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22 de maio de 2025 03:46

Impactos do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek entre Maranhão e Tocantins

Impactos do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek entre Maranhão e Tocantins

Destruição da ponte gera aumento nos custos logísticos e demanda medidas urgentes para a travessia de pessoas e mercadorias entre os dois estados
A ponte Juscelino Kubitschek integrava importante rota para a produção agrícola da região, principalmente o transporte da soja. Foto: Governo do Tocantins

O desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que ocorreu entre os estados do Maranhão e Tocantins, no último domingo (22), deixou um rastro de tragédia. Oito mortes foram confirmadas e nove pessoas continuam desaparecidas. Para a economia da região, ficam as incertezas sobre o tamanho do impacto sobre negócios locais e a necessidade de medidas urgentes para solucionar o fluxo de pessoas e mercadorias.

Com 533 metros de extensão e construída na década de 1960, a ponte ligava as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) pela BR-226, integrando o corredor rodoviário Belém-Brasília, sendo uma importante via de escoamento da produção agrícola (especialmente de soja), além de ser vital para o trânsito de pessoas entre os dois estados.

Economistas e produtores rurais começam a estimar a alta de custo logístico e os danos voltados aos serviços que dependiam da ponte para serem viáveis. Além disso, o impacto ambiental preocupa a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que está monitorando a qualidade da água, já que a Defesa Civil de Estreito registrou a queda de três caminhões no rio Tocantins transportando 25 mil litros de defensivos agrícolas e 76 toneladas de ácido sulfúrico. Segundo análises feitas por técnicos da Agência, possivelmente oito municípios do Maranhão serão impactados, pois estão a jusante – rio abaixo.

Ainda que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) tenha registrado em seus relatórios de 2023 que a ponte estava em condições críticas, com nota 2 no Índice de Condição de Manutenção, o desabamento gerou um alerta sobre a condição de manutenções das estruturas relacionadas ao sistema rodoviário, especialmente as mais antigas.

A companhia de logística VLI afirmou esta semana que sua operação ferroviária no Terminal Integrador de Porto Franco (TIPF) não sofrerá impacto pelo desabamento, já que a maior parte das cargas movimentadas no terminal de Porto Franco vem da região do município de Balsas (MA).

Ministro anunciou mais de R$ 100 mi para reconstrução. Foto: Juliel Fernandes/Governo do Tocantins 

Durante vistoria no local do acidente, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o governo vai destinar mais de R$ 100 milhões para a reconstrução da ponte, confirmando em entrevista coletiva que há também condições técnicas para a implementação imediata de soluções emergenciais. As atenções no momento são ara encontrar os desaparecidos, para a retirada dos escombros no Rio e para a avaliação dos danos causados. O Ministério também já publicou portaria para contratar os serviços de reconstrução.

O governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa, também anunciou que o governo federal garantiu a instalação de balsas para a travessia do Rio Tocantins entre os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Esta será a primeira medida para viabilizar o cruzamento dos estados.

Segundo Wanderlei, a primeira balsa será para o tráfego de pessoas e o governo do Tocantins irá em busca de mais balsas para auxiliar na travessia. “Conversei com o ministro Renan Filho por se tratar de uma rodovia e uma ponte federais. O ministro entendeu que o governo federal tem uma responsabilidade maior. E me foi garantido que até o final desta semana já terá a primeira balsa em funcionamento”, contou o governador durante anúncio.

Custos econômicos e aumento da logística

Embora ainda seja inconclusa uma análise efetiva sobre o impacto econômico do desabamento, alguns analistas projetam graves consequências para a economia local. Para o economista Higor Franco, ouvido exclusivamente pelo Investindo Por Aí, o impacto imediato do desastre será sobre o custo logístico. O desvio a ser realizado por caminhões e transportadoras para chegar até Imperatriz (MA) pode ser de 125 ou 191 quilômetros, conforme divulgou o DNIT. O uso de rotas alternativas tende a encarecer o frete para produtores que utilizavam a ponte como rota principal para o escoamento de grãos pelo Maranhão ou, na via contrária, para abastecer o Tocantins com outros insumos.

Segundo o secretário de Agricultura do Tocantins, Jaime Café, a ponte estava ainda no trajeto de cargas, como fertilizantes, que vinham pelo Maranhão (geralmente importadas) para o estado vizinho. As alternativas de passagem entre os estados via balsas ou em rotas mais longas devem provocar atrasos no sistema logístico e, eventualmente em processos de plantio. Diariamente, estima-se que 2,1 mil caminhões passavam diariamente pelo posto fiscal de Aguiarnópolis (TO).

“Infelizmente, não é possível fazer uma avaliação extremamente positiva. O processo econômico na região fica comprometido”, afirmou o economista Higor Franco.

Para ele, o impacto direto é sobre quem dependia da ponte para o trânsito de mercadorias que abasteciam as duas margens do Rio Tocantins. Comerciantes de Tocantins já relataram problemas no abastecimento de alguns pontos perecíveis, como verduras. Franco ressalta que a população residente na região pode enfrentar o aumento de preços de produtos que venham a se tornar escassos ou mais difíceis de chegar até seu destino. 

O caminho para a recuperação: curto e longo prazo

O economista e professor universitário, Higor Franco

Sobre a recuperação da região, Higor Franco recomenda que, para além da solução logística (com a reconstrução da ponte), a proteção econômica local poderia ainda demandar algum incentivo fiscal para produtores e comerciantes locais, minimizando perdas.

Além disso, o Higor Franco sugere que, antes de qualquer intervenção, seja feita uma análise cuidadosa da estrutura da ponte e dos riscos de novos desabamentos. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já iniciou a sindicância para apurar responsabilidades sobre o desabamento. Paralelamente, a portaria do Ministério dos Transportes que estabelece a emergência da reconstrução prevê que a nova ponte seja entregue em até 12 meses, com possível avaliação de intervenções adicionais na região para assegurar segurança ao fluxo local.

Monitoramento da contaminação da água

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) monitora a qualidade da água. Os caminhões transportavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e 22 mil litros de defensivos agrícolas. Como medida preventiva, foi recomendada a suspensão da captação de água para abastecimento público nas cidades localizadas a jusante do local do acidente, incluindo municípios do Maranhão e do Tocantins. A Agência está atuando junto com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (SEMA/MA) para coleta de amostras.

Os 19 municípios possivelmente impactados estão a jusante (rio abaixo) do acidente até a confluência (encontro) com o rio Araguaia, conforme o mapa deste link. Desse total oito se localizam no Maranhão: Campestre do Maranhão, Estreito, Governador Edison Lobão, Imperatriz, Porto Franco, Ribamar Fiquene, São Pedro da Água Branca e Vila Nova dos Martírios, e 11 estão em Tocantins.

Rio pode ter sido contaminado por ácido e agrotóxico. Foto: divulgação/Corpo de Bombeiros do Tocantins

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