As exportações de manga brasileira atingiram marcas históricas em 2023, gerando um faturamento de aproximadamente US$ 315 milhões. O valor ultrapassou os US$ 249 milhões de 2021, o ano mais rentável até então. Os volumes exportados tiveram um aumento de 15% em relação ao ano anterior, com cerca de 266 mil toneladas. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e foram reprocessados pelo Observatório do Mercado da Manga, da Embrapa.
Cerca de 93% da manga exportada pelo País foi oriunda do Vale do São Francisco, na região Nordeste, em especial nos estados da Bahia e Pernambuco, que respondem por 47,36% e 45,42% da exportação, respectivamente. O restante veio dos estados de São Paulo (3,25%), Rio Grande do Norte (2,54%) e Ceará (0,79%).
Os bons resultados foram alcançados mesmo tendo uma leve redução na produção nacional em 2023, que foi estimada em 1,2 milhão de toneladas – pouco menos que os 1,5 milhão de toneladas do ano de 2022.
De acordo com o pesquisador João Ricardo Ferreira de Lima, da Embrapa Semiárido (PE), coordenador do Observatório do Mercado da Manga, o sucesso da exportação nacional da fruta se deu devido a diversos fatores. Ele destaca, em especial, a quebra de safra causada pela onda de calor que afetou outros países concorrentes, como Peru e o Equador, aliada à possibilidade de produção de frutas no Vale do São Francisco durante todos os meses do ano.
Lima ressalta que, no segundo semestre, o Brasil apresentou menor produção, o que, combinado com a demanda internacional robusta, acabou elevando os preços para o produtor.
Foi assim que a empresa Agrodan conseguiu um “aumento substancial na receita e no lucro”, de acordo com seu diretor-presidente Paulo Dantas, depois de ter passado por um dos piores anos da história – 2022 –, principalmente em função da guerra na Rússia e Ucrânia. Em 2023, o preço médio de venda e também o lucro anual da empresa cresceram em torno de 40%, mesmo tendo exportado igual volume de mangas em relação ao ano anterior.
A empresa enviou para o exterior 30 das 33 mil toneladas de manga que produziu em cerca de 1,3 mil hectares de área plantada. Todas as fazendas são localizadas na bacia do Rio São Francisco, nos municípios de Belém do São Francisco, em Pernambuco, e em Curaçá e Abaré, na Bahia. Embora tenha a intenção de crescer no mercado interno, cerca de 97% da receita da empresa ainda é de exportação.
Perspectivas para 2024
De acordo com Lima, “a tendência para 2024 aponta para um primeiro semestre com preços favoráveis e exportações em alta, mas com menor volume de frutas produzidas na região”. Somente nesses dois primeiros meses do ano foram exportadas 24,5 mil toneladas. Em 2023, no mesmo período, foram 16,8 mil toneladas. Isto representa um aumento de 45,6% em relação ao ano anterior.
“Esse ano começou muito melhor. De janeiro a março já está sendo bem melhor que foi o segundo semestre do ano passado”, afirma o produtor Paulo Dantas, lembrando que esta é, ainda, uma consequência da quebra de safra no Peru, em função dos eventos climáticos naquele país. “Com essa redução do volume do Peru, os preços subiram muito, e isso incentiva o pessoal a exportar mais”, analisa.
Segundo dados do Observatório da Manga, a variedade Palmer, mais exportada nos meses de janeiro e fevereiro desse ano, teve preço ao produtor de até R$ 5,50, enquanto em fevereiro de 2023 os preços estavam em aproximadamente R$ 1,90.
“A torcida é pra que continue assim”, brinca Dantas. Já o pesquisador da Embrapa avalia que, “para o segundo semestre, espera-se um aumento na produção, porém sujeito a condições climáticas que podem afetar tanto o Brasil quanto outros grandes produtores como Peru, Equador, México e Espanha”. Lima considera, no entanto, improvável que se repita o cenário extremamente favorável de 2023.
