No primeiro trimestre de 2024, o Nordeste brasileiro se destaca no cenário nacional com um significativo crescimento na produção de carne suína e de frango, contrastando com a retração observada no restante do país. A informação foi revelada por um relatório do Banco do Nordeste, que mostra uma tendência de crescimento regional enquanto a produção nacional enfrenta desafios.
De acordo com o médico-veterinário Tiago Silva Andrade, o Ceará oferece condições climáticas ideais para a criação de suínos, mantendo uma temperatura estável ao longo do ano. Ele ainda acrescenta que “a maioria dos grãos utilizados para a produção de ração vem da região do Matopiba, especificamente do Maranhão e do Piauí. O crescimento da produção de grãos nessa região, aliado à proximidade geográfica com o Ceará, nos permitiu reduzir significativamente nossos custos em comparação com o que era praticado há 15 ou 20 anos atrás”.
O valor de venda dos animais no Ceará também se destaca, com preços entre R$ 1,50 e R$ 2,00 mais altos que a média da Bolsa de Suínos do Estado de Minas Gerais (BSEMG). “Esse valor superior de venda nos permite enfrentar crises com maior resiliência em comparação aos produtores das regiões Sul e Sudeste do país, que enfrentaram dificuldades significativas nos últimos anos”, ressalta Andrade.
Estratégias e políticas públicas
João Jorge Reis, presidente da ACEAV (Associação Cearense de Avicultura), explicou que o crescimento observado é resultado da iniciativa individual dos empresários. “O crescimento foi observado no número de animais destinados ao abate nos frigoríficos. Cabe aos empresários investirem nas estruturas de abate, o que não é barato, mas necessário”, comenta Reis.
Ele também destacou o papel das políticas públicas e o apoio governamental no desenvolvimento do setor. “A ADAGRI, agência de defesa agropecuária do estado do Ceará, tem se modernizado para atender às necessidades dos produtores. Embora ainda não tenhamos o SISB (Sistema Estadual Integrado de Expansão Federal), foi prometido que será implementado em breve”, disse Reis.
Os produtores enfrentam desafios como fornecimento de água, energia elétrica e questões ambientais, mas estão superando essas dificuldades com iniciativas próprias e coletivas. A ACEAV atua principalmente na representação dos produtores junto às instituições públicas, buscando progresso nas demandas do setor.
Dados nacionais e regionais
No âmbito nacional, o relatório do Banco do Nordeste revela que a quantidade de bovinos abatidos no primeiro trimestre de 2024 cresceu 24,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, com 9,3 milhões de cabeças abatidas. Este aumento foi impulsionado pela alta demanda internacional por carne brasileira. As exportações de carne bovina in natura atingiram 598.639 toneladas, gerando uma receita de USD 2,64 bilhões, um crescimento de 18,5% em comparação ao ano anterior.
O Nordeste, representando 8% do total de bovinos abatidos no país, registrou um aumento de 16,1% no mesmo período. Estados como Sergipe (+30,0%), Bahia (+22,0%) e Paraíba (+20,6%) lideraram o crescimento. A Bahia se destacou com o maior número de abates na região, seguida por Maranhão e Sergipe.
Mercado e consumo
João Jorge Reis acrescenta que o Nordeste, especialmente o Ceará, tem se tornado mais competitivo na produção de carne de aves, suínos e ovos, graças ao avanço na produção de milho e soja na região, que reduz os custos. Além disso, há uma mudança nos hábitos de consumo, com mais pessoas preferindo carne abatida em frigoríficos inspecionados, garantindo mais segurança alimentar.
“No caso dos suínos, o aumento é perceptível em termos percentuais devido ao baixo número de matrizes tecnificadas na região. Muitos suínos de outras regiões estão sendo abatidos no Ceará, contribuindo para o aumento no número de abates. O crescimento percebido nos abatedouros não se deve apenas à produção local, mas também à importação de suínos de outras regiões”, conclui Reis.