Empresa propõe debate sobre regramentos no primeiro dia da Onshore Week
Por Leandro Iamin
Quase um bilhão de reais investidos ainda em 2023. Esse é o número mágico que a Origem Energia tem como meta aproximada para injetar no estado de Alagoas no ano vigente, fruto da produção de gás natural que foi tema, nesta terça (11/4), do primeiro dia da Onshore Week. O número deve alcançar R$ 1,55 bilhão até 2027, segundo a empresa. O evento é promovido pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) em Maceió. Até o dia 13, quinta-feira, o setor produtivo do mercado de gás, óleo e derivados estará na capital alagoana, debatendo e trocando ideias com entes governamentais, agências de desenvolvimento e empresas independentes que investem na exploração terrestre de gás natural.
A cifra bilionária foi anunciada por Luiz Felipe Coutinho, CEO da Origem Energia. Desde fevereiro de 2022 a empresa já injetou cerca de R$ 390 milh
ões no estado, onde opera os campos de Pilar e Furado. A empresa está em atividade desde 2017, quando arrematou o campo de Garça Branca, no Espírito Santo. No ano passado, adquiriu o Polo Alagoas, tornando-se uma das mais importantes produtoras da região, que é onde se encontra o gás mais barato do Brasil. O preço do insumo foi impactado exatamente pela atuação da Origem, já que a empresa dobrou a produção local a partir de 2022, o que refletiu diretamente na relação entre oferta e demanda do gás.
“Vivemos um novo marco do gás natural do País, e a Onshore Week nos ajuda a mostrar para a sociedade o tamanho do potencial e da oportunidade que o Brasil tem de se posicionar entre as grandes nações do mundo no tema”, afirmou Coutinho. “Somos periferia no mundo em projetos sustentáveis, mas temos a chance de mudar este cenário”.
Para se ter uma ideia desse potencial, o Polo Alagoas pode estocar 1,5 bilhão de metros cúbicos de gás. Isso representa vinte vezes o que se consome no Brasil inteiro por dia. “A gente tem energia limpa e barata. Só precisa dar segurança a ela”, conclui Coutinho.
Regulação
A segurança a que o CEO da Origem Energia se refere pode ter a ver com outro tema central do encontro de Maceió: os marcos regulatórios, como a “Nova Lei do Gás” (14.134/2021) e as estruturas vigentes dentro das quais as operadoras atuam. Para Coutinho, o mundo mudou mais rápido do que as leis conseguiram acompanhar, e o mercado não está pronto para a competição entre empresas. “O gás nunca foi produto ou combustível energético prioritário no mundo, mas agora se tornou. O gás precisa ser prioridade no país, e para isso a gente não pode contar com uma lei elaborada quando o gás ainda não era prioridade. O arcabouço regulatório que temos hoje é oriundo de um monopólio. A gente precisa modernizar isto”, avalia.
Em seu discurso para o público, o CEO da Origem também lembrou que 60% do gás produzido em Alagoas não é utilizado pelo próprio estado, o que é desvantajoso e vai na contramão da prática mundial, além de ser mais um indicativo de que regulamentos do setor devem ser revistos.
Coutinho também apontou para o tema da demanda. “Discordo com veemência de quem diz que falta demanda de gás natural no Brasil. Foi a oferta, em função do monopólio, que optou por não criar as condições que a demanda precisa. A cadeia industrial começa no município e passa para os estados, depois para o agente federal”.
Debate e legislação local
O governador de Alagoas, Paulo Dantas, esteve presente na Onshore Week e falou ao público presente no Jatiúca Hotel & Resort. “Eu defendo que Alagoas tenha a lei mais competitiva de livre comércio. Uma lei que olhe para a política macroeconômica do setor”. O governador foi enfático no apoio às demandas regulatórias dos produtores. “Temos que respeitar o tempo e o regramento dos trâmites, mas esta é a casa adequada para ouvir todos, e faremos o necessário para intervir no que o setor entender que está prejudicando ou diminuindo a qualidade do projeto para o gás em Alagoas”.
Para Dantas, debater o momento do gás na região é um tema que transcende o tema em si. “As empresas produtoras de gás são importantes para todo o desenvolvimento do Nordeste. Temos ainda muitas desigualdades sociais. Com parcerias público-privadas, que garantam estratégias inovadoras, nós vamos diminuir essas diferenças, e é este o nosso objetivo central de governo”, garantiu.
Presença feminina
Primeira pessoa a falar na Onshore Week, Karine Fragoso, presidente da ONIP, quebrou o protocolo logo após dar bom dia aos presentes. Pediu uma cadeira a mais e solicitou que a deputada Fátima Canuto, relatora da Lei do Gás, subisse ao palco e ocupasse um espaço. “Mais uma representante feminina nessa mesa de abertura, pra gente colorir ainda mais nosso evento”, explicou.
Fragoso também falou sobre o evento. “Além da eficiência, a gente quer construir um ambiente de integração energética. Que a gente possa trabalhar para além do que o gás pode entregar, mas na construção de um caminho que seja muito melhor pra todos nós. Quero falar sobre a necessidade de ter esforço de coordenação tanto para questões de regulação, quanto para os nossos investidores”.
A própria deputada Fátima Canuto, “pilarense com orgulho”, também falou no evento. “Alagoas e Pilar (município da região metropolitana de Maceió) vivem um momento único, uma janela para o futuro com a chegada desses investimentos, mas para que esse futuro se realize é preciso que todos façam sua parte: governo, empresas e assembleia, buscando unificar seus interesses. Nosso papel é garantir que o arcabouço legal do estado promova e incentive os investidores a trazerem novas indústrias, mas também garanta as contrapartidas sociais e ambientais necessárias para a sustentabilidade e a qualidade de vida dos alagoanos”, ressaltou a parlamentar.
A Origem Energia, criada e presidida por Luna Viana, mantém cerca de 25% dos postos de trabalho ocupados por mulheres. Luna é engenheira de petróleo, e, para conseguir empreender a este nível, vendeu um bem para competir, em 2017, no leilão de Garça Branca. Era o começo da Origem, que hoje é a patrocinadora master da Onshore Week. Ao longo dos três dias de debates, são esperados 70 palestrantes de várias vertentes ligadas à integração energética, lei do gás, estocagem subterrânea, infraestrutura e outros temas.