A manga no Brasil e no mundo
O Brasil ocupa a sexta posição entre os maiores produtores mundiais de manga, atrás apenas da Índia (26 milhões de toneladas), Indonésia (4,1 milhões), China (3,8 milhões), Paquistão (2,8 milhões) e México (2,5 milhões de toneladas).
Cerca de 80% da produção nacional de manga é destinada ao consumo interno, e 20% vai para o mercado internacional. O principal mercado da manga brasileira é a União Europeia, com o maior volume indo para a Holanda (45,3% em 2023), devido ao porto de Roterdã. O segundo país que mais comprou a manga brasileira foi os Estados Unidos, com 18,35%, seguido da Espanha (17,93%), Reino Unido (6,06%) e Portugal (3,95%).
Apesar de a manga estar presente em todo o País, as regiões mais relevantes para o mercado são o Nordeste e o Sudeste, que concentram 99% da produção nacional. Entre essas, destaca-se especialmente o Nordeste, com 82% da produção.
A região Nordeste lidera o mercado de manga não somente pelo volume de produção, como também pela elevada produtividade. De acordo com Lima,“enquanto a média nacional é de 20 toneladas por hectare, a região do Vale do São Francisco, que abrange parte dos estados de Pernambuco e Bahia, apresentam produtividade média superior a 30 toneladas por hectare. Em áreas mais adensadas, a produtividade supera as 50 toneladas por hectare”.
A produção de manga no Nordeste também é responsável por mais de 11,5 mil empregos, enquanto o Sudeste não passa de 500 empregos. Nos últimos anos, a região também impulsionou um crescimento considerável da oferta, tendo dobrado sua área plantada em menos de uma década, aliado ao aumento na densidade dos pomares.
“Essa expansão, no entanto, resultou em um desequilíbrio entre oferta e demanda. Com um consumo per capita de aproximadamente dois quilos por ano, o Brasil enfrenta um excedente de oferta, o que impacta negativamente nos preços tanto no mercado interno quanto externo”, avalia Lima.
De acordo com o pesquisador, uma das principais vantagens competitivas da região é a produção contínua ao longo do ano, graças à irrigação, à abundância de sol durante todo o ano no Semiárido e muita tecnologia. Já o Norte de Minas Gerais e São Paulo concentram suas colheitas em meses específicos. “Isso é favorável porque os mercados exigem constância na oferta e quando qualquer região ou país tem quebra de safra, o Vale do São Francisco tem condições de abastecer o mercado.”
O sucesso do Nordeste
O agrônomo e pesquisador Francisco Pinheiro Neto, da Embrapa Semiárido, explica que o que torna a mangicultura do Semiárido competitiva é a associação de fatores como as condições climáticas da região, a disponibilidade de água e infraestrutura para irrigação, com a aplicação de tecnologias apropriadas para a cultura nesse ambiente.
Segundo ele, as altas temperaturas médias associadas aos baixos índices pluviométricos registrados na região semiárida – concentrados em períodos específicos do ano – proporcionam o rápido desenvolvimento das plantas e menor ocorrência de problemas fitossanitários.
Somado a isso, o intenso uso de tecnologias permite uma elevada produtividade, englobando estratégias de manejo eficiente de água, manejo de podas no decorrer das diferentes fases fenológicas da cultura, do processo de indução floral – que permite o planejamento da produção em qualquer época do ano -, a nutrição mineral – que proporciona a disponibilização dos nutrientes necessários durante as etapas de desenvolvimento das plantas e de produção dos frutos – e o controle das principais doenças detectadas na região.
Para a pesquisadora Maria Auxiliadora Coelho de Lima, chefe-geral da Embrapa Semiárido, a contribuição determinante da pesquisa científica e tecnológica é um diferencial no estabelecimento da mangicultura no Semiárido, bem como o desempenho crescente obtido ao longo dos anos, tornando-a referência de produtividade e qualidade.
Ela ressalta que “o investimento em tecnologia é marcado também pela modernização e constante atualização dos sistemas de produção, orientados para os preceitos de sustentabilidade, atendendo aos rigorosos protocolos de certificação de diferentes países”.