Por Gustavo Ferreira
Para Valor Investe
A rede de farmácias Pague Menos tem no nome seu maior trunfo: a proposta de fisgar o cliente pelo menor preço do mercado. Mas esse é também seu maior risco, do ponto de vista dos acionistas. A variação de um mesmo medicamento no Brasil chega a 400%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. E é justamente cobrando o piso dessa variação, conforme a empresa sustenta em entrevista ao Valor Investe, que a companhia se propõe a maximizar lucros.
“A Pague Menos realmente faz jus a seu nome, convido todos a fazerem uma comparação de preços entre nossos produtos e de nossos concorrentes”, diz o diretor financeiro e de relações com investidores Luiz Renato Novais. “A gente leva muito a sério nosso nome como proposta de valor e vai continuar operando assim.”
Entregar uma boa rentabilizar a investidores praticado os menores preços não é uma conta trivial de ser fechada. Desafio que, de acordo com Novais, é superado vendendo produtos de marca própria — que vão desde remédios e vitaminas até cosméticos —, com os quais, diz o executivo, se consegue uma margem de lucro próxima de 50%. “Diferentemente de um medicamento de referência, por exemplo, que oferece uma margem entre 15% e 20%m ou de um produto de higiene de outras marcas, com margem de entre 20% e 25%”, explica.
Que empresa é esta?
O foco principal da Pague Menos, uma companhia de 40 anos e mais mil lojas em todos os Estados do Brasil, são os brasileiros de mais baixa renda. Mas não fornecendo os produtos ao alcance das mãos na prateleiras. “Temos como proposta, além de oferecer à população bons preços, oferecer uma solução mais completa de saúde“, diz Novais.
“As atenções da Pague Menos estão voltadas hoje, especialmente, aos cerca de 70% dos brasileiros sem plano de saúde.”
Ou seja, aos brasileiros sem acesso a grandes hospitais e laboratórios, e com pouco dinheiro, mas suficiente para escapar das filas de atendimento público — um número crescente por força da crise, que, dramaticamente, exige maiores demandas por cuidados médicos num momento de alto desemprego e endividamento das famílias.
“Temos hoje 830 lojas com ambiente que chamamos de clínica farmacêutica. Nesse ambiente, oferecemos quase 50 serviços diferentes, desde telemedicina, exames laboratoriais mais simples, aferição de pressão e glicemia, agora testes de covid-19 e vacinas“, diz o RI.
Novais destaca o momento de digitalização pelo qual tem passado a empresa. Uma exigência, aliás, considerando os cuidados de isolamento forçados pela pandemia. E atribui a isso o crescimento de 20% do faturamento das companhia entre os segundos trimestre de 2020 e deste ano.
“No primeiro semestre deste ano estamos com o lucro líquido maior que de todo o ano passado inteiro“, diz. “E ainda temos várias alavancas de incremento de faturamento e melhora de margem [para ser acionadas], e, consequentemente, melhoria de Ebitda [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização]”.
Dentre esses botões de propulsão a serem acionados, explica Novais, está justamente a estreia na bolsa feita pela empresa em agosto de 2020. Depois de serem captados pela empresa R$ 850 milhões, seus papéis passaram por alguns maus bocadas até engrenarem. Mas, desde a compra da Extrafarma, em maio, vão de vento em popa.
Da estreia em 4 de setembro de 2020 até 1º de abril, os papéis amargavam queda de 8%. De lá para cá, já são mais de 28% de alta acumulada. Que, caso os planos de expansão nas regiões Norte e Nordeste da companhia sejam bem-sucedidos, têm tudo para continuarem em ritmo exponencial de avanço.