O setor de árvores cultivadas no Brasil, fundamental para o agronegócio, é um exemplo de como é possível unir desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Além de gerar milhões de empregos, ele desempenha um papel crucial na descarbonização da economia, por meio de práticas de manejo e replantio responsáveis. O país, líder global na produção e exportação de celulose, combina crescimento econômico com preservação ambiental, destacando-se no cenário internacional.
Em entrevista ao portal Investindo por aí, o pesquisador da Embrapa Florestas, Edilson Batista de Oliveira, enfatizou que o Brasil é referência mundial em tecnologia florestal. “As condições de clima e solo do Brasil permitem produtividades elevadíssimas. Assim como utilizamos agricultura de precisão na produção de alimentos, também aplicamos a silvicultura de precisão na produção de madeira. O setor de árvores plantadas é um dos mais avançados do mundo, tanto em tecnologia quanto em produtividade”, afirmou.
Oliveira destacou ainda o impacto econômico do setor, mencionando dados recentes da Agência Gov. “Em 2023, o agronegócio brasileiro gerou R$ 933 bilhões em exportações, com a soja representando 40% e as carnes 14%. O setor de produtos florestais faturou R$ 80 bilhões, contribuindo com 8,6% das exportações. Além disso, arrecadou R$ 20 bilhões em tributos e gerou 2,6 milhões de empregos diretos e indiretos, ocupando apenas 1,16% do território nacional”, detalhou.
Inovação em plantio
Oliveira também trouxe um exemplo de sucesso da Embrapa na pesquisa com eucalipto. “Nos anos 80, um pesquisador viajou pela Austrália e Indonésia coletando material genético de eucalipto. Esse esforço resultou na criação de 250 experimentos no Brasil, e em três décadas, a produtividade da espécie triplicou, tornando-se uma das bases do setor de árvores plantadas no país”, explicou.
No entanto, ele aponta que ainda há áreas com grande potencial de crescimento e inovação. “O setor precisa de mais pesquisas com outras espécies nativas e exóticas com grande potencial madeireiro, além de mais investimentos em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Esse modelo, que inclui árvores como o eucalipto em áreas de pastagem, melhora a qualidade do solo, sequestra carbono e aumenta a produtividade do gado. Com 177 milhões de hectares de pastagens no Brasil, há um enorme potencial para aumentar a sustentabilidade e a rentabilidade dos produtores, que poderão lucrar tanto com a pecuária quanto com a venda da madeira”, concluiu.
Programas do BNB para o setor
No contexto do agronegócio brasileiro, o setor de árvores cultivadas desempenha um papel fundamental na geração de empregos e no aumento das exportações. Com essa relevância em mente, o Banco do Nordeste (BNB) se destaca como um agente financeiro parceiro, oferecendo diversas linhas de crédito e incentivos que promovem o crescimento sustentável desse segmento. Luiz Sérgio Farias Machado, superintendente de Agronegócio e Microfinança Rural do BNB, compartilhou com o Investindo Por Aí algumas iniciativas do banco voltadas para o setor de árvores cultivadas, considerando sua relevância na geração de empregos e nas exportações do agro brasileiro.
Em resposta a essa importância, o BNB tem como objetivo contribuir para o aumento da capacidade produtiva, inovação e sustentabilidade dos empreendimentos rurais. “Nosso compromisso é melhorar a qualidade de vida das pessoas e avançar nos indicadores socioeconômicos da região”, afirma Machado.
O BNB adota uma política específica para o agronegócio, baseada em diretrizes que incluem a preservação e utilização sustentável do meio ambiente, incentivo ao uso de fontes renováveis de energia e apoio ao fortalecimento da produção agrícola e pecuária. Nesse contexto, destaca-se o FNE Verde, um programa de crédito que financia projetos de conservação ambiental, recuperação de áreas degradadas e convivência com o semiárido.
Recursos para a preservação
O superintendente explica que o FNE Verde é essencial para apoiar práticas que recuperam espaços anteriormente degradados e reduzem os impactos ambientais. Este programa abrange diversas iniciativas, como:
- Recuperação e regularização de áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (RL);
- Projetos de proteção ao meio ambiