A Origem Energia, operadora do Polo Alagoas de petróleo e gás natural (GN) desde a conclusão da compra dos ativos da Petrobras no estado em 2022, anunciou que vai liderar o primeiro modelo de estocagem do Brasil.
Controlada pela Prisma Capital, a empresa já havia indicado intenções em investir na estocagem desde que finalizou as transações com a estatal brasileira. O projeto aguarda apenas a regulamentação da atividade pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A ausência de um modelo claro para armazenamento de gás é considerado hoje um dos entraves para equilibrar a relação entre oferta e demanda do insumo, especialmente em períodos de escassez elétrica (no caso brasileiro, geralmente provocado por longos períodos de estiagem, que comprometem a produção das usinas hidrelétricas).
A nova Lei do Gás e seu decreto regulamentador, em 2021, já abriram caminho para a definições mais claras sobre como deve ocorrer a atividade de acondicionamento e armazenamento do insumo. A previsão legal é de que a estocagem deve ser feita em estruturas subterrâneas “em formações geológicas produtoras ou não de hidrocarbonetos”.
A proposta da Origem é a de usar exatamente os chamados poços de óleo e gás depletados, ou seja, que já foram exauridos ou que não possuem mais valor comercial. Este modelo já é utilizados nos Estados Unidos por 80% dos cerca de 6 mil produtores de estoques de GN. A Origem não anunciou ainda quais poços em Alagoas seriam transformados em estoques de gás.
Em comunicado divulgado ontem pela Origem à imprensa, a companhia realçou que a Europa armazena atualmente cerca de 110 milhões de metros cúbicos de gás em 170 instalações. No Brasil, este número é zero.
O diretor técnico da empresa e um dos cofundadores da Origem Energia, Nathan Biddle, lembra que a questão do armazenamento do gás teve sua importância estratégica para a Europa realçada em função da guerra entre Rússia e Ucrânia. A alta dependência de gás dos países europeus em relação à Rússia tornou-se um dos dilemas diplomáticos , econômicos e vitais para o posicionamento frente à guerra, especialmente diante do risco de a Rússia interromper o fornecimento durante o rigoroso inverno europeu.
Entre os argumentos da Origem frente à expectativa de regulamentação da atividade de estocagem de gás é exatamente o risco de interrupção de energia quando falham outras fontes geradores de energia. Da geladeira doméstica aos parques fabris, a quebra no abastecimento energético produz uma reação em cadeia na economia, além de comprometer o bem-estar social.
Além da Origem Energia, as empresas Engie, Gas Bridge e NTS já manifestaram interesse em investir em estocagem de gás no Brasil. Mas os anúncios recentes de R$ 1,55 bilhão investimento até 2027 no mercado terrestre indica que a Origem pode sair na frente, exatamente a partir de Alagoas. As condições favoráveis para isso são reforçadas pelo fato de que o estado sai na frente dos demais na definição das proposições legais para o funcionamento das atividades de estocagem. Um projeto de lei sobre o tema já tramita na Assembleia Legislativa alagoana.
A Origem Energia foi patrocinadora master da Onshore Week 2023, promovida em Maceió entre 11 e 13 de abril pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP).