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10 de outubro de 2024 16:10

Fogo na economia: o rastro de destruição das queimadas no Brasil

Fogo na economia: o rastro de destruição das queimadas no Brasil

Do campo à mesa, setor agrícola enfrenta prejuízos bilionários e ameaça à competitividade internacional, com queimadas impactando diretamente o bolso dos brasileiros
Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil.

Não é novidade que as queimadas no Brasil causam impactos devastadores ao meio ambiente e à nossa saúde. Esta semana 60% do território brasileiro está coberto por fumaça, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o que levanta preocupações sobre os impactos na economia do país. Além de destruir vastas áreas de florestas e reservas naturais, as chamas atingem zonas agrícolas, comprometendo culturas fundamentais tanto para o mercado interno quanto para a exportação, como soja, milho, café e cana-de-açúcar.

As queimadas que atingem diversas regiões do país estão impactando diretamente o preço de alguns produtos na Bolsa de Valores, como o açúcar. Na forma bruta, o aumento foi significativo, chegando a uma média de 2,36% na última semana. O mercado interno responde por 25% do consumo, enquanto os outros 75% são destinados à exportação. Segundo a análise da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Eppen/Unifesp), todos os consumidores deverão sentir o impacto desse aumento nos preços.

Em São Paulo, cerca de 80 mil hectares de áreas plantadas e de rebrota já foram destruídos pelo fogo, causando um prejuízo estimado em R$800 milhões, segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). As queimadas impactam tanto as áreas rurais quanto os centros urbanos, como a capital paulista, com aumento da poluição e elevação dos preços dos alimentos. Esse aumento nos custos agrícolas pressiona os consumidores, prejudica a economia, reduz a produtividade e as exportações, afetando o crescimento e a estabilidade do país.

Queimada em plantação de cana de açúcar em Dumont, SP, no dia 24 de agosto de 2024 | Foto: Joel Silva- Reuters

O cerrado é o bioma brasileiro mais afetado por incêndios, muito por conta do progresso agrícola

Entre 1985 e 2023, o Cerrado sofreu um desmatamento de 38 milhões de hectares, o que representa uma redução de 27% da sua vegetação original. Grande parte dessa perda está associada à expansão do agronegócio na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), responsável por 41% do desmatamento, com um crescimento de 24 vezes na área agrícola desde 1985.

No mesmo período, o Cerrado perdeu 88,5 milhões de hectares para incêndios, o que equivale a 43% de sua extensão original, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Esses dados tornam o Cerrado o bioma mais afetado por incêndios no Brasil, superando até mesmo a Amazônia, que perdeu 82,6 milhões de hectares pelo fogo no período.

 

Impacto das queimadas nas lavouras do Piauí

O cerrado abrange cerca de 46% do território do Piauí, e a transição entre os biomas cerrado e caatinga ocorre na região do Alto Parnaíba, no sul do estado, onde também há transição com a Floresta Amazônica. As queimadas nessa região de transição têm causado sérios prejuízos aos agricultores, especialmente aos que cultivam soja e milho.

Segundo ngelo Carvalho, colaborador da Secretaria de Estado do Agronegócio e Empreendedorismo Rural do Piauí (SEAGRO-PI), “os principais impactos incluem a destruição da vegetação, a degradação do solo, mudanças no microclima, além de poluição do ar e problemas de saúde humana”. Ele destaca que, além dos danos diretos às plantações, as queimadas favorecem o aumento de pragas e doenças, o que agrava as perdas econômicas para os agricultores da região.

A resposta do Piauí à redução de incêndios

O estado registrou uma redução significativa de 24% nos focos de incêndios entre janeiro e agosto de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado foi alcançado graças ao uso de tecnologia de ponta, como inteligência artificial e monitoramento por satélites.

O secretário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semarh), Daniel Oliveira, explicou que o uso dessas tecnologias “acelerou o tempo de resposta das brigadas florestais, permitindo que as chamas fossem controladas mais rapidamente”. Ele acrescenta que a integração das ações entre a Semarh, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil também foi fundamental para reduzir os focos de incêndio no estado.

Pelo menos 650 brigadistas foram capacitados nos municípios piauienses no período de março de 2023 a agosto de 2024 | Foto: Governo do Piauí.

O diretor de Prevenção da Secretaria de Defesa Civil do Piauí, Werton Costa, afirma que as ocorrências costumam provocar grandes danos ao meio ambiente, ao patrimônio e prejuízos para a sociedade piauiense. “Logo, se o poder público estiver bem estruturado e planejar-se antecipadamente para enfrentar esses fenômenos, nossas ações de combate e resposta serão mais eficazes. Isso não só ajudará a reduzir a ocorrência de crimes, como incêndios florestais, mas também protegerá nossa biosfera, os ecossistemas e, principalmente, a economia, com ênfase na agricultura familia”, ressalta.

Problema não é novo: confira o histórico das consequências econômicas e ambientais dos incêndios e do desmatamento.

No ano passado, um incêndio devastou 7.232 hectares de vegetação no sul do Piauí, ameaçando o Parque Nacional da Serra das Confusões, a maior área de preservação da caatinga. As chamas, que chegaram a apenas 12 km do parque, consumiram vegetação ao redor da cidade de Canto do Buriti, localizada a 409 km de Teresina. De acordo com a Semarh, as suspeitas eram de que o incêndio havia sido provocado por uma disputa entre produtores rurais da região.Dois anos antes, em 2021, a comunidade de Canto do Buriti já havia sido atingida por um incêndio de grandes proporções, gerando prejuízos estimados em até R$10 mil, segundo produtores locais. Com cerca de 500 famílias dependentes da agricultura e criação de animais, a comunidade sofreu com a destruição de plantações, pastos e cercados. Os agricultores, profundamente afetados pela devastação, solicitaram apoio para lidar com os danos causados pelas queimadas.

Foto: Governo do Piauí

Ações para mitigar os efeitos das queimadas

Diante dos desafios impostos pelas queimadas, o agronegócio no sul do Piauí tem investido em estratégias sustentáveis para recuperar o solo e manter a produtividade. Ângelo Carvalho explica que, “para enfrentar os problemas causados pelas queimadas, estão sendo adotadas práticas como o uso de tecnologias de irrigação, agricultura de precisão e recuperação de solo”. O monitoramento por imagens de satélite e drones também tem se mostrado eficaz no controle de riscos e na prevenção de novos focos de incêndio.

Essas iniciativas visam minimizar os impactos negativos e garantir uma agricultura mais sustentável. Entre as técnicas aplicadas estão o plantio direto e a rotação de culturas, que contribuem para a preservação do solo e aumentam a eficiência produtiva. Além disso, ações de conscientização junto aos agricultores têm sido essenciais para controlar o uso do fogo, reduzir incêndios descontrolados e promover práticas agrícolas mais responsáveis.

Adaptação e sustentabilidade no agronegócio

Os grandes produtores do sul do Piauí estão se adaptando rapidamente às novas exigências ambientais e adotando tecnologias inovadoras para garantir a viabilidade de suas safras. “Os produtores têm adotado técnicas como o uso de cobertura vegetal e sistemas agroflorestais, que ajudam a conservar a água e proteger contra pragas e doenças”, afirma Carvalho. Essas medidas, além de preservarem o meio ambiente, também contribuem para o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade das colheitas.

Outro ponto importante destacado por Carvalho é o papel da assistência técnica e da capacitação dos agricultores. “Com a assistência técnica, os produtores conseguem implantar sistemas mais eficientes, como a adubação verde, que melhora a qualidade do solo e reduz a dependência de insumos químicos”, complementa.

Competitividade e os desafios impostos pelas queimadas

As queimadas afetam ainda a competitividade do agronegócio no Piauí. Carvalho ressalta que “as queimadas impactam negativamente a imagem dos produtos agrícolas no mercado, geram barreiras comerciais e aumentam os custos de produção, dificultando a competitividade dos produtores piauienses”. Além disso, as variações nas safras, provocadas pelos incêndios, tornam o planejamento agrícola mais incerto, ampliando os desafios para o setor.

Para contornar esses problemas, o governo e os produtores têm trabalhado juntos em iniciativas que buscam fortalecer a legislação ambiental e promover a certificação de produtos sustentáveis. Essas medidas visam não apenas reduzir os efeitos das queimadas, mas também melhorar a posição competitiva do agronegócio piauiense no cenário nacional e internacional.

Apesar dos diversos focos de incêndio, o Programa Garantia Safra não inclui perdas de lavouras causadas por esse tipo de ocorrência

O programa é destinado a agricultores familiares de regiões afetadas por estiagens ou enchentes. Podem receber o benefício agricultores com renda mensal de até um salário mínimo e meio que tenham perdido ao menos 50% da produção. Coordenado no Piauí pela Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), o programa oferece atualmente um valor de R$1.200,00.

Em nota ao Portal Investindo Por Aí, a SAF informou que orienta os agricultores, por meio de seus técnicos, a não utilizarem fogo nas atividades agrícolas e pecuárias. Nos casos em que a queimada controlada é permitida, a SAF instrui sobre como manejar o fogo de forma segura, especialmente durante as épocas mais quentes e secas do ano. A Secretaria também esclarece que o programa Garantia Safra, destinado a agricultores que sofreram perdas de produção, não cobre perdas causadas por incêndios, mas sim por eventos como estiagem ou enchentes, já que o foco do programa são intempéries naturais.

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