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17 de maio de 2024 16:07

O que é que a Bahia tem? Entenda o que fez agricultura do estado disparar

O que é que a Bahia tem? Entenda o que fez agricultura do estado disparar

O crescimento foi o maior em 26 anos; foram R$ 27,5 bilhões gerados no ano passado
Por Correio da Bahia

A agricultura baiana vem conservando seu destaque histórico no cenário nacional e, inclusive, aumentando sua produtividade. Isso é o que aponta a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE, feita em 2020 e divulgada nesta quarta-feira (22). Mesmo caindo do 7º para o 8º lugar, de 2019 para o ano passado, a Bahia teve o seu maior aumento em 26 anos (41,9%) no valor gerado pela agricultura, chegando a  R$ 27,5 bilhões. O crescimento de um ano para o outro foi o sexto maior do país. O resultado aponta que os grãos, leguminosas e oleaginosas impulsionaram a subida, com destaque para a soja.

De acordo com a pesquisa, além de ter havido incremento na safra de diversos produtos, em razão de condições climáticas favoráveis, o avanço significativo no valor gerado pela agricultura foi impulsionado, sobretudo, pelo aumento dos preços dos produtos em função da desvalorização do real frente ao dólar, e do crescimento da demanda.

Para o secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) João Carlos Oliveira, os resultados apontam que a política agrícola na Bahia está no caminho certo, aproveitando  o potencial do estado. “Poucos países no mundo têm condições de competir com o Brasil e, especificamente, com a Bahia. Temos luminosidade o ano todo, temos área para expandir e ainda possibilidade de ampliação da agricultura irrigada”, diz.

Oliveira destaca que, atualmente, o agronegócio representa 35% do PIB baiano (no dado mais recente, referente ao segundo trimestre de 2021), o que representa cerca de R$ 34 bilhões. Além disso, o setor é responsável por 32% dos empregos gerados no estado. “Uma questão importante é a diversidade de produtos e de áreas cultiváveis. Temos a Mata Atlântica, com o cacau, a Caatinga e também o Cerrado, e conseguimos plantar em todas essas regiões”, ressalta.

Os produtos que chamam a atenção historicamente na Bahia são a soja, o milho e o algodão, muito presentes na região oeste. De acordo com Luiz Stahlke, assessor de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), cerca de 60% da soja produzida aqui é exportada, principalmente, para a China. O restante é industrializado no estado para o mercado nacional.

“Em relação ao algodão, cerca de 50% vai para fora, competindo com EUA e Canadá. O milho é 100% para o mercado do Nordeste. Grande parte fica aqui no estado para atender às granjas e o restante vai para outros estados da região, principalmente Ceará”, completa o assessor.

 

O que é que a Bahia tem?
A pesquisa confirma o destaque desses três produtos e acrescenta que os cereais, leguminosas e oleaginosas, grupo de 15 produtos comumente chamados de grãos, foram  responsáveis por R$ 17,7 bilhões gerados pela agricultura baiana (64,4% do valor total estadual). Foram eles que puxaram o crescimento do valor da produção agrícola na Bahia em 2020, liderados pela soja.

Com a força da soja, que cresceu 73,7%, a safra baiana de grãos em 2020 foi a maior em 46 anos (10,6 milhões de toneladas) e gerou R$ 17,7 bilhões. O valor foi 56,5% maior que o de 2019 (R$ 11,3 bilhões). Com isso, a Bahia se manteve como o 7º maior produtor nacional de grãos e teve crescimento na participação nacional de 5,3%, em 2019, para 6%, em 2020.

 

A safra baiana de grãos em 2020 foi a maior em 46 anos (Foto: Divulgação/Seagri)

O aumento do valor gerado pela soja, muito além da sua produção em volume, se deu por conta do cenário cambial favorável, que teve como consequência o aumento dos preços dessa commodity e uma maior rentabilidade ao produtor, permitindo investimentos na ampliação das áreas de cultivo.

