Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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27 de julho de 2024 00:24

3 Perguntas com Vinicius Lages: transformação digital e oportunidades no cenário pós-pandemia

3 Perguntas com Vinicius Lages: transformação digital e oportunidades no cenário pós-pandemia

Entenda os obstáculos estruturais e as transformações regionais através da visão do Superintendente do Sebrae em Alagoas, Vinicius Lages

Bem-vindos à estreia da nossa mais nova coluna, 3 Perguntas, aqui no portal Investindo por Aí! Neste espaço, mergulharemos no vibrante universo dos negócios no Nordeste, conversando com personalidades de destaque que têm contribuído para o crescimento econômico e o empreendedorismo na região.

Para inaugurar essa jornada de descobertas, temos a honra de receber Vinicius Lages, superintendente do Sebrae em Alagoas. Com uma vasta experiência no mundo empresarial e um profundo conhecimento das peculiaridades do Nordeste, Lages é engenheiro agrônomo pela UFAL, mestre em Gestão Ambiental por Stanford e doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris.

Vinicius Lages | Foto: reprodução

Sua trajetória inclui destacadas posições no Sebrae Nacional, onde desempenhou funções cruciais. Além disso, ocupou o cargo de ministro do Turismo do Brasil durante a realização da Copa do Mundo da FIFA 2014. Sua influência se estende além do ambiente empresarial, abrangendo também a academia, onde foi professor, na Universidade Federal de Alagoas. Com sua rica bagagem profissional, Vinicius Lages é uma personalidade multifacetada cuja visão promete enriquecer nossa compreensão do cenário econômico no Nordeste.

  1. Vinicius, quais são os principais desafios enfrentados pelas micro e pequenas empresas em Alagoas ao longo dos anos, e como o Sebrae tem contribuído para superá-los? O perfil desses desafios tem mudado ao longo do tempo?

Podemos começar destacando dois desafios que são estruturais da nossa economia e afetam os pequenos negócios em todo o país.

  • Baixa Produtividade:

Passado o período do bônus demográfico no país, a única forma de aumentar a geração de riquezas e crescimento sustentável se dá pela elevação da produtividade. Segundo estudos da FGV, nos últimos 40 anos a taxa média de crescimento da produtividade do trabalhador brasileiro foi de 0,6% ao ano, uma das mais baixas do mundo.

Vários fatores contribuem para o baixo desempenho da produtividade no Brasil, incluindo a falta de investimentos em infraestrutura (custo do frete, energia, matéria prima…) a baixa qualidade da mão de obra (baixo nível educacional), a burocracia excessiva e a falta de inovação.

O único setor que apresentou crescimento robusto e sequenciado desde 1995 foi a Agropecuária com crescimento médio da produtividade por hora trabalhada de 5.6%aa.

O setor Industrial sofreu queda de 0,2%aa enquanto o de Serviços, que responde por 70% das horas trabalhadas teve um crescimento de 0,4%aa.

Fontes: [1],[2]

  • Dificuldade de Acesso a Crédito e Investimento:

Em comparação com grandes empresas, os Pequenos Negócios muitas vezes encontram mais dificuldades em obter crédito e em condições favoráveis. De maneira geral os pequenos possuem menos ativos para oferecer como garantia e o histórico de faturamento não contribui nas negociações o que aumenta o risco para os credores.

Considerando o fato de o Brasil ter uma das maiores taxas de juros do mundo, o investidor (que possui capital) pode preferir aplicar seu dinheiro em títulos do governo, por exemplo, que são de baixo risco. Essas questões dificultam ainda mais a possibilidade de um empreendedor encontrar um investidor para seu negócio.

Segundo levantamento do próprio Sebrae (de 2022), 6 de cada 10 empreendedores que acessaram crédito, obtiveram empréstimo como Pessoa Física e não como Pessoa Jurídica. O levantamento do Sebrae mostra que, entre 2020 e 2022, cresceu a proporção de empresários que declaram ter encontrado dificuldades para obter um novo crédito ou financiamento. A proporção saltou de 63% para 84% (recorde histórico da série).

A barreira de acesso a crédito dificulta a capacidade de investimento do pequeno negócio em novos maquinários (mais modernos e eficientes), ou em ampliações físicas ou melhoria da estrutura da empresa (mais área de atendimento, vitrine e fachada, mais leitos…) e assim voltamos à questão da baixa produtividade estrutural.

Fonte: [1]

Além disso os pequenos negócios enfrentam dificuldades relacionadas à competição com as Médias e Grandes empresas que possuem maior capacidade de negociação com fornecedores (compram com melhor preço) ou ainda que facilitam a venda por meio de parcelamentos ao cliente final.

A Burocracia para abrir, operar e fechar empresas no Brasil é notória, apesar de ter melhorado muito nos últimos anos, a Carga Tributária e a Complexidade do Sistema Fiscal que dificultam a contatação de novos postos de trabalho e fazem com que o empreendedor frequentemente necessite de um especialista para garantir que esteja cumprindo as obrigações fiscais.

Mais recentemente e de forma mais evidente à partir da pandemia de covid, os empreendedores enfrentam desafios relacionados à transformação digital de seus negócios. De uma hora para outra muitos descobriram que não tinham dados sobre seus clientes, portanto, quando precisaram fechar as portas para atendimento, não tinham como reestabelecer um fluxo de oferta e vendas. Não estavam preparados para o e-commerce, não tinham presença digital. Estamos atualmente em um estágio onde os negócios devem ser compreendidos num espaço ‘figital’, onde o relacionamento com o cliente pode começar por canais digitais ou físicos e se alternarem ao longo da jornada, portanto, os empreendedores e os negócios precisam estar preparados e serem flexíveis em seus processos para atender de forma rápida e eficiente esse novo consumidor.

