Em menos de uma semana, o Nordeste do Brasil registrou dois recordes consecutivos na geração de energia eólica. Há uma semana, às 5h48, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou 19.083 megawatts de potência, o que corresponde a 180,4% da demanda da região naquele momento.
Outro recorde foi estabelecido em 27 de julho, às 21h09, com 19.028 megawatts de potência, quantidade suficiente para atender toda a demanda do Nordeste, além dos estados do Rio de Janeiro e Goiás, segundo o ONS.
Para o diretor de Planejamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e especialista em economia regional, José Aldemir Freire, esses recordes refletem um período de ventos mais intensos combinado com um grande volume de investimentos históricos na região.
“O Nordeste é a grande fazenda de ventos do Brasil. Nos últimos anos, a expansão da matriz elétrica brasileira tem sido impulsionada por essas fontes renováveis na região. A maturação histórica do Nordeste como fronteira da expansão elétrica, aliada ao auge da ‘safra dos ventos’, com ventos mais fortes e constantes, explica os picos de produção alcançados em tão pouco tempo. Com essa combinação de fatores, não é improvável que novos recordes sejam alcançados nas próximas semanas”, explica Freire.
O recorde anterior havia sido registrado quase um ano antes, em 14 de agosto de 2023, quando o sistema alcançou 18.725 megawatts, equivalente a 149,9% da demanda no momento.
No primeiro semestre de 2024, o Brasil também registrou um aumento significativo na capacidade instalada de energia, com um acréscimo de 5,7 gigawatts. A meta é encerrar o ano com um total de 10,1 gigawatts adicionados à matriz elétrica do país.
No entanto, o diretor chama atenção para o atual desafio do setor. “Esses resultados históricos de produção são fruto de investimentos feitos ao longo de anos. Atualmente, o setor enfrenta um certo desaquecimento em novos projetos, devido à concorrência com outras fontes, como os painéis solares. O desafio agora é manter o crescimento do consumo de energia no Brasil, para que a demanda continue a justificar mais investimentos no setor eólico”, afirma.
Financiamento e investimentos em energia renovável
Paralelamente aos avanços na geração de energia eólica, o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) tem desempenhado um papel fundamental no apoio ao setor de infraestrutura. Em 2023, o FNE contratou R$11,972 bilhões em financiamentos para projetos de infraestrutura no Nordeste, um aumento significativo de 86,7% em relação a 2022 e 19,8% acima do orçamento original de R$9,995 bilhões.
Desse total, R$6,416 bilhões (53,6%) foram direcionados a projetos eólicos e fotovoltaicos de geração centralizada.
O financiamento específico para projetos eólicos no último ano cresceu 45,7%, atingindo R$2,888 bilhões, com o número de projetos financiados subindo de sete para dezoito. Entre os destaques estão a Eólica Novo Horizonte, da Pan American Energy, que recebeu R$300 milhões do BNB, e o parque Tanque Novo, de 180 megawatts na Bahia, da CGN.
Para 2024, o orçamento do FNE para infraestrutura foi reduzido para R$8,155 bilhões, com R$3,781 bilhões reservados para o aproveitamento do potencial energético do Nordeste. Apesar da redução orçamentária, a demanda por recursos para outros setores da infraestrutura deve permanecer alta.
Além disso, também neste ano, o BNB ajustou suas regras de alavancagem para este ano, aumentando de 40% para 50% do investimento, mas reduziu o limite de contratações anuais por grupo econômico de R$200 milhões para R$150 milhões.
“Benefícios fiscais, acesso facilitado à rede de transmissão e crédito competitivo são elementos chave que ajudaram a consolidar o setor nos últimos 15, 20 anos. E isso fez com que a energia eólica se tornasse uma das fontes mais competitivas do país, até mais barata que a hidráulica”, destaca Freire.