Já o algodão herbáceo teve o segundo maior valor de produção no estado, gerando, em 2020, R$ 4,4 bilhões (16,0% do valor total da agricultura baiana). Foi também um valor recorde desde o início do real, com um crescimento de 16,3% frente a 2019 (+R$ 615 milhões, o terceiro maior em termos absolutos).

O estado se mantém como o 2º  maior produtor de algodão do Brasil tanto em quantidade (20,7% do total nacional) quanto em valor (23,0% do total gerado pelo produto, no país). Fica atrás apenas de Mato Grosso, que detém 69,2% da produção brasileira de algodão (4,9 milhões de toneladas de 7,1 milhões de toneladas) e 67,2% (R$ 12,8 bilhões) do valor gerado pela cotonicultura nacional.

Terceiro produto que mais gera valor para a agricultura baiana, o milho em grão rendeu, em 2020, R$ 2,1 bilhões ou 7,8% do valor agrícola total do estado. Assim como ocorreu com a soja e o algodão, foi um valor recorde para o produto, com aumento expressivo frente a 2019 (+105,2%, ou +R$ 1,1 bilhão). A safra baiana de milho em 2020 foi de 2,6 milhões de toneladas, 760.097 toneladas a mais do que o colhido em 2019 (+40,3%). Mas a Bahia é apenas o 9º maior produtor de milho do país, com o 8º maior valor de produção.

Outro destaque vai para a fruticultura, que seguiu em alta em 2020 (+11,7%, indo a R$ 3,5 bilhões). O estado respondia, no ano passado, por 8,6% do valor gerado pela fruticultura nacional (R$ 40,4 bilhões), com o segundo maior montante, abaixo apenas de São Paulo (R$ 13,0 bilhões ou 32,3% do total). Os três principais municípios baianos nesse ramo são Juazeiro, Casa Nova e Bom Jesus da Lapa.

“A Bahia já faz nome em relação à fruticultura há muitos anos, principalmente quando falamos de manga e uva em Juazeiro. Também vale destacar a banana em Bom Jesus da Lapa e também os municípios de Barreiras e Riachão das Neves com o cacau, que não está mais somente no sul da Bahia”, explica Stahlke.

A fruta mais rentável no estado, de acordo com a pesquisa, é a manga. A Bahia é o segundo maior produtor dessa fruta, atrás apenas de Pernambuco. De 2019 para 2020, a produção baiana de manga cresceu 6,4%, chegando a 470.487 toneladas,  28,2 mil toneladas a mais em relação a 2019. Já o valor de produção avançou 15,8% no período, chegando a R$ 755,4 milhões (mais R$ 102,9 milhões).

Juazeiro é o maior produtor de manga da Bahia e o segundo do país, em quantidade de fruta. Outro destaque vai para Casa Nova, que ocupa o 3º lugar do Brasil. Também vale ressaltar o desempenho do município de Livramento de Nossa Senhora, no centro-sul do estado, que ocupa o 5º lugar do ranking. Puxado pela manga e pelo maracujá, o município teve os maiores crescimentos absolutos na quantidade de frutas produzidas e no valor gerado por elas, na Bahia.

A Bahia é o segundo maior produtor de manga do país, atrás somente de Pernambuco (Foto: Divulgação/Seagri)

“No caso das frutas, a produção de manga e de uva está concentrada nos perímetros irrigados do Vale do  São  Francisco,  onde  os  municípios  de  Juazeiro  e  Casa  Nova  são  os  polos  principais. Bom Jesus da Lapa, por sua vez, é um importante polo de produção de banana e de mamão. E o  município  Livramento  de  Nossa  Senhora  vem  se  destacando  nos  últimos  anos  na produção de manga e maracujá”, explica o economista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Pedro Marques de Santana.

