O painel “Perspectivas do Setor de Gás Natural”, realizado durante a Plenária Eneva no Bahia Oil & Gas Energy 2025, reuniu especialistas e líderes do setor para debater os rumos do mercado, os desafios regulatórios e as oportunidades de investimento no Nordeste.
Com moderação de Edmar de Almeida, especialista em energia da PUC-Rio, o debate destacou a necessidade de reduzir o gap entre a indústria e a regulação, além de reforçar o papel do gás natural como combustível de transição energética nas próximas décadas. Luiz Gavazza, diretor-presidente da Companhia de Gás da Bahia – Bahiagás, destacou o protagonismo da Bahia no cenário nacional de gás natural, lembrando que o estado foi pioneiro na indústria de petróleo e gás na região, e hoje sedia uma das maiores feiras do setor, atrás apenas do Rio de Janeiro. “Nos orgulhamos de ser a maior feira do setor, atrás apenas do Rio de Janeiro. Lembrando que Rio de Janeiro e São Paulo são pioneiros nesse mercado”, afirmou.
Gavazza ressaltou que o gás natural será fundamental para a segurança energética global e, dentro desta perspectiva, destacou o protagonismo nacional e o potencial regional do Nordeste. “O gás natural é e será o combustível de transição nas próximas décadas”, afirmou, citando projeções de que a demanda global por gás natural (GN) deve crescer entre 10% e 20% até 2030. No entanto, sem novos investimentos, o mundo pode enfrentar um déficit de 22% já na próxima década. “É necessário ampliar a oferta para transformar o potencial em energia acessível para garantir uma transição energética justa, segura e integrada”, pontuou.
Para isso, o porta-voz defende o trabalho conjunto, “em parceria, inclusive com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), para atenuar os desafios para a região Nordeste, como as tarifas de transporte, por exemplo, que precisam ser equalizadas. Gavazza clama por planejamento mais robusto e integrado. “Que todos que fazem parte da cadeia façam o seu papel, em aliança, para alcançarmos o desenvolvimento do mercado de forma sustentável. Precisamos de um plano nacional de infraestrutura com vocação regional para superar a concentração no litoral e atrair novos players”.
A Bahiagás tem ampliado seus investimentos, saltando de R$ 50 milhões para R$ 300 milhões anuais, com projeção de crescimento nos próximos seis anos. No que se refere à produção regional e desenvolvimento territorial, Gavazza destacou que a Bahia integra estratégia, competitividade e economia. Entre as iniciativas, o porta-voz citou a plataforma eletrônica de gás para facilitar contratos híbridos; as parcerias com a Petrobras para ampliar a atuação de outros fornecedores e ampliar a oferta; e as chamadas para o biogás, incentivando redes locais. “Queremos ampliar investimentos e também as formas de aplicar esses recursos”, finalizou.
Flávia Barros, da Origem Energia, enfatizou a importância do Nordeste para o setor e destacou o papel da empresa como produtora independente, com ativos estratégicos na Bahia e em Alagoas. A empresa, que adquiriu o Polo Alagoas, produz cerca de 15 mil barris/dia entre gás e petróleo, e investe em infraestrutura para monetizar o gás de forma eficiente. Segundo Flávia, a visão da Origem é muito focada em soluções energéticas atreladas à infraestrutura, que permite a melhor monetização e autonomia.
A executiva enfatizou a necessidade de reduzir custos transacionais (que dificultam a entrada de novos players) e padronizar contratos para aumentar a liquidez do mercado. “O Nordeste foi o epicentro da abertura do mercado de gás natural, mas ainda há desafios, principalmente regulatórios. Precisamos de mais ousadia e pensamento coletivo para desenvolver soluções que atendam o mercado, para atender as demandas industriais e elétricas”, afirmou.
O papel do transporte na expansão do gás
Luisa Franca, da TAG, maior transportadora de gás do país – são mais de 4.500 km de gasodutos – trouxe as perspectivas do transportador e destacou a importância do transporte para a segurança energética. “É supernatural sermos mencionados, pois o transporte está conectando os produtores aos distribuidores e aos consumidores. É importante estarmos juntos nessa agenda positiva, nessa trajetória, para trazermos as soluções. O papel do transporte no futuro do mercado de gás é o investimento”, frisou.
Segundo a executiva, é preciso promover o mercado integrado de gás natural; permitir maior dinamismo e flexibilidade nas negociações, promovendo liquidez e competição; garantir a segurança energética; realizar os investimentos necessários no longo prazo; e apoiar a transição energética. Luisa destacou os investimentos em expansão e modernização. A TAG já aplicou R$ 1,9 bilhão nos últimos anos e planeja investir mais R$ 5 bilhões em modernização e novos projetos, como o ECOMP Itajuípe/BA (nova estação de compressão para reduzir gargalos no gasoduto GASCAC, aumentando o fluxo para o Nordeste em 3 milhões de m³/dia) e o Expansão Veredas (projeto em fase conceitual para ampliar a capacidade de transporte para atender a demanda no Nordeste). “O mercado de gás tem pressa para resolver seus desafios. Precisamos de agilidade regulatória para viabilizar negócios”, disse Franca.
Aurélio Amaral, da Eneva, reforçou a necessidade de avanços na regulamentação do transporte para viabilizar novos negócios e frisou a importância de uma regulação ágil para impulsionar o setor. “O regulador não pode ser um atravancador, mas um facilitador”, afirmou. A Eneva, que atua na geração de energia e produção de gás, tem projetos estratégicos no Amazonas, incluindo uma planta de liquefação que abastece 70% a 78% de Roraima.