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11 de fevereiro de 2025 19:45

Exploração de potássio em Sergipe pode levar o Brasil à autossuficiência na produção de fertilizantes

Exploração de potássio em Sergipe pode levar o Brasil à autossuficiência na produção de fertilizantes

Projeto offshore em Sergipe, liderado pela South Atlantic Potash, pode levar o Brasil à autossuficiência em potássio, com estimativa de produção de 2 milhões de toneladas anuais
A mina subterrânea de potássio em Rosário do Catete, localizada no estado de Sergipe, é uma das principais fontes de extração desse mineral no Brasil | Foto: Divulgação – Governo de Sergipe

Um depósito offshore de cloreto de potássio, localizado abaixo do leito marinho próximo à costa de Sergipe, pode tornar o Brasil autossuficiente no fornecimento desse insumo essencial para a produção de fertilizantes. Esses depósitos, formados por camadas geológicas ricas em minerais, exigem tecnologias avançadas para sua exploração.

A área, de propriedade da South Atlantic Potash, concentra reservas significativas de sais, como cloreto de potássio (KCl) e cloreto de sódio (NaCl), situadas acima das jazidas de petróleo do Pré-sal. De acordo com estimativas iniciais, os recursos totais podem ultrapassar 3 bilhões de toneladas de KCl, com expectativa de produção de 2 milhões de toneladas por ano no curto prazo.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Valmor Barbosa, conta que o governador Fábio Mitidieri e a equipe do Governo de Sergipe se reuniram com representantes da South Atlantic Potash em outubro de 2024, após a assinatura de um protocolo de intenções entre a empresa e o Estado. Durante a reunião, o governador colocou o Estado à disposição para apoiar o avanço do projeto, e o diálogo tem se mantido aberto.

“Em paralelo, o Governo de Sergipe se mantém ativo no suporte e incentivo a investimentos no setor de fertilizantes. O Estado tem acompanhado as tratativas em torno da retomada das operações na Fafen, com expectativa de retorno para este trimestre”, declara Barbosa.

Outra iniciativa do Governo de Sergipe, destacada pelo secretário, é o fortalecimento do setor por meio da construção do Plano Estadual de Fertilizantes, atualmente em fase de discussões para posterior encaminhamento à Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese). O texto, que tomou como referência o modelo do Rio de Janeiro, foi elaborado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedetec) com o intuito de estabelecer facilidades para o crescimento do setor.

“Cabe destacar que Sergipe é reconhecido internacionalmente por suas reservas minerais, abrigando a única mina subterrânea convencional de potássio do Hemisfério Sul. Ela fica localizada no subsolo do município de Rosário do Catete, a cerca de 40 quilômetros de Aracaju. Nesse sentido, Sergipe reúne diversas misturadoras, que projetam o potencial do estado no segmento e revelam a importância da cadeia de fertilizantes para Sergipe”, afirma Barbosa.

Desafios técnicos para a exploração de potássio

Leonardo Wanderley, editor do NE Pulse, comenta os desafios técnicos e financeiros para a exploração de potássio em Sergipe. “A infraestrutura logística deficiente é um dos principais obstáculos ao crescimento do setor, especialmente devido à localização remota dos depósitos e à falta de transporte adequado, como rodovias, ferrovias e portos. Investimentos em melhorias infraestruturais são necessários para reduzir custos e facilitar o transporte”.

Ele sugere que a reutilização de infraestrutura existente, como plataformas e tubulações da Petrobras, pode ser uma solução estratégica. “Isso reduziria os custos operacionais, acelerando o desenvolvimento dos projetos de mineração e evitando a construção de novas instalações”.

Wanderley também aponta que a extração de silvinita, mineral presente nas reservas sergipanas, pode ser mais cara e complexa devido à sua baixa concentração de potássio. Ele destaca a importância de tecnologias mais eficientes para o beneficiamento. Além disso, observa que os impactos ambientais e regulatórios, como o consumo de água e a geração de resíduos, são desafios para a atividade. “A conformidade com as normas ambientais e a obtenção das licenças necessárias são desafios técnicos significativos”, diz.

Apesar dos entraves, ele ressalta que a exploração local de potássio pode reduzir a dependência do Brasil de importações, o que melhoraria a balança comercial e fortaleceria a soberania mineral.

“O Brasil é um dos maiores importadores de potássio, com grandes dependências de países como Canadá, Rússia e Belarus. Com a produção local, poderia economizar uma parte significativa, além de gerar empregos e aumentar a arrecadação de impostos”, afirma Wanderley.

Ele conclui destacando que a produção de potássio em Sergipe pode promover inovação tecnológica e tornar o Brasil mais competitivo no mercado global de fertilizantes.

Em outubro, o governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, recebeu a South Atlantic Potash, que apresentou um projeto de exploração de KCl e NaCl no estado | Foto: Divulgação – Governo de Sergipe

Avanços e novas condições

Nos últimos anos, a dependência do Brasil de importações de potássio cresceu, enquanto avanços tecnológicos reduziram custos e riscos de operação offshore. Essa combinação criou condições mais favoráveis para a exploração.

Barbosa também enfatiza que o projeto terá grande impacto na economia tanto do estado quanto do país, ao reduzir a dependência externa do potássio, um dos três principais componentes do NPK. “Desta maneira, geraria grande efeito no balanço de pagamentos nacional, reduzindo a importação do insumo. A geração de empregos é mais um dos impactos esperados, uma vez que o sucesso do projeto deve levar à implantação de outras empresas do segmento. Assim, estima-se a criação de um ciclo virtuoso, com a utilização de mão de obra local e a geração de oportunidades de investimentos”.

Ele ainda destaca que o Estado tem um pleito junto à Petrobras para a retomada da produção de petróleo e gás em águas rasas por meio de outro operador. “A reivindicação vem sendo reiterada em constantes encontros entre a direção da companhia e representantes do Governo de Sergipe. Também está em estudo o processo de descomissionamento de plataformas no estado. Nesse contexto, serão analisadas todas as possibilidades, tanto para a retomada de produção de petróleo e gás quanto para a eventual utilização no projeto da South Atlantic Potash”, explica Barbosa.

“Vale pontuar que o cenário-base do projeto considera o não uso das plataformas existentes, diante da complexidade para o seu eventual aproveitamento”, conclui o secretário.

Se implementado com sucesso, o projeto poderá reduzir drasticamente a vulnerabilidade do Brasil à importação de fertilizantes, fortalecendo a cadeia produtiva do agronegócio e contribuindo para a segurança alimentar do país.

Origem do projeto

O projeto teve início em 2010, quando a empresa canadense MbAC identificou a oportunidade de explorar potássio em áreas associadas ao Pré-sal. Por estar localizado abaixo de espessas camadas de sal ricas em cloreto de potássio, avaliou-se a viabilidade da mineração por solução, uma técnica amplamente utilizada no Canadá.

Um estudo conduzido pela AMEC confirmou a viabilidade técnica do método, que envolvia bombear a solução salina até a costa para processamento em plantas convencionais em terra. No entanto, os altos custos inviabilizaram o avanço do projeto na época.

Três áreas foram analisadas – Sergipe, Espírito Santo e São Paulo – sendo Sergipe a mais promissora devido à proximidade com a costa e às jazidas mais acessíveis.

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