanto arbitrário que, importado do Vale do Silício, marca a entrada no clubinho seleto.
Foram tantas, aliás, que a exclusividade que costumava acompanhar o status perdeu um tanto de apelo. Até 2020, por exemplo, apenas 15 start-ups locais, como 99 e Loggi, haviam reclamado o título de “unicórnio”…
Trata-se de um desdobramento da enxurrada de dinheiro grátis no pós-Covid do mundo desenvolvido. Com políticas de estímulo monetário e fiscal em vigor nos EUA e na Europa por causa da pandemia, fundos globais e até empresas saíram à caça de onde enfiar seus caixas abarrotados. Nessa hora, olharam especialmente para modelos de negócios digitais, que ganharam ainda mais força e escala diante das restrições pandêmicas.
Em 2021, foram investidos US$ 8,85 bilhões em start-ups brasileiras até novembro, quase três vezes mais que em 2020, segundo números da Distrito, plataforma especializada nesse universo.
Relembre abaixo as start-ups que, a despeito da deflação de sex appeal dos “unicórnios”, vieram a público, em 2021, contar que chegaram lá:
MadeiraMadeira: Em janeiro, o e-commerce curitibano de móveis e itens para o lar anunciou investimento de US$ 190 milhões vindo de SoftBank e Dynamo, alcançando status de “unicórnio”.
Mercado Bitcoin: Em julho, o corretora de criptoativos foi avaliada em US$ 2,1 bilhões em aporte de US$ 200 milhões liderado pelo (sempre ele) SoftBank.
Unico: Em agosto, a start-up especializada em autenticação via biometria facial foi avaliada em US$ 1 bilhão quando recebeu aporte de R$ 625 milhões de General Atlantic e SoftBank.
Nuvemshop: Também em agosto, a plataforma de criação de lojas virtuais — que é argentina, mas opera principalmente no Brasil — foi avaliada em US$ 3,1 bilhões após aporte de US$ 500 milhões pelos fundos Insight Partners e Tiger Global Management.
Cloudwalk: No mês passado, a start-up por trás das maquininhas InfinitePay foi avaliada em US$ 2,1 bilhões depois de aporte de US$ 150 milhões liderado pelo fundo Coatue.
Frete.com: Ainda em novembro, CargoX e FreteBras, start-ups que atuavam de maneira independente no segmento de transporte de cargas por caminhões, foram reunidas na “holding” Frete.com. E ela já surgiu com aporte US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão), em rodada liderada por Softbank e Tencent que avaliou o negócio em US$ 1 bilhão.
Daki: Resultado da fusão entre uma brasileira e uma americana criadas há poucos meses e especializadas em entregas em até 15 minutos, a Daki levantou US$ 260 milhões (R$ 1,5 bilhão) e virou “unicórnio” em dezembro.
Olist: Também em dezembro, a empresa que ajuda lojas a venderem on-line levantou R$ 1 bilhão e foi classificada de “unicórnio”.
Merama: Outra da leva de dezembro, a novata que quer ser uma espécie de “Unilever do e-commerce latino-americano” foi avaliada em US$ 1,2 bilhões após uma sequência de investimentos que somou US$ 445 milhões ao longo do último ano.
Facily: Recordista de reclamações no Procon por simplesmente não ter conseguido entregar milhares dos produtos que vendeu, a Facily correu nos últimos meses para levantar dinheiro e manter o negócio de pé. Há poucos dias, a start-up de compras coletivas disse ter sido avaliada em US$ 1,1 bilhão após dois aportes que somaram US$ 385 milhões em menos de um mês.