O SEBRAE atua em todas essas frentes, seja no nível da empresa, desde as ações mais básicas relacionadas aos controles gerenciais mínimos do negócio (caixa, formação de preço, gestão do estoque, relacionamento com o cliente) à ações de intervenção em melhoria de processos para ganhar eficiência e produtividade como o programa de Agentes Locais de Inovação (ALI), um serviço gratuito que oferece acompanhamento personalizado à empresa, e o Sebraetec que leva serviços tecnológicos especializados para que as empresas possam inovar em produtos e processos. O Sebraetec é um programa subsidiado pelo Sebrae, o que torna os serviços mais acessíveis para as empresas. Ao empresário cabe apenas 30% do investimento.

Atuamos ainda em nível mais sistêmico, relacionado ao ambiente de negócios envolvendo a articulações e parcerias com outras instituições, públicas ou privadas, para ampliar a participação dos pequenos negócios na economia. Essas ações envolvem o desenvolvimento de Lideranças, para que se tornem capazes de contribuir para o desenvolvimento da sua localidade, a participação dos pequenos negócios em compras públicas e acesso a novos mercados, o desenvolvimento e fortalecimento dos Ecossistemas Locais de Inovação que aproximam a Academia, Instituições de Pesquisa e Fomento e a iniciativa privada na construção de soluções para os desafios de um território e a Educação Empreendedora, trabalhada desde o ensino fundamental como instrumento para desenvolver competências que preparem os futuros e potenciais empreendedores para se tornarem protagonistas da transformação da sua realidade e do seu ambiente.

2. O Nordeste tem mostrado um crescimento significativo em setores como turismo e tecnologia nos últimos anos. Como você enxerga o papel do empreendedorismo local nesse processo de transformação regional?

Estamos vendo nesses últimos anos um consistente fluxo de investimentos, seja na instalação de novos empreendimentos hoteleiros, acompanhados de melhoria na infraestrutura de estradas e na retomada e expansão da malha aérea para nosso estado. A combinação desses fatores associada ao crescente fluxo de turismo doméstico forma um cenário bastante positivo para o setor de turismo e serviços em Alagoas.

O Sebrae vem atuando junto às Instâncias de Governança Turísticas com foco na estruturação de rotas gastronômicas, desenvolvimento de atrativos turísticos e integração com a economia criativa. O trabalho envolve ações com o poder público municipal e estadual, entidades representativas do setor e os pequenos negócios dessa cadeia. Buscamos expandir a oferta turística para além do turismo de sol e praia onde já somos reconhecidos. O interior do estado possui grandes oportunidades no turismo ecológico, religioso ou de experiência, quando você proporciona vivências sobre a cultura, o modo de viver e de fazer de uma comunidade. Estamos celebrando uma nova parceria com o Governo do estado, através da Secretaria de Turismo, a chamada Escola de Turismo, com foco na qualificação em empreendedorismo e gestão para as empresas da cadeia produtiva do turismo.

Considerando o fato de a maioria absoluta dos municípios, seja em Alagoas ou em todo o Nordeste, terem sua economia fundamentada em pequenos negócios e na produção da agricultura familiar, o estímulo ao desenvolvimento e fortalecimento do empreendedorismo de caráter inovador, que pense soluções para além do consumidor local, são peças fundamentais para a geração de emprego e desenvolvimento econômico dos territórios.

3. Considerando o cenário pós-pandemia, quais são as oportunidades que estão surgindo para quem deseja empreender e como o Sebrae está apoiando a adaptação e inovação das empresas nesse contexto?

A pandemia trouxe uma série de mudanças de comportamento e consumo, ou ainda na maneira como percebemos o impacto de nossa atuação, e essa mudança tem influenciado a construção de novos modelos de negócios ou ainda expandido mercado para quem já explorava essas oportunidades. Alguns segmentos se destacam nesse contexto:

Consumo virtual: O aumento do consumo virtual ou à distância é uma tendência que deve continuar e que abre oportunidades para empreendedores que atuam no comércio eletrônico ou nos serviços associados como logística e tecnologia da informação;

Saúde e bem-estar: As mudanças de comportamento que surgiram durante a pandemia, como o aumento da preocupação com a saúde e o bem-estar, saúde mental, devem continuar sendo uma tendência;

Inteligência Artificial: A aplicação da Inteligência Artificial e IoT (Internet das Coisas) como soluções para melhoria da eficiência e produtividade nas empresas;

Tecnologia 5G: A tecnologia 5G habilita o desenvolvimento de uma série de serviços e negócios e deve crescer no mundo do empreendedorismo;

Consumo consciente: O consumo consciente, que inclui a preocupação com questões ambientais e sociais, é uma tendência que deve continuar no pós-pandemia. Negócios que respondam aos desafios de eficiência, que gerem menor impacto no consumo de recursos como energia, água, matéria prima etc.;

Segurança de dados: A segurança de dados é uma tendência importante em função de toda a transformação digital que já ocorre e a intensificação do uso de recursos de tecnologia da informação.

O Sebrae participa de todas as etapas de estruturação do negócio, seja ele tradicional ou de base tecnológica. Nossa atuação começa na ‘ideação’ ou definição do modelo de negócio, quando se entende quais problemas ou demandas do mercado o empreendimento irá solucionar, aos estágios de prototipagem e construção do MVP, testes de validação, lançamento, busca por capital ou investidores e estágios posteriores de expansão do negócio.

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