O Nordeste tem um novo líder na produção de tomates. O Ceará ultrapassou a Bahia e consolidou-se como o maior produtor do fruto na região. A estimativa vem do Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA), feito pelo Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção cresceu mais de 3,9% em 2024 e foi responsável por mais da metade do volume produzido de hortaliças do estado.
Cidades serranas levaram o Ceará à liderança. O primeiro lugar no ranking foi atingido com influência de plantações de municípios na divisa com o Piauí. Ao todo 77 municípios do Ceará,segundo a LSPA, produziram tomate na região até outubro deste ano. A maior produção é localizada na Serra da Ibiapaba – na divisa com o Piauí. No local, estão cinco cidades que concentram a colheita de tomate no estado, responsável por 63,9% de todo o fruto produzido no território cearense: Guaraciaba do Norte, Tianguá, São Benedito, Ibiapina e Ubajara.
De acordo com os dados do Instituto o balanço de novembro de 2024 é uma produção de 195.231 toneladas colhidas em uma área de 2.732 hectares, possuindo o maior rendimento financeiro por hectare, sendo de 72.470 Kg/ha. Assim, o estado cearense chegou a liderança isolada no plantio da hortaliça na região nordeste, em comparação com a Bahia, segundo colocado, o Ceará colheu 13.047 toneladas a mais. De acordo com dados do IBGE, Sergipe é o único estado da região que não produz tomates. Confira os na tabela abaixo:
O Ceará tem ganhado destaque pela eficiência produtiva, impulsionada pelo uso de tecnologias avançadas e irrigação de precisão – uma técnica que assegura o fornecimento de água no momento, local e quantidade ideais para o cultivo. Desde 2016, o estado recebeu investimento de mais de R$14 milhões em projetos de irrigação por meio do Programa Irrigação na Minha Propriedade (PIMP), coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA). A ação resultou na instalação de 558 projetos em quase todos os municípios do estado. O programa é gratuito e pode ser acessado por meio da SDA.
Neste ano de 2024, o estado expandiu ainda mais sua capacidade, com a criação de dois novos polos de irrigação nas regiões da Ibiapaba e do Cariri. Intensificar esforços no setor agrícola, com investimentos em sistemas de irrigação modernos e no controle eficiente de pragas, tem sido fundamental para alcançar esse aumento significativo na produtividade do tomate. Ainda neste ano, a Embrapa Agroindústria Tropical Ceará desenvolveu um processo tecnológico para viabilizar o cultivo de tomate-cereja em substrato de casca de coco.
O estado evoluiu muito ao longo dos anos na produção agrícola, em especial o plantio do tomate – segunda hortaliça mais produzida no Brasil, ficando atrás apenas da batata. No ano 2000, por exemplo, a colheita era de apenas 43.693 kg/ha, número muito distante dos 56.269 kg/ha de 2018, e ainda mais longe dos 71.087 kg/ha que o estado conseguiu em 2020.
O Investindo Por Aí conversou com o ex-deputado estadual e ex-secretário de Agricultura do Ceará, Carlos Matos, para saber mais sobre a evolução do cultivo de tomates no Ceará, o privilégio do clima favorável da região, e os grandes investimentos tecnológicos, que levaram o estado a alcançar o lugar de maior produtor da região Nordeste.
Para Carlos Malta, o fator ambiental da região é fundamental para o sucesso da produção de tomate. “O clima é espetacular. Essa temperatura de 20 e 24º durante o dia e 14º à noite é uma das mais propícias para esse tipo de cultura, tanto que aqui, o ciclo de tomate é 30, 40 dias mais curto do que o restante de regiões produtoras do país”, observou. Ele destaca também os investimentos na introdução do agropolo no interior, que aconteceu no ano de 1999, e que deu um choque tecnológico na região. “Essa iniciativa acelerou a produção de tomate tecnológico a ponto de nós termos produtores com 17 quilos por planta. Tudo isso foi permitindo para que hoje uma cultura com apenas 2.000 a 500.000 hectares possa ser a líder da produção agrícola do estado do Ceará. Foi um trabalho de anos que foi se consolidando e hoje nós temos produtores bastante qualificados”, garantiu.
Um programa governamental que tem feito a diferença para que o Ceará chegasse a liderança do Nordeste na produção de tomates é o Plano Safra da Agricultura Familiar, do governo federal. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, o Plano Safra 2024/2025 disponibilizará 1,8 milhão de reais em crédito rural, com o objetivo de assegurar a produção sustentável de alimentos no estado. “Acredito que justificaria, exatamente por esse avanço na produção de tomates, um plano estadual de modernização do cultivo de tomate.
Lá atrás, quando eu era secretário, nós lançamos um programa para produtores de sementes e para viveiristas. Acho que é hora de recomeçar para acelerar essa transição do agricultor, do sistema tradicional, para o sistema moderno de tomate. Muitos pequenos e médios produtores não têm acesso ao crédito porque não tem garantia, não basta a disponibilização de recurso, é preciso criar um fundo garantidor para que esse produtor possa ter uma boa colheita de tomate. A assistência técnica sempre é importante, criar um mecanismo de incentivo para o acesso às tecnologias e para o acesso à inovação”, concluiu Carlos Malta.
Hoje, o tomate é a cultura mais lucrativa da agricultura cearense – de acordo com o IBGE. Em 2023 a hortaliça gerou 718.985 mil reais, cerca de 85 mil a mais do maracujá, segundo colocado. Tais números, juntamente com as condições climáticas favoráveis e com o investimento em tecnologias podem ser fatores que explicam o crescimento da produção em 3,9% em 2024, bem como a liderança do estado cearense na região nordeste. Por fim, a alta de produção de tomates no Ceará não é apenas benéfica para o próprio estado ou para a região Nordeste. Os resultados apresentados pelo estado são importantes para a produção agrícola do país inteiro.