Atendendo à proposta da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), a Embrapa Agroindústria Tropical se envolve em um projeto para avaliar a viabilidade do cultivo de pistache na Serra da Ibiapaba. A ideia surgiu após representantes da Faec visitarem a Califórnia, estado dos Estados Unidos que possui condições climáticas semelhantes às da região e é um dos maiores produtores de pistache do mundo.
O objetivo é investigar a possibilidade de adaptar a semente às condições locais, visando a produção de uma das variedades mais caras e valorizadas no mercado global. A pesquisa encontra-se ainda em estágio embrionário, sem a formalização de acordos definitivos entre as partes. No Ceará, a Embrapa planeja importar material genético dos Estados Unidos para dar início aos experimentos em 2025.
Planejamento a longo prazo para o cultivo de pistache
O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, informa que a instituição enviará à Federação, ainda esta semana, uma resposta sobre a proposta.
“Realizamos uma pesquisa inicial para entender as necessidades do projeto: onde há o cultivo de pistache, o conhecimento técnico e a industrialização. Agora, estamos focados em como estruturar o projeto, que exige planejamento a longo prazo, pois se trata de uma cadeia produtiva, um processo que leva, no mínimo, 15 anos, sendo otimista”, destaca.
O chefe-geral menciona o exemplo do projeto de eucalipto para o polo moveleiro do Ceará, iniciado em 2008. As primeiras árvores foram plantadas em 2009, mas os primeiros resultados só começaram a surgir em 2018, e o acompanhamento segue até hoje, pois é uma espécie de crescimento lento.
Ele explica que, com o pistache, o cenário é similar. A planta exige paciência e, mesmo nas melhores condições, leva cerca de 6 anos para começar a produzir. Esse processo é biológico e não pode ser acelerado.
“Por isso, é fundamental ter uma programação. Embora 10 ou 15 anos pareçam muito pela lógica da produção, do ponto de vista biológico, são prazos curtos. Vamos aprender, errar e corrigir ao longo do caminho. O importante é aperfeiçoar o sistema produtivo com o tempo. No entanto, há muito a ser feito antes de chegarmos lá”, esclarece Saavedra.
Mercado em alta motiva estudo
A demanda brasileira por pistache tem crescido nos últimos anos. Em 2024, o país importou mais de 970 toneladas da semente, movimentando R$13,9 milhões – um salto significativo em relação aos números de 2020. Atualmente, o pistache comercializado no Brasil depende exclusivamente de importações, o que deixa o preço vulnerável às oscilações do dólar.
Confira tabela para visualizar melhor a evolução das importações de Pistache no Brasil
Ano | Valor Importado (R$) | Total Importado (kg) |
2024 | 13,9 milhões | 978.834 |
2023 | 8,1 milhões | 535.950 |
2022 | 3,8 milhões | 264.737 |
2021 | 1,9 milhões | 176.341 |
2020 | 1,7 milhões | 140.009 |
Fonte: Comex Stat
Desafios para a produção
Originária da Ásia Menor, a árvore do pistache exige climas temperados, com invernos rigorosos e estações bem definidas. Estudos anteriores sugerem que a planta pode ser adaptada ao clima tropical, como já aconteceu com outras frutas secas, mas isso ainda precisa ser comprovado na prática.
Saavedra aponta desafios significativos para adaptar o cultivo de pistache ao clima tropical da Serra da Ibiapaba. “O pistache é uma planta de clima temperado e exige de 60 a 90 dias com temperaturas abaixo de 10 graus para garantir um bom crescimento e produção de flores. Não sei se a Serra da Ibiapaba tem esse período com temperaturas tão baixas”, considera.
Ele também ressalta que o pistache é uma cultura inédita no Brasil, sem experiência prática no país. “Não há agricultores, empresas de pesquisa ou universidades com expertise operacional sobre o cultivo. O que temos são informações teóricas, mas não há domínio sobre como manejar essa planta em nosso território”, complementa.
Portanto, o grande desafio não é apenas trazer uma nova cultura para o Brasil, mas sim introduzir uma planta temperada em uma região tropical, sem nenhum conhecimento prévio sobre seu cultivo no país. Embora existam muitas chances de insucesso, se o projeto der certo, poderá abrir caminho para novos aprendizados e avanços.
“Na Embrapa, já tivemos experiências bem-sucedidas com a tropicalização de fruteiras temperadas, o que nos leva a acreditar que o pistache pode ser adaptado às condições locais. No entanto, ainda temos muito trabalho de pesquisa pela frente antes de afirmar: ‘Sim, é possível produzir pistache no Brasil, mas ainda há muito a ser pesquisado para isso acontecer’”, conclui o chefe-geral.
Próximos passos
A Embrapa Agroindústria Tropical está avaliando as possibilidades e coletando informações preliminares sobre o tema. Ainda sem prazo definido, a proposta destaca o potencial do Ceará para se consolidar como um polo agrícola.
Segundo Saavedra, as primeiras fases do projeto, previstas para 2026 ou ainda este ano, serão voltadas para estudos teóricos e diagnósticos, sem o plantio de árvores. Caso a Faec aprove os ensaios de pistache após o diagnóstico, a próxima etapa será a importação do material genético e das cultivares, um processo burocrático que pode durar pelo menos um ano.
Com isso, as primeiras plantações podem ocorrer em 2027, com um tempo mínimo de seis anos entre o plantio e o início da produção, dependendo da adaptação do clima local.