Municípios com destaque na agricultura baiana

Os crescimentos da produção e do valor gerado pela soja afetaram positivamente o desempenho das cidades agrícolas do oeste da Bahia. O estudo do IBGE traz os dez municípios baianos com maior valor de produção agrícola em 2020. Por ordem, são eles: São Desidério, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães, Riachão das Neves, Jaborandi, Mucugê, Juazeiro e Ibicoara.

Entre 2019 e 2020, Formosa do Rio Preto e São Desidério estiveram entre os três municípios brasileiros com os maiores avanços absolutos no valor da produção agrícola. São Desidério passou de 3º para 2º município com o maior valor gerado pela agricultura no Brasil; Formosa do Rio Preto teve o 2º maior crescimento absoluto do país e avançou do 11º para o 5º lugar no ranking nacional do valor agrícola.

Assim, em 2020, a Bahia seguiu como o 3º estado com mais municípios (seis) entre os maiores valores da produção agrícola do país. São eles: São Desidério, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães e Riachão das Neves, em ordem decrescente de posição.

“São Desidério, no Oeste, é uma referência na economia baiana, ao lado de Formosa do Rio Preto. Aquela região tem uma agricultura de ponta e utiliza muito pesquisas voltadas para o aumento de produção e produtividade. O cerrado é um bioma que revolucionou a agricultura no Brasil porque nossas pesquisas avançaram para fazer a correção do ph do solo e para aplicar a cultura irrigada devido aos baixos índices pluviométricos. Além disso, tem uma topografia que ajuda muito na mecanização”, aponta o secretário João Carlos Oliveira (Seagri).

Chapada Diamantina além do turismo

A Bahia tem os dois municípios com os maiores valores de produção de batata inglesa do país: Mucugê (R$ 483,3 milhões) e Ibicoara (R$ 321,3 milhões), ambos na Chapada Diamantina, região muito conhecida pelo potencial turístico. Entre 2019 e 2020, a Bahia passou do 5º para o 4º lugar entre os maiores produtores de batata inglesa do país, ultrapassando o Rio Grande do Sul.

Com uma safra de 234.630 toneladas, que gerou R$ 483,3 milhões em 2020, Mucugê é o maior produtor de batata inglesa da Bahia e o segundo maior do país, atrás de Perdizes, em Minas Gerais (238.950 toneladas). O município baiano tem ainda o maior valor de produção de batata do Brasil.

Já Ibicoara, segundo maior produtor de batata da Bahia e quarto do Brasil, registrou safra de 156.000 toneladas em 2020, gerando um valor de R$ 321,3 milhões, o que fez o município passar a ser o segundo do país em valor de produção da batata (em 2019, ocupava a terceira posição).

“Além  dos  atrativos  turísticos,  algumas  regiões  da  Chapada Diamantina vêm se destacando também na produção agrícola. A batata inglesa é o carro chefe devido ao peso  econômico,  sobretudo nos  municípios  de Mucugê e Ibicoara, mas também existe uma  produção  relevante  de  café  de  qualidade reconhecida  nacional  e  internacionalmente”, diz o economista da SEI, Pedro Marques de Santana.

Ele acrescenta ainda que o tomate  e a cebola  são  produtos  que também apresentam  peso   econômico  relevante  na   região. “Além   de   uma   miríade   de atividades que não são captadas pelas pesquisas, mas que são fontes de renda para milhares de  pequenos  e  médios  agricultores.  Eu  destacaria,  por  exemplo, a  produção  de  frutas vermelhas, que, devido ao clima e a técnicas adequadas de manejo, tem prosperado na região”.

O secretário de Agricultura, João Carlos Oliveira, também dá destaque às frutas vermelhas, principalmente ao morango e à pitaia, e acrescenta a uva, utilizada na produção de vinhos. “A Chapada é uma região de alta produtividade. Lá temos também a produção de vinhos, principalmente em Morro do Chapéu e Mucugê, o que fortalece o enoturismo na região”, aponta.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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