A busca por alternativas sustentáveis no Sertão da Paraíba tem ganhado cada vez mais destaque, especialmente com a chegada de Pierre Landolt, franco-suíço, agora brasileiro que, aos 77 anos, permanece inovando na agricultura e dando vida ao que ele considera um ciclo virtuoso. Pierre, fundador da Fazenda Tamanduá, é um dos grandes nomes quando o assunto é a implementação da agricultura biodinâmica em solo nordestino. Com tanta expertise na área e investimentos na fazenda, o empreendedor fortaleceu a economia local, com a geração de empregos, contribuindo para o fortalecimento da agricultura sustentável no Brasil.
O impacto da forma de trabalhar de Landolt resultou, por exemplo, na melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Localizada no município de Santa Teresinha, no Sertão da Paraíba, a Fazenda Tamanduá ocupa uma área de 300 hectares em uma região semiárida, conhecida pelas dificuldades impostas pela seca prolongada e chuvas irregulares. Mesmo diante desses desafios, a fazenda tem se destacado por sua produção agrícola diversificada e por adotar práticas de cultivo orgânico e biodinâmico, com foco na sustentabilidade e autossustentabilidade.
Destaque no setor agropecuário, no Sertão da Paraíba e na comunidade europeia, a Fazenda registrou um crescimento de 20% a 30% ao ano, especialmente na produção de mangas, que garantiu espaço no mercado internacional com a exportação da fruta – incluindo as variedades Tommy e Keitt. A prática de polinização com abelhas e o cultivo de spirulina, também tem conquistado aceitação no mercado europeu.
Além disso, Landolt está comprometido com o desenvolvimento das comunidades locais. O modelo de fazenda-escola é referência como um local de aprendizado e troca de conhecimento, com a realização de eventos que atraem especialistas do mundo todo, promovendo um diálogo global. A integração de tecnologia de ponta, como a inteligência artificial, na gestão da fazenda, é outro exemplo do compromisso com a inovação.
Desde 1977 a Fazenda pertence a Mocó Agropecuária Ltda. A palavra “mocó”, que deu origem ao nome da empresa, veio da variedade de algodão arbóreo de fibra longa que chegou a ser cultivado de 1977 até 1984.
“O Sertão sempre me atraiu porque era o local ideal para o algodão Mocó. Desde o início, meu foco sempre foi trabalhar com produtos diferenciados, como o algodão de fibra longa, algo que é muito valorizado na Europa e que aqui encontraram condições favoráveis”, afirma Pierre Landolt.
Pioneira em um modelo de agricultura que respeita os ciclos naturais e promove a saúde do solo, a busca pela autossustentabilidade e pela diversificação das culturas é um dos principais objetivos da Fazenda Tamanduá, que se adapta às condições climáticas adversas da região, com destaque para as práticas de uso eficiente da água e inovação no manejo agrícola.
A relação que o fundador construiu com a agricultura biodinâmica se fortaleceu ainda mais ao observar a interação entre gado e algodão, prática tradicional do Sertão que já intuitivamente seguia uma filosofia de respeito à natureza. A fazenda adota um sistema de reciclagem de recursos naturais, que inclui compostagem com poda de árvores e esterco de animais, além de práticas como a polinização com abelhas e o cultivo de spirulina – que tem ganhado aceitação no mercado europeu.
O uso de água, um desafio no semiárido, é gerido com foco na eficiência. Pierre defende que, ao compreender e respeitar o ciclo da água e as características do solo local, é possível otimizar os recursos e garantir a produtividade sustentável da fazenda. “Água é um recurso precioso aqui no Sertão. Para nós, o segredo não está na quantidade, mas na forma como a distribuímos. As culturas perenes, como a mangueira, são fundamentais para a produção contínua e para lidar com as dificuldades do clima”, conta o fundador, que também revelou estar em constante desenvolvimento de tecnologias que buscam otimizar o uso da água através de inteligência artificial.
Inovação e Sustentabilidade: a visão de Flávio Alves
Em entrevista ao portal Investindo Por Aí, Flávio Alves, gerente de produção da Fazenda Tamanduá, compartilhou os desafios e conquistas da propriedade. Para Flávio, os benefícios de se trabalhar com produtos orgânicos e biodinâmicos vão além da eliminação de resíduos químicos. “Para a fazenda e para o meio ambiente, podemos dizer que um produto orgânico e biodinâmico não é apenas livre de resíduos químicos, ele carrega consigo uma série de benefícios. Além de ser produzido sem substâncias proibidas, a produção respeita as leis trabalhistas e ambientais. O produto biodinâmico respeita também a energia existente entre o cosmos, as plantas, a água e os animais, o que potencializa a energia dos alimentos. Ou seja, é um produto socialmente justo, ambientalmente correto e economicamente viável”, afirmou
Segundo o gerente, a prática da agricultura biodinâmica não beneficia apenas os produtos, mas também as comunidades locais. “Esse não é apenas o benefício do produto orgânico, mas também para quem o produz e para quem o consome. Ao adquirir ou consumir um produto orgânico e biodinâmico, o consumidor está garantindo a renda na região onde ele foi produzido, sempre dentro das normas ambientais e trabalhistas”, explicou.
