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7 de dezembro de 2024 00:38

SERTÕES: A resiliência do solo sertanejo na arte de Geovana Cléa

SERTÕES: A resiliência do solo sertanejo na arte de Geovana Cléa

Leia a entrevista exclusiva com a premiada artista alagoana radicada na Itália que já expôs nos maiores salões de arte do mundo e desembarca em Alagoas com sua primeira exposição individual no país
Geovana Cléa | Foto: Maria Daiane

A Dom Galeria, localizada na Ilha do Ferro, povoado que é um polo artístico localizado na cidade de Pão de Açúcar, no Sertão alagoano, apresenta a exposição SERTÕES, primeira individual no Brasil da premiada artista plástica alagoana Geovana Cléa, radicada na Itália.

A mostra reúne obras inéditas selecionadas da série “Chão Rachado”, inspiradas na aridez do solo sertanejo. A abertura será no dia 20 de janeiro, às 19 horas. A exposição é aberta ao público e pode ser vista até 10 de fevereiro.

Rafael Gomes Brandão, o artista e arquiteto por trás da DOM galeria, conta que a galeria nasceu na Ilha do Ferro como um lugar de encontro de dons de artistas populares, contemporâneos, artesãos e designers. Se desdobrou, para além de galeria, em um espaço de produção e provocação cultural, realizando eventos e exposições colaborativas com outras curadorias, além de instrumento de valorização e exaltação da cultura local.

Rafael Gomes Brandão | Foto: Maria Daiane

“O encontro com Geovana Cléa foi um momento de sinergia sertaneja. A exposição SERTÕES é um filho gerado do maravilhamento de dois artistas sertanejos, que se conheceram a princípio virtualmente, mas que se reconheceram nas referências comuns aos dois, na poesia do chão do sertão alagoano que permeia os imaginários”, conta o curador da exposição.

Na produção das peças, a artista utiliza o barro preto da lagoa que deu origem ao nome de sua cidade natal, Inhapi, que significa “água sobre pedra”, localizada em uma das regiões mais secas do estado, território original do povo indígena koiupanka. Também serve de matéria-prima o mesmo mineral coletado em outra região de Alagoas, a Ilha do Ferro, povoado do Médio Sertão conhecido por sua pulsão artística. A partir desse processo, Geovana Cléa recria a textura do chão sertanejo, símbolo da resistência de um povo e parte das suas memórias e referências de vida, fazendo um convite à reflexão acerca da força e resiliência.

Sertões | Foto: Maria Daiane

Influenciada justamente por suas origens, a artista tem na natureza o elemento predominante em suas criações. Ela encontrou estímulo para produzir parte das peças a partir da observação do rio italiano Trebbia, de terreno argiloso, durante o verão europeu. A padronagem desenhada pelo sol no chão remeteu à infância, mote que a estimulou na criação da série, que conta com uma exposição ainda em cartaz no Castelo de Rivalta, na Itália.

Entrevista com Geovana Cléa

Geovana Cléa é uma renomada artista visual que atua na Itália e internacionalmente por mais de 20 anos, destacando-se por sua abordagem única que combina características expressionistas, abstratas, conceituais e minimalistas. Ela é membro imortal da Academia de Ciências, Letras e Artes de São Paulo, e participou da 54ª Bienal de Veneza. Geovana recebeu o prêmio do júri da Comissão de Belas Artes de Paris durante sua terceira participação no Salão Nacional de Belas Artes do Louvre, conhecido como o salão dos artistas impressionistas desde 1861.

Além de suas realizações artísticas, Geovana Cléa fundou a EOTW Gallery e o movimento internacional de arte contemporânea “Emotions of the world”, que tem proporcionado oportunidades para vários artistas emergentes. Ela também tem colaborações significativas no mundo do luxo, trabalhando com três diferentes marcas de design internacional. Sua presença no Salone del Mobile de Milão, ao longo de quatro anos, incluiu exposições pessoais, estabelecendo uma conexão única entre arte e design de luxo, um conceito reconhecido e apreciado globalmente.

Essa será sua primeira exposição individual no Brasil, com muitos anos de sucesso em exposições por todo o mundo. Como surgiu a ideia de expor seu trabalho no sertão alagoano?

Aconteceu! 

As duas primeiras obras da série “Chão Rachado” justamente em homenagem ao sertão, foram feitas para minha exposição ainda em cartaz no Castello de Rivalta na Itália até o dia 31 de janeiro, com o barro seco que recolhi no rio italiano Trebbia, quando essas obras foram ganhando vida, fui me emocionando ao ver elas tomarem forma e nessa vinda de férias para o Brasil, quis experimentar produzir com o barro do sertão, o que foi ainda mais surpreendente pra mim.

Assim que cheguei, dei uma passada pela Ilha do Ferro, na Galeria DOM, e foi incrível a experiência ,que misturada com a maravilhosa energia entre eu e o arquiteto Rafael Gomes Brandão, proprietário da galeria e curador da exposição e estamos aqui! 

Foi tudo simples, sem muitos planos. Quando cheguei naquela galeria senti parte da minha essência de mulher sertaneja se acender por dentro e isso me transmitiu felicidade. Começar por ali fala muito do que minhas obras tem, elas como eu, são filhas de uma alma sertaneja. 

Sua obra traz muitos elementos que remetem ao solo, ao chão e ao brilho. Não sou especialista em arte, mas o sentimento que me traz é o de mostrar o brilho da terra, algo como uma aura de ancestralidade. Tem mesmo um pouco disso? Quanto da sua inspiração vem do solo do Nordeste brasileiro e  do sertão alagoano?

Acredito que todo o meu trabalho tenha uma conexão extremamente profunda com o sertão. Toda obra tem a alma do artista e quando conseguimos enxergar alma: tem arte. Minhas obras nada mais são do que todas as memórias mais singelas de tudo o que me fez feliz na infância. 

Sou filha de um homem sertanejo que incentivou meus sonhos e entendeu minha alma sensível desde muito pequena. Hoje ele não está mais entre nós, descansa no sertão e é exatamente lá que encontro em cada pedacinho um pouquinho do que ele é e sempre será pra mim.

O que faz a obra ser mágica é o amor e a sensação de pertencimento que existe, inclusive na extensão dos sentimentos da artista para a obra, tudo muito mágico, e é assim quando tem amor.

Então, sem dúvida, a alma do meu trabalho é brasileira, nordestina e sertaneja.

Depois da exposição em Alagoas, haverá exposições em outros lugares do país? Pode adiantar alguma coisa?

Depois da Ilha do Ferro, estarei de volta para Itália, estou em fase de preparação para a minha quinta participação no salão do móvel de Milão.

Para o Brasil, depois da Ilha do Ferro, existe uma ideia no ar de fazer uma exposição individual em São Paulo, mas no caso, será uma surpresa, o que garanto é que por onde eu passar, saberão que o sertão de Alagoas é maravilhoso e que essa artista aqui é apaixonada por ele.

 

Serviço:

Onde: DOM galeria, Ilha do Ferro, Alagoas, Brasil 

Quando: de 20 de janeiro a 10 de fevereiro Abertura: 20 de janeiro, 19 horas 

Visitação gratuita 

Informações: (82) 9 9914-5421

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