O Ceará se firmou como o estado mais lucrativo da aquicultura brasileira, impulsionado pelo avanço expressivo da produção de camarão. Em 2023, o setor atingiu um faturamento recorde de R$1,58 bilhão, um crescimento de 242% em relação a 2019, de acordo com dados do IBGE. Esse desempenho coloca o estado na liderança do mercado nacional, superando tradicionais polos produtores como Paraná e Santa Catarina.
O grande motor desse crescimento é a carcinicultura – a criação de camarões em viveiros –, que representa 84% do faturamento da aquicultura cearense. O percentual de especialização é o maior do país e supera o do Rio Grande do Norte (78,5%) e da Paraíba (76,7%), outros estados nordestinos com forte presença na atividade. A tilápia, principal espécie cultivada no Brasil, tem participação menor no Ceará, respondendo por apenas 7,7% da produção estadual.
Expansão acelerada
Os dados mostram que o setor aquícola cearense teve um desempenho superior ao de qualquer outro estado nos últimos anos. Em 2019, o faturamento foi de R$461,5 milhões. Desde então, a atividade cresceu progressivamente, ultrapassando a marca de R$1 bilhão em 2021 e chegando ao recorde de R$1,58 bilhão em 2023.
Nenhum outro estado teve um avanço tão expressivo no mesmo período. Mato Grosso do Sul, estado com o segundo maior crescimento do País, viu sua aquicultura expandir 161% entre 2019 e 2023, seguido por Pernambuco (160,8%) e Espírito Santo (155,9%). Já estados do Sul e Sudeste, tradicionalmente fortes na produção de tilápia, tiveram crescimento mais modesto, como Santa Catarina (101,4%) e São Paulo (124,5%).
Maior produtor do Brasil
Em fevereiro, durante entrega de kits de carcinicultura a pequenos produtores em Morada Nova, o Secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Domingos Filho, destacou a importância da criação de camarão em cativeiro como motor econômico para a região.
Segundo ele, a atividade já é a de maior rendimento no sertão cearense e deve receber cada vez mais apoio dos governos estadual e federal.
“A carcinicultura é uma atividade produtiva lucrativa e promissora para o homem do campo. Onde houver água, é possível implementar viveiros de camarão. Hoje, ela tem gerado os melhores resultados, especialmente para pequenos produtores. Sem prejuízo a outras atividades, seguirá sendo incentivada pelo governador Elmano para impulsionar ainda mais o agronegócio no Ceará”, afirma.
O Nordeste continua sendo o principal polo da carcinicultura brasileira. Além do Ceará, que lidera o ranking, estados como Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe também apresentam altas taxas de especialização na criação de camarão. Juntos, esses quatro estados concentram a maior parte da produção nacional.
Desafios para a sustentabilidade ambiental
De acordo com Soraya Vanini, Engenheira de Pesca e assessora do Instituto Terramar do Ceará, apesar do desenvolvimento econômico trazido pela carcinicultura, existem questões ambientais que precisam ser levadas em consideração.
Para a especialista, a simplificação do licenciamento ambiental para esse tipo de atividade tem causado danos ao ambiente. Ela explica que a produção exige o uso de muita água em regiões onde há escassez hídrica.
“A produção de camarão compete com as populações locais e com outras produções pelo uso da água em uma região onde a água já é escassa. É preciso que se faça um uso responsável desse recurso”, defende.
Soraya defende mais rigor no licenciamento para que o estado possa se desenvolver de modo ambientalmente sustentável.