A área de mobilidade urbana está em constante expansão, destacando-se pela busca incessante por inovação e novas tendências, especialmente as relacionadas à tecnologia. De acordo com uma pesquisa do Oliver Wyman Forum, estima-se que até 2030 o setor cresça 75%, alcançando aproximadamente US$26,6 trilhões, o que representa cerca de um quinto da economia global. Esse crescimento está intimamente ligado ao uso de novas tecnologias, gestão de frotas, integração de diferentes modais, automação de operações e à mudança no comportamento dos passageiros, que agora procuram opções de transporte mais inteligentes e sustentáveis.
No Brasil, onde 61% da população vive em áreas urbanas, conforme o Censo Demográfico de 2022, a demanda por soluções de mobilidade eficiente é ainda mais premente. Para aprofundar essas discussões, o Summit Mobilidade, promovido pela Organização Arnon de Mello (OAM) na última segunda-feira (17) em Maceió, abordou desafios e soluções para a mobilidade urbana, facilitando a troca de ideias entre o poder público e a iniciativa privada.
Desafios de mobilidade urbana e transporte público
Jessica Lima, professora e especialista em mobilidade do Centro de Tecnologia (Ctec) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) ressalta que um dos principais desafios da mobilidade urbana é a concorrência pelo espaço. “No Brasil, um terço da população usa carro diariamente, mas esses carros ocupam um espaço muito maior no sistema viário, retirando espaço dos outros usuários e onerando os deslocamentos”, comenta.
De acordo com o Global Designing Cities Initiative, um programa da National Association of City Transportation Officials (Nacto), em uma mesma via, 1.600 pessoas se deslocam por hora utilizando carros, enquanto 7.500 pessoas se deslocam com bicicletas, 9.000 pedestres caminham pelas calçadas e 25.000 pessoas se locomovem utilizando ônibus coletivos.
Jessica ainda destaca que, muitas vezes, áreas que poderiam ser destinadas a espaços públicos como parques e áreas de convivência são transformadas em estacionamentos, refletindo uma distribuição desigual do espaço urbano. Além disso, o transporte coletivo enfrenta desafios significativos, incluindo perda de passageiros e dificuldades no financiamento dos sistemas. Com a expansão das cidades e o aumento da demanda por mobilidade, torna-se essencial repensar as políticas públicas para garantir um sistema de transporte acessível, eficiente e sustentável para todos os cidadãos.
Integração dos meios de transporte e mobilidade ativa
Jessica Lima enfatiza a importância da integração entre diferentes modos de transporte para melhorar a mobilidade urbana. “Um sistema de transporte é uma rede que só funciona plenamente se estiver bem conectado”, afirma a especialista. Nas cidades brasileiras, porém, essa conectividade muitas vezes é deficiente, com ciclovias desconectadas e sistemas de transporte que não oferecem informações adequadas aos usuários. Integrar modais, permitindo que ciclistas cheguem às estações de metrô e guardem suas bicicletas de maneira segura, não apenas facilita o deslocamento, mas também promove a utilização sustentável dos transportes, reduzindo a dependência do transporte individual motorizado.
Para alcançar uma mobilidade mais eficiente e inclusiva, é importante que as políticas públicas incentivem a criação de infraestruturas que permitam aos cidadãos transitarem de forma segura e rápida entre diferentes modos de transporte. Isso não só melhora a qualidade de vida nas cidades, mas também contribui para a redução dos congestionamentos e da poluição ambiental.
Além disso, Renan Silva, doutor em urbanismo e especialista em mobilidade urbana, ressalta a importância da articulação inteligente e sustentável das políticas de transporte, trânsito e uso do solo para o planejamento urbano. “É mais relevante entender onde as pessoas moram, para onde vão e como se locomovem do que simplesmente aumentar a capacidade viária”, afirma.
Nesse sentido, o desenvolvimento de corredores viários deve ser acompanhado por políticas públicas que reorganizem o espaço urbano de maneira equitativa e segura para todos os modos de transporte, favorecendo uma mobilidade urbana mais integrada e eficiente.
Silva ainda destaca também o papel crucial do espaço público e do design urbano na promoção de uma mobilidade eficiente e inclusiva. “Uma cidade verdadeiramente funcional deve oferecer espaços públicos acolhedores e acessíveis, independentemente do modo de transporte utilizado”, diz o especialista.
Inovações na infraestrutura de transporte
O ministro dos Transportes, Renan Filho, em palestra no Summit Mobilidade, sublinhou a importância de facilitar a vida de quem trafega pelas cidades brasileiras. “Vamos entregar a duplicação da BR-101/AL, a Ponte Penedo e o Arco Metropolitano. As pessoas que passarem por essa região não precisarão mais entrar em Maceió. Quem deseja ir de São Miguel dos Campos para o Aeroporto, por exemplo, passará em faixa dupla sem pegar a Fernandes Lima”, destacou o ministro.
Além dos empreendimentos em Alagoas, Renan Filho apresentou outras obras de impacto em mobilidade pelo país, como o contorno de Florianópolis na BR-101/SC e a duplicação da BR-116/BA em Feira de Santana. Ele também mencionou a recuperação do Complexo de Scharlau no Rio Grande do Sul, reforçando que as soluções de tráfego passam pela construção de corredores viários e pela ampliação e recuperação de rodovias de maior peso logístico.
Financiamento e participação do setor privado
A ampliação da participação do setor privado em obras de infraestrutura é vista como fundamental para a viabilidade dos projetos. “Em 2022 o Governo Federal aplicou R$130 milhões em transportes em Alagoas. Em 2023 nós aplicamos R$159 milhões. Em 2024 vamos chegar a R$478 milhões. O PAC todo prevê R$1,8 bilhão para a infraestrutura de transportes em Alagoas no período de 2023 a 2026”, informou Renan Filho.
George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, destacou a estratégia de aumentar a participação do setor privado em infraestrutura através de parcerias público-privadas. “Lançamos a maior carteira de concessões rodoviárias da história do Brasil, com 35 projetos. No setor ferroviário, planejamos mais 15 projetos de PPP (Parceria Público-Privada). Nosso objetivo é atrair mais de 400 bilhões de reais em investimentos privados. Trabalhamos com fundos de investimento, novos instrumentos financeiros e o apoio do BNDES. Realizamos road shows internacionais para atrair investidores, fortalecendo nossa capacidade de executar projetos de sucesso”, afirmou.
Por outro lado, a professora especialista em mobilidade do Centro de Tecnologia (Ctec) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Jessica Lima, comenta que não acredita tanto nas tecnologias relacionadas a veículos privados como solução principal. “A mobilidade mais sustentável deve focar no transporte coletivo, que pode ser melhorado com energias renováveis, veículos mais acessíveis e um maior controle de informação. Tecnologias que monitoram o transporte público em tempo real podem aumentar a eficiência do serviço. Além disso, a mobilidade compartilhada pode ser útil, especialmente em áreas com baixa demanda ou rurais, utilizando micro-ônibus sob demanda”, afirma.
Frotas e logística: eficiência nas operações
De acordo com uma pesquisa dos Custos Logísticos no Brasil divulgada pela Fundação Dom Cabral, cerca de 75% da produção nacional é distribuída por meio do modal rodoviário, exigindo uma gestão de frota cada vez mais eficiente e tecnologicamente avançada. Desafios como melhorar a gestão, segurança e infraestrutura das rodovias, bem como o papel do e-commerce na mobilidade urbana são pontos a serem discutidos.
George Santoro comentou sobre o programa de investimentos em Alagoas: “Com um investimento de 1,8 bilhões de reais, nosso foco está na transformação da infraestrutura pública. Projetos como o arco rodoviário de Maceió e melhorias na BR-104 estão inclusos. Essas iniciativas não só vão aprimorar a logística e o trânsito, mas também promover Alagoas como um centro logístico no Nordeste, facilitando o turismo e atraindo indústrias. Estamos comprometidos em concluir essas obras dentro do cronograma, superando desafios como o licenciamento ambiental, e monitoramos de perto o progresso para garantir qualidade e eficiência.”
Avanços do poder público
O governo federal está atualmente conduzindo quatro obras prioritárias em Alagoas, incluindo a construção da ponte que ligará Penedo, em Alagoas, a Neópolis, em Sergipe, na rodovia BR-349/AL/SE. Esta obra é uma demanda histórica e crucial para o desenvolvimento da região do Baixo São Francisco, que abrange os estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia.
Outras obras prioritárias incluem a duplicação da BR-316/424/AL, criando o Arco Metropolitano de Maceió, e a duplicação de vários trechos da BR-101/AL, incluindo a construção do Viaduto de Porto Real do Colégio. “Essas são as principais obras do Estado. Como ministro, vou terminar 100% a BR-101 em Alagoas, esse é um compromisso que eu tenho com o nosso Estado”, reforçou Renan Filho.
Nesse sentido, a transparência nas ações do Ministério dos Transportes foi destacada por George Santoro. “O Ministério dos Transportes em Alagoas está comprometido com a transparência total em suas ações. Utilizamos o sistema SEI! para abrir processos digitalmente, permitindo acesso e consulta pública online. Realizamos consultas públicas para melhorar nossas regulamentações e implementamos programas de compliance e integridade para garantir a transparência nos gastos. Detalhes estão disponíveis nos sites de transparência do governo, e divulgamos o progresso das obras online, como o arco rodoviário de Maceió, mostrando nosso compromisso com eficiência e prestação de contas”, disse.