A escassez de água no Sertão da Paraíba é um dos maiores desafios para a produção agrícola, mas a Fazenda Tamanduá tem se adaptado para contornar a falta de recursos hídricos. A fazenda adota sistemas de irrigação eficientes, como a irrigação por microaspersão e gotejamento, tem investido na captação e no armazenamento de águas pluviais. “A irrigação é feita de forma eficiente, mas não ocorre o ano inteiro. É feita somente nas épocas de maior necessidade, de forma muito eficiente no uso da água. Além disso, utilizamos o tratamento de água chamado ‘água 4D’, que realiza a magnetização da água, evitando que ela obstrua os orifícios do sistema de irrigação com sais”, esclareceu o gerente de produção.
A fazenda também possui diversos reservatórios de água, chamados açudes, que garantem o aproveitamento da água da chuva. “Temos um sistema de armazenamento que nos permite utilizar a água da chuva de forma mais eficiente. A água armazenada é usada para irrigação, mas também realizamos cultivo sem irrigação, dependendo das condições climáticas, especialmente no período chuvoso”, complementa Flávio.
A Fazenda Tamanduá possui as seguintes certificações para seus produtos:
- Orgânico (Brasil, USDA, Europa)
- Biodinâmica
- MAPA (SIF)
- ANVISA
- SMETA
- Global G.A.P.
Diversificação da produção e crescimento no mercado
Com um portfólio diversificado que inclui a produção de melões, espirulina, arroz, mel e própolis, além da criação de caprinos da raça Pardo Alpina e bovinos da raça Pardo Suíço, a Fazenda Tamanduá tem se destacado no mercado, registrando um crescimento de 20% a 30% ao ano, especialmente na produção de mangas. “Nossa manga é diferenciada em termos de teor de Brix, que mede o grau de açúcar do fruto. O destaque está relacionado à localização da fazenda, em uma área com alta intensidade de luz solar, situada a 7° do Equador, o que potencializa a fotossíntese. Com o sistema de produção biodinâmico, isso resulta em frutos ainda mais doces”, garantiu Flávio Alves.
O gerente explicou que a atividade de água no fruto da manga ou do melão orgânico é baixa, o que resulta em um shelf life (vida útil após a colheita) significativamente maior em comparação aos produtos convencionais. “Isso nos permite oferecer um produto diferenciado no mercado, com maior valor agregado em relação aos produtos tradicionais”, destacou.
Além disso, a Fazenda Tamanduá tem conquistado espaço no mercado internacional com a exportação de suas mangas, incluindo as variedades Tommy e Keitt. O cultivo de melão amarelo e a produção de spirulina também têm desempenhado um papel significativo no crescimento da fazenda.
Aquisições estratégicas para expansão
A Fazenda Tamanduá adquiriu propriedades como a Fazenda Cruz e a Serra Branca, que têm sido fundamentais para ampliar sua produção e garantir maior estabilidade. A Fazenda Cruz, certificada biodinâmica, é voltada para a criação de bovinos da raça Pardo Suíço e o cultivo de sorgo e melões. Já a Serra Branca investe na ampliação do pomar de mangas, arroz e na utilização de palma forrageira para alimentação dos animais. “Essas aquisições são fundamentais para ampliar nossa capacidade de produção, especialmente nas áreas irrigadas”, destacou Flávio.
A Fazenda Tamanduá também tem desempenhado um papel fundamental na formação de novos produtores e na disseminação de conhecimento. “Temos parcerias com universidades públicas e privadas, além de receber constantemente visitas de grupos e instituições para compartilhar nosso sistema de produção e as tecnologias utilizadas”, explicou Flávio Alves. O modelo de fazenda-escola é uma forma de disseminar boas práticas agrícolas e ajudar pequenos produtores a adotar soluções mais sustentáveis e inovadoras em suas propriedades.
Perspectivas de expansão
Com a crescente demanda por produtos orgânicos e biodinâmicos, a Fazenda Tamanduá se prepara para expandir ainda mais sua produção. Flávio Alves confirmou na entrevista exclusiva, que está otimista com as perspectivas para o futuro. “A produção está em crescimento, com o aumento da demanda por nossos produtos. Estamos constantemente investindo em inovação e melhorias para seguir nessa trajetória de crescimento, ampliando nossa produção e presença no mercado”, contou.
De acordo com o gerente, o mercado está em constante crescimento, e o setor agropecuário com certificação orgânica está se tornando um nicho cada vez mais relevante. “Com o aumento da demanda por produtos sustentáveis, há muitas oportunidades para diversificação. Acredito que o campo está aberto para crescer e que há muito espaço para inovação e expansão nesse segmento. A chave é manter um portfólio diversificado e se adaptar às necessidades do mercado, que está sempre em evolução”, revelou Flávio.
A Fazenda Tamanduá, com seu modelo inovador de produção sustentável, continua se destacando no Sertão da Paraíba e na comunidade europeia, não apenas pela qualidade de seus produtos, mas também pelo impacto positivo que gera na economia local e pela contribuição ao fortalecimento da agricultura sustentável no Brasil.