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19 de março de 2025 20:07

Fiea, Senai, Nosso Mangue e Maceió Investe destacam potencial econômico do “Carbono Azul”

Fiea, Senai, Nosso Mangue e Maceió Investe destacam potencial econômico do “Carbono Azul”

Iniciativas de sustentabilidade visam gerar créditos de carbono e benefícios sociais por meio da preservação dos manguezais
Foram apresentadas ações para que os benefícios econômicos do “carbono azul” gerem riqueza de forma sustentável.

A Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com a Maceió Investe e a startup Nosso Mangue, tem se dedicado a promover o “carbono azul” como uma solução para as mudanças climáticas e uma oportunidade econômica sustentável.

Os manguezais brasileiros – que representam o segundo maior ecossistema de sua espécie no mundo – têm um enorme potencial para capturar carbono, com estimativas apontando para a possibilidade de absorver até 1,9 bilhão de toneladas de CO2 por ano. Esse potencial coloca os manguezais em uma posição estratégica para gerar créditos de carbono, uma grande oportunidade econômica. O mercado voluntário pode gerar mais de R$75 milhões, enquanto o mercado regulamentado pode alcançar R$1,6 bilhão por ano.

O apoio da Fiea busca fomentar soluções que combatam as mudanças climáticas e gerem benefícios diretos para as comunidades locais

O assessor executivo do Sistema Fiea, Júlio Zorzal, conta que, durante a Semana do Meio Ambiente, em junho, foi lançado o programa “Conectando o Futuro: Avançando com ESG na Indústria”, voltado para promover o desenvolvimento sustentável em Alagoas, alinhando-se às demandas globais por sustentabilidade e combate às mudanças climáticas.

O programa Nova Indústria Brasil (NIB), do Governo Federal, também inclui, em sua missão de bioeconomia e descarbonização, o fortalecimento de cadeias produtivas baseadas na economia circular e no uso inovador da biodiversidade. Nesse contexto, o “carbono azul”, ligado a ecossistemas marinhos e costeiros, surge como alternativa sustentável, especialmente pela preservação de manguezais, que capturam carbono da atmosfera, armazenam na biomassa e solo, e oferecem serviços ambientais essenciais.

Equipe em trabalho de campo no manguezal – .ecossistema ligado ao desenvolvimento econômico sustentável da região. Foto: divulgação

O Sistema Fiea, por meio de suas iniciativas, apoia projetos como o da startup Nosso Mangue

Zorzal destaca que os manguezais, ecossistemas altamente produtivos, armazenam até oito vezes mais carbono que a vegetação da Caatinga, o que reforça a necessidade urgente de ações de restauração e preservação. Sua conservação não apenas contribui para o sequestro de carbono e mitigação das mudanças climáticas, mas também fortalece a economia local, gerando trabalho e renda para comunidades ligadas à pesca e ao turismo costeiro.

Com essa visão, o Sistema Fiea e o SENAI incorporam práticas ESG à indústria local, promovendo inovação e competitividade sustentável. A startup Nosso Mangue, por exemplo, conta com o apoio do HUB de Inovação do SENAI para desenvolver negócios de impacto socioambiental. O SENAI também facilita a articulação com instituições públicas e privadas, como na viabilização da participação de Mayris Nascimento, CEO da Nosso Mangue, na COP 16 da Biodiversidade, na Colômbia, fortalecendo a imagem da empresa e da indústria alagoana.

“A preservação dos manguezais está diretamente ligada ao desenvolvimento econômico sustentável da região, com a inclusão das comunidades locais em iniciativas que fortaleçam a produção, os serviços ambientais, a geração de empregos e o empreendedorismo social. Apoiar negócios como a Nosso Mangue fortalece os ecossistemas locais, combate às mudanças climáticas, gera trabalho e renda para as comunidades e atrai investimentos para o estado”, conclui Zorzal.

Nosso Mangue impulsiona soluções sustentáveis, apesar de desafios

A CEO e fundadora do Nosso Mangue, Mayris Nascimento, aponta que os projetos de carbono azul, voltados para a preservação e regeneração dos manguezais, enfrentam grandes desafios no Brasil. “A falta de regulamentação específica, a complexidade na mensuração do estoque de carbono, o desmatamento ilegal e a ausência de estudos robustos dificultam o avanço dessas iniciativas. Além disso, a conscientização limitada sobre o potencial do carbono azul como solução climática afeta a criação de políticas públicas e a atração de investimentos privados”, explica.

Por outro lado, Mayris avalia as vastas oportunidades. Os manguezais brasileiros, entre os maiores reservatórios de carbono do mundo, podem contribuir significativamente para as metas climáticas globais, protegendo áreas costeiras e gerando renda com turismo, pesca artesanal e soluções baseadas na natureza. Estima-se que cerca de 40 milhões de brasileiros sejam positivamente impactados pelos manguezais, número que pode crescer com a valorização desses ecossistemas.

“O Nosso Mangue busca superar esses desafios com iniciativas como a capacitação de comunidades ribeirinhas, turismo regenerativo e serviços de compensação de carbono em áreas de manguezais. Por meio de parcerias com empresas e organizações engajadas, promovemos modelos sustentáveis que aliam conservação e impacto social positivo”, garante Mayris.

Sobre o impacto social das iniciativas, ela reforça: “Os manguezais são o coração das comunidades ribeirinhas, garantindo segurança alimentar, trabalho e identidade cultural. Nosso objetivo é promover inclusão e protagonismo dessas comunidades”.

Através da capacitação, valorização do conhecimento tradicional e criação de oportunidades econômicas sustentáveis, o Nosso Mangue busca fortalecer a resiliência das comunidades diante dos desafios ambientais e econômicos.

O potencial de investimentos em projetos de carbono azul em Alagoas

O diretor de captação de novos negócios da Maceió Investe, Frederico Celentano, destaca o foco da iniciativa no carbono azul, principalmente na proteção e recuperação dos manguezais de Maceió e Alagoas. “Com mais de 5.000 hectares de manguezais, Alagoas possui uma reserva significativa de créditos de carbono, fundamentais no combate às mudanças climáticas. Os manguezais são ecossistemas altamente eficientes na captura de carbono, absorvendo até 10% mais do que as florestas tropicais”, considera. 

Além de seu papel climático, os manguezais sustentam a subsistência de muitas comunidades locais, apoiando atividades como pesca e cultivo de mariscos, gerando renda para milhares de famílias. Esse ecossistema impacta positivamente a economia local, sendo fundamental para a biodiversidade e para o sustento de diversas práticas pesqueiras.

Embora os manguezais sejam áreas de preservação permanente, é possível criar um modelo econômico equilibrado, combinando conservação e desenvolvimento por meio da valorização da biodiversidade e da criação de cadeias produtivas sustentáveis. “Assim, o investimento em carbono azul em Alagoas é uma oportunidade estratégica, alinhando proteção ambiental, valorização comunitária e diversificação econômica, beneficiando a região e a cidade de Maceió”, ressalta Celentano.

O diretor ainda enfatiza que o potencial de exploração do carbono azul é ainda maior do que isso, sendo apenas o primeiro passo. Para ampliar as possibilidades de exploração em Alagoas e Maceió, algumas alternativas devem ser incorporadas:

  1. Aquicultura sustentável: cultivar moluscos e crustáceos nativos, gerando créditos de carbono e valor econômico local;
  2. Biotecnologia: desenvolver fármacos, cosméticos e bioplásticos a partir dos manguezais;
  3. Turismo sustentável: criar rotas ecológicas e capacitar membros das comunidades como guias, gerando renda e educação ambiental;
  4. Monitoramento digital: usar tecnologias para monitorar os manguezais e quantificar a captura de carbono;
  5. Restauro ecológico: recuperar áreas degradadas e proteger as costas da erosão;
  6. Educação e pesquisa: criar centros de pesquisa e programas educativos sobre carbono azul.;
  7. Infraestrutura verde: implantar saneamento e urbanismo sustentável perto dos manguezais;
  8. Integração econômica: promover agricultura sustentável e certificação de pesca nos manguezais;
  9. Parcerias internacionais: estabelecer parcerias com fundos internacionais para o carbono azul.
  10. Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA): remunerar comunidades pela preservação dos manguezais.

    Fiea destaca os manguezais como solução para as mudanças climáticas. Foto: divulgação

Captação de investidores em projetos que unem lucro e sustentabilidade ambiental

Celentano acredita que o maior desafio para atrair investidores em iniciativas que combinam retorno financeiro e impacto ambiental é estabelecer uma equação econômico-financeira clara. Isso inclui calcular com precisão os custos de preservação, como reflorestamento e monitoramento, e integrar essas iniciativas à melhoria do saneamento básico em Maceió, crucial para a saúde dos manguezais. Outro obstáculo é a mensuração correta da captação de carbono pelos manguezais, pois as metodologias ainda não foram validadas no Brasil.

Para superar essas barreiras, está sendo realizada uma prova de conceito em parceria com a Fiea e outros órgãos, adaptando metodologias internacionais à realidade local. Além disso, a governança eficiente e o engajamento das comunidades locais são essenciais para garantir o sucesso e a sustentabilidade do projeto, embora a questão fundiária seja menos problemática em Alagoas.

“Em resumo, a combinação de dados confiáveis, metodologias validadas, infraestrutura de suporte e uma governança clara será a chave para atrair investidores. Essas iniciativas têm o potencial de gerar retorno financeiro sólido e impactos ambientais e sociais positivos, consolidando Alagoas como um exemplo de inovação e sustentabilidade”, conclui o diretor.

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