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12 de fevereiro de 2025 00:29

Ceará poderá receber primeira produção brasileira de pistache

Ceará poderá receber primeira produção brasileira de pistache

Embrapa avalia proposta da Faec sobre viabilidade do cultivo da semente na Serra da Ibiapaba, noroeste do estado
As sementes de pistache a serem cultivadas no Ceará devem vir da California. Foto: reprodução – Shutterstock

Atendendo à proposta da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), a Embrapa Agroindústria Tropical se envolve em um projeto para avaliar a viabilidade do cultivo de pistache na Serra da Ibiapaba. A ideia surgiu após representantes da Faec visitarem a Califórnia, estado dos Estados Unidos que possui condições climáticas semelhantes às da região e é um dos maiores produtores de pistache do mundo.

O objetivo é investigar a possibilidade de adaptar a semente às condições locais, visando a produção de uma das variedades mais caras e valorizadas no mercado global. A pesquisa encontra-se ainda em estágio embrionário, sem a formalização de acordos definitivos entre as partes. No Ceará, a Embrapa planeja importar material genético dos Estados Unidos para dar início aos experimentos em 2025. 

Planejamento a longo prazo para o cultivo de pistache

O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, informa que a instituição enviará à Federação, ainda esta semana, uma resposta sobre a proposta. 

“Realizamos uma pesquisa inicial para entender as necessidades do projeto: onde há o cultivo de pistache, o conhecimento técnico e a industrialização. Agora, estamos focados em como estruturar o projeto, que exige planejamento a longo prazo, pois se trata de uma cadeia produtiva, um processo que leva, no mínimo, 15 anos, sendo otimista”, destaca.

O chefe-geral menciona o exemplo do projeto de eucalipto para o polo moveleiro do Ceará, iniciado em 2008. As primeiras árvores foram plantadas em 2009, mas os primeiros resultados só começaram a surgir em 2018, e o acompanhamento segue até hoje, pois é uma espécie de crescimento lento. 

Ele explica que, com o pistache, o cenário é similar. A planta exige paciência e, mesmo nas melhores condições, leva cerca de 6 anos para começar a produzir. Esse processo é biológico e não pode ser acelerado.

“Por isso, é fundamental ter uma programação. Embora 10 ou 15 anos pareçam muito pela lógica da produção, do ponto de vista biológico, são prazos curtos. Vamos aprender, errar e corrigir ao longo do caminho. O importante é aperfeiçoar o sistema produtivo com o tempo. No entanto, há muito a ser feito antes de chegarmos lá”, esclarece Saavedra.

Mercado em alta motiva estudo

A demanda brasileira por pistache tem crescido nos últimos anos. Em 2024, o país importou mais de 970 toneladas da semente, movimentando R$13,9 milhões – um salto significativo em relação aos números de 2020. Atualmente, o pistache comercializado no Brasil depende exclusivamente de importações, o que deixa o preço vulnerável às oscilações do dólar.

Confira tabela para visualizar melhor a evolução das importações de Pistache no Brasil 

Ano Valor Importado (R$) Total Importado (kg)
2024 13,9 milhões 978.834
2023 8,1 milhões 535.950
2022 3,8 milhões 264.737
2021 1,9 milhões 176.341
2020 1,7 milhões 140.009
Fonte: Comex Stat
O Brasil importou 978 mil toneladas da semente de pistache, totalizando R$ 13,9 milhões, em 2024. Foto: Erika Varga

Desafios para a produção

Originária da Ásia Menor, a árvore do pistache exige climas temperados, com invernos rigorosos e estações bem definidas. Estudos anteriores sugerem que a planta pode ser adaptada ao clima tropical, como já aconteceu com outras frutas secas, mas isso ainda precisa ser comprovado na prática.

Saavedra aponta desafios significativos para adaptar o cultivo de pistache ao clima tropical da Serra da Ibiapaba. “O pistache é uma planta de clima temperado e exige de 60 a 90 dias com temperaturas abaixo de 10 graus para garantir um bom crescimento e produção de flores. Não sei se a Serra da Ibiapaba tem esse período com temperaturas tão baixas”, considera.

Ele também ressalta que o pistache é uma cultura inédita no Brasil, sem experiência prática no país. “Não há agricultores, empresas de pesquisa ou universidades com expertise operacional sobre o cultivo. O que temos são informações teóricas, mas não há domínio sobre como manejar essa planta em nosso território”, complementa.

Portanto, o grande desafio não é apenas trazer uma nova cultura para o Brasil, mas sim introduzir uma planta temperada em uma região tropical, sem nenhum conhecimento prévio sobre seu cultivo no país. Embora existam muitas chances de insucesso, se o projeto der certo, poderá abrir caminho para novos aprendizados e avanços.

“Na Embrapa, já tivemos experiências bem-sucedidas com a tropicalização de fruteiras temperadas, o que nos leva a acreditar que o pistache pode ser adaptado às condições locais. No entanto, ainda temos muito trabalho de pesquisa pela frente antes de afirmar: ‘Sim, é possível produzir pistache no Brasil, mas ainda há muito a ser pesquisado para isso acontecer’”, conclui o chefe-geral.

Próximos passos

A Embrapa Agroindústria Tropical está avaliando as possibilidades e coletando informações preliminares sobre o tema. Ainda sem prazo definido, a proposta destaca o potencial do Ceará para se consolidar como um polo agrícola. 

Segundo Saavedra, as primeiras fases do projeto, previstas para 2026 ou ainda este ano, serão voltadas para estudos teóricos e diagnósticos, sem o plantio de árvores. Caso a Faec aprove os ensaios de pistache após o diagnóstico, a próxima etapa será a importação do material genético e das cultivares, um processo burocrático que pode durar pelo menos um ano. 

Com isso, as primeiras plantações podem ocorrer em 2027, com um tempo mínimo de seis anos entre o plantio e o início da produção, dependendo da adaptação do clima local.

Se bem-sucedido, o projeto pode posicionar o Brasil como um novo player no mercado global de pistache

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