Cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil ainda residem em casas feitas de taipa sem revestimento ou madeira reaproveitada, de acordo com dados do Censo 2022 divulgados na quinta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse contingente representa 0,77% da população total e corresponde a mais de 495 mil domicílios em condições consideradas precárias.
Especificamente em relação às casas de taipa sem revestimento, 1,2 milhão de pessoas vivem nesse tipo de construção. Em nove municípios, 25% da população enfrenta essa realidade, sendo que oito deles estão localizados no Maranhão.
O levantamento também aponta uma melhora significativa em relação a 2010, quando 3,7 milhões de pessoas habitavam moradias desse tipo. A queda de 58% reflete avanços em infraestrutura habitacional, embora os desafios estruturais persistam em algumas regiões.
O economista Fábio Leão destaca que a alta dos alugueis, combinada com a inflação, agrava a vida das famílias de baixa renda, especialmente no Nordeste, pressionando o orçamento familiar e intensificando as desigualdades, o que também pode levar a danos psicológicos significativos.
Efeitos na vida das famílias de baixa renda, considerando o cenário de inflação alta e déficit habitacional
Leão destaca impactos específicos na vida das famílias de baixa renda diante da inflação e déficit habitacional. “Grande parte do orçamento é destinada ao aluguel, prejudicando o acesso a necessidades essenciais como alimentação e saúde. A insegurança habitacional e a dificuldade de ascensão social, devido ao alto custo dos alugueis, agravam a situação, reforçando a desigualdade social e a armadilha da pobreza”, afirma.
O economista sugere soluções como o aumento de moradias populares com subsídios, incentivos fiscais para construtoras, regulamentação do aluguel e programas de aluguel social. O uso de materiais sustentáveis, o fortalecimento do planejamento urbano e políticas de aumento de renda também são importantes. Cooperativas habitacionais e autoconstrução oferecem alternativas acessíveis. “Essas medidas devem ser implementadas de forma integrada e monitoradas para garantir resultados duradouros”, ressalta.
Políticas públicas para equilibrar inflação e inclusão habitacional
O especialista ainda explica que a alta da Selic, embora necessária para conter a inflação, torna o financiamento imobiliário mais caro, o que agrava a situação das famílias de baixa renda. “A criação de programas habitacionais com taxas de juros subsidiadas para essas famílias pode tornar o financiamento mais acessível, mesmo em um cenário de juros elevados”, considera Leão.
Além disso, o apoio à construção de imóveis populares, com redução de impostos e simplificação de processos, pode ajudar a aumentar a oferta de moradias a preços acessíveis.
Investir em infraestrutura urbana e regularizar áreas ocupadas irregularmente são outras medidas essenciais para garantir o direito à moradia e atrair investimentos. “A revitalização de prédios públicos abandonados e o apoio a cooperativas habitacionais também são formas de oferecer alternativas acessíveis de moradia para as populações mais vulneráveis”, destaca o economista.
Além disso, o fortalecimento do mercado de aluguel social e a flexibilização das regras do FGTS são medidas complementares que podem ajudar as famílias a superarem a dificuldade de acesso à moradia.
Materiais precários predominam em áreas vulneráveis
Os materiais utilizados nessas moradias incluem taipa sem revestimento (0,55%) e madeira reaproveitada de tapumes, embalagens ou andaimes (0,13%). Esses materiais, além de oferecerem pouca segurança estrutural, expõem os moradores a riscos de saúde, como contaminação por doenças e vulnerabilidade a eventos climáticos extremos.
Casas de taipa, construídas com barro, estão sujeitas a desabamentos em chuvas intensas ou ventos fortes. Segundo a Fundação João Pinheiro, essas habitações podem servir de abrigo para o barbeiro, inseto transmissor da doença de Chagas.
De acordo com Leão, o déficit habitacional no Nordeste tem grande impacto na produtividade e na qualidade de vida das populações. As condições inadequadas de moradia agravam problemas de saúde, educação e produtividade, afetando diretamente o desenvolvimento econômico da região.
Impactos das condições habitacionais na produtividade e bem-estar
As casas precárias, com falta de ventilação e exposição à umidade, aumentam a incidência de doenças, gerando custos com saúde e afastamentos do trabalho. “A precariedade das moradias compromete a saúde da população, refletindo diretamente na produtividade do trabalhador e no desempenho escolar das crianças”, afirma o economista.
A falta de condições adequadas também gera um ciclo de pobreza e desigualdade, afetando a autoestima e gerando transtornos mentais. “Melhorar as condições habitacionais resultaria em um aumento na qualidade de vida, com impactos positivos na saúde, educação e bem-estar social”, ressalta.
Impactos no desenvolvimento econômico do Nordeste
O déficit habitacional gera um alto custo social e barreiras para o desenvolvimento econômico regional.“A falta de moradia adequada impede a fixação das pessoas nas áreas rurais e dificulta a atração de investimentos, criando um cenário de migração para os centros urbanos”, destaca.
Contudo, ao superar esses desafios, o Nordeste pode alcançar um ciclo positivo, com aumento da produtividade, redução dos custos com saúde e atração de investimentos. “A melhoria das condições habitacionais impulsiona a economia local, valoriza imóveis e cria um ambiente mais favorável para o crescimento econômico sustentável”, conclui o economista Fábio Leão.
Regiões com maiores desafios
Além do Maranhão, estados como Bahia também enfrentam desafios significativos, com quase 63 mil domicílios construídos com materiais alternativos, como palha e contêineres. Já domicílios sem paredes, encontrados principalmente em terras indígenas, somam 1.256 habitações, sendo a maioria localizada no Amazonas (323 unidades).