A produção de arroz na região do Baixo São Francisco, em Alagoas, tem mostrado sinais positivos de crescimento e desenvolvimento. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a projeção da safra de arroz para 2024 no estado é de 23,4 mil toneladas, representando um aumento de 4,5% em relação à safra de 2023.
Os nove estados do Nordeste devem produzir 351 mil toneladas do grão em 2024. No Brasil, a previsão é de uma safra total de 10,2 milhões de toneladas.
Este aumento na produção não é apenas um reflexo de condições climáticas favoráveis, mas também resulta de um suporte financeiro significativo. No primeiro semestre de 2024, o Banco do Nordeste (BNB) financiou R$ 2,24 milhões para a atividade de rizicultura em Alagoas. Este valor representa um aumento de 33% em comparação com o mesmo período do ano passado. Penedo, Igreja Nova e Porto Real do Colégio concentram a produção do grão.
Os dados revelam que o apoio financeiro está sendo vital para sustentar e incrementar a produção de arroz na região.Em 2023, o BNB contratou um total de R$ 2,37 milhões para o cultivo e beneficiamento de arroz em Alagoas. Esse montante, comparado ao financiamento já realizado no primeiro semestre de 2024, demonstra um impulso significativo no investimento para esta atividade.
Cultivo de arroz impulsiona desenvolvimento de Igreja Nova
Em entrevista ao Investindo Por Aí, William Rodrigues, gerente executivo do Distrito Irrigado do Perímetro de Boacica (DIB), uma região produtiva administrada pelos próprios produtores locais. O gerente ressaltou a importância do cultivo de arroz na região de Igreja Nova. Ele destacou a história e o papel econômico dessa atividade para a comunidade local.
“O distrito Boacica é um perímetro irrigado da Codevasf que, a partir de 1997, passou para a administração dos agricultores. São 769 lotes que incluem arroz, cana, fruticultura e pastagem para pecuária. A área destinada ao arroz varia de 250 a 300 lotes, dependendo da decisão dos agricultores em plantar na safra ou não, influenciada por diversos fatores”, explicou Rodrigues.
Reforma agrária deu autonomia a produtores
Rodrigues lembra que o cultivo de arroz é uma característica histórica da região. “Antes da construção das hidrelétricas, os agricultores plantavam arroz nas vazões do rio durante as cheias. Com a construção das usinas de Xingó e Sobradinho, o Banco Mundial, junto com a Codevasf, criou perímetros irrigados para compensar essas perdas”, conta.
O gerente do distrito explicou ainda que o desenvolvimento econômico local só foi possível graças a uma reforma agrária realizada na região em 1984, quando terras de grandes proprietários foram adquiridas pela Codevasf e distribuídas para os agricultores, que em 1997 passam a gerenciar a produção, formando o distrito que hoje é administrado por um conselho administrativo independente.
Produtores utilizam tecnologia de drones para aumentar produtividade
Rodrigues destacou a transformação econômica proporcionada pelo cultivo de arroz em Igreja Nova. “O arroz faz parte da história de Igreja Nova e mudou a realidade de muitas famílias, que hoje possuem uma renda expressiva graças ao projeto. Em períodos de bom preço, um lote de arroz é bastante rentável. O projeto, em si, e o arroz que está dentro dele, mudaram a vida de todo o município de Igreja Nova”, relata.
Para Lindomar Bispo, agricultor de Igreja Nova, o apoio de instituições como o Banco do Nordeste é fundamental. Ele conta que a cana-de-açúcar, que antes era a principal fonte de renda, começou a apresentar problemas de rentabilidade e que, com apoio, pôde diversificar suas atividades. “Eu, por exemplo, mudei para diversificar meu negócio”, explicou, sublinhando a necessidade de adaptação para garantir a viabilidade econômica.
Ele também destacou o papel do Banco do Nordeste no apoio aos produtores da região. “O Banco do Nordeste tem ajudado muito financiando os agricultores da região”, afirmou, destacando a importância do suporte financeiro oferecido pela instituição. O agricultor iniciou sua parceria com o banco em 2023, o que, segundo ele, tem sido crucial para a continuidade e o crescimento de seu negócio.
A transformação através de incentivos e parcerias
A engenheira agrônoma Cleice Alves, da Cooperativa Pindorama – Fábrica de Beneficiamento de Arroz, falou ao IPA sobre o atual cenário da rizicultura no Baixo São Francisco, em Alagoas. Cleice destacou a importância e a transformação do cultivo de arroz na região, abordando os desafios enfrentados e as estratégias implementadas para revitalizar a cultura.
Segundo a engenheira, “a rizicultura no estado de Alagoas abrange três municípios: Pereiro, Igreja Nova e Porto Real do Colégio”. Ela sublinhou que, em Porto Real do Colégio e Igreja Nova, a rizicultura possui um impacto social e econômico significativo, sendo uma fonte crucial de sustento para uma parte substancial da população local.
A engenheira agrônoma observou que, historicamente, a cultura do arroz sofreu uma “desvalorização”. “Com o tempo, houve uma desvalorização dessa cultura”, revelou Alves, apontando que áreas anteriormente dedicadas ao cultivo de arroz foram substituídas pela plantação de cana-de-açúcar. No entanto, Cleide notou uma mudança positiva com a chegada da Cooperativa Pindorama, que tem promovido a valorização e o incremento da produção de arroz na região.
“Nos últimos anos, observamos uma valorização crescente do arroz, especialmente com a intervenção da cooperativa”. Este renascimento é também impulsionado por iniciativas de fomento, como a da Desenvolve, uma agência de desenvolvimento do estado de Alagoas, que criou uma linha de crédito específica para a rizicultura. “A Desenvolve tem uma linha própria para a cultura do arroz, o que representa um incentivo substancial para os produtores”, comentou Alves.
A Cooperativa Pindorama tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, fornecendo crédito para os produtores, oferecendo assistência técnica e garantindo a confiança na comercialização e beneficiamento do arroz. “O apoio financeiro e a assistência técnica proporcionada pela Pindorama e pela Desenvolve têm sido cruciais para o escoamento e o beneficiamento da produção”, afirmou Alves.
Além disso, a parceria com instituições financeiras como o Banco do Nordeste tem reforçado o suporte ao setor. A engenheira ressaltou que a intervenção da Desenvolve e outras instituições financeiras têm contribuído para a eliminação de intermediários que oneravam os produtores com juros elevados. “A entrada de crédito através de agências de fomento e bancos têm permitido aos produtores uma negociação direta com as empresas, aumentando a valorização do arroz”, explicou.
O cenário atual da rizicultura no Baixo São Francisco, portanto, é de esperança e renovação. O incentivo financeiro, combinado com a assistência técnica e a valorização do produto, tem contribuído para um crescimento significativo e sustentável da produção de arroz, reforçando seu papel vital na economia local e regional.
Alagoas e Sergipe buscam otimizar produção
A criação de uma câmara intersetorial para a rizicultura no Baixo São Francisco, envolvendo tanto Alagoas quanto Sergipe, também surge como um fator relevante. Esta iniciativa busca alinhar e fortalecer as ações entre os setores público e privado, visando otimizar a produção e o beneficiamento de arroz na região. Sergipe, por exemplo, já é o terceiro maior produtor de arroz do Nordeste, com uma produção de 92 mil toneladas, e a colaboração intersetorial poderá trazer benefícios mútuos para ambos os estados.
A rizicultura dos dois estados se concentra em municípios ribeirinhos margeados pelo Rio São Francisco, na região Sul dos estados. Do lado sergipano, o plantio de arroz se concentra nas cidades de Brejo Grande, Ilha das Flores, Neópolis, Pacatuba, Propriá e Telha. Já do lado alagoano, Penedo, Igreja Nova e Porto Real do Colégio concentram a produção do grão.
A secretária executiva de Agricultura Familiar, Renata Andrade, explicou que o Governo de Alagoas está trabalhando para aumentar o potencial produtivo do estado. “Conseguimos trazer especialistas na rizicultura de Goiás que visitaram as áreas de produção, conversaram com os produtores e os gestores locais. O arroz faz parte da base da alimentação das famílias alagoanas, sendo um importante produto para o combate à fome no estado. E no campo gera renda para os agricultores”, afirmou.
Banco custeia desde a implantação até a colheita do arroz
Em entrevista ao IPA, Fredi Fonseca, gerente da agência do Banco do Nordeste em Penedo, forneceu informações detalhadas sobre as perspectivas de crescimento da produção de arroz no Baixo São Francisco de Alagoas. Segundo ele, as perspectivas são imensas, especialmente nos municípios de Igreja Nova, Porto Real do Colégio e Penedo, com destaque para a atividade irrigada. Fonseca ressaltou também o incentivo para a produção em sequeiro, que pode expandir a cultura para outras regiões ainda não exploradas.
“O Banco tem financiado custeio, que inclui implantação, tratos culturais e colheita, e investimentos para mecanização e automatização da atividade, como tratores, colheitadeiras e drones”, disse Fonseca. O objetivo principal dessas ações é melhorar a produtividade, reduzir custos e diminuir os impactos ambientais da atividade agrícola.
Recentemente, um produtor de Igreja Nova recebeu uma colheitadeira de arroz, um investimento total de R$ 1,4 milhão, composto por financiamento do Banco do Nordeste e recursos próprios do produtor. Este é um exemplo concreto do apoio do banco ao setor agrícola na região.
Produção de arroz busca independência regional
Para o economista Renan Laurentino, a produção de arroz no Baixo São Francisco de Alagoas é uma atividade de grande potencial econômico. Ele ressalta que o cenário atual da rizicultura no estado é promissor.
Com projeções de safra em alta e um suporte financeiro robusto, os rizicultores locais encontram-se em uma posição favorável para expandir suas operações e contribuir ainda mais para o desenvolvimento econômico regional. A continuidade deste crescimento dependerá, em grande parte, da manutenção do apoio financeiro e de políticas públicas eficazes que incentivem a produção sustentável de arroz.
“O cultivo do arroz tem sido uma prática de longa data no Nordeste brasileiro, apesar de não ser realizado em larga escala e com algumas oscilações ao longo dos anos. Recentemente, a discussão sobre a situação no Rio Grande do Sul despertou nos outros estados a consciência sobre a dependência de culturas de outras regiões. Essa conscientização incentivou o desenvolvimento de culturas próprias, como o arroz e a fruticultura, no Nordeste”, explicou o economista.
Economista Renan Laurentino fala sobre a importância econômica da região
Ainda de acordo com o especialista, além do arroz, o Vale do São Francisco é destacado pela produção de vinhos, um projeto que traz significativos benefícios econômicos para a região. “O Vale do São Francisco também possui as vinícolas. Isso é um projeto muito bacana, muito interessante, porque traz realmente um desenvolvimento econômico para a região. Ou seja, mais empregos, mais visibilidade,” complementou.
Nesse contexto, o papel do Banco do Nordeste é fundamental para o desenvolvimento regional. “O papel do Banco do Nordeste é esse mesmo: desenvolver a região Nordeste em toda sua extensão, buscando um desenvolvimento econômico e um crescimento efetivo dentro de uma ótica, claro, de sustentabilidade”, explicou o especialista.
A atuação do banco visa fortalecer as microrregiões nordestinas, contribuindo para a economia local. “Fazer com que essas microrregiões nordestinas cresçam e se desenvolvam e que contribuam com a economia regional”, enfatizou. O Nordeste tem mostrado um crescimento econômico exponencial, abrangendo setores como agricultura, indústria, varejo, serviços e extrativismo.
“O Nordeste vem numa linha exponencial nessa condição de crescimento econômico e desenvolvimento nos mais variados setores como agricultura, indústria, varejo, serviço, isso é importante, extrativismo, isso é muito importante para todos nós,” destacou.
Para alcançar esses objetivos, o Banco do Nordeste trabalha em parceria com governos estaduais e municipais. “O papel do Banco do Nordeste é dar apoio e desenvolver os estados, os municípios, junto aos agentes públicos, como governo dos estados e prefeituras”, afirmou.
A região do São Francisco, rica em recursos, necessita de investimentos contínuos para se solidificar ainda mais. “A região de São Francisco é muito rica, ela precisa realmente de investimentos para se solidificar, mas ainda, essa é uma demanda sempre presente na política econômica da região nordeste,” concluiu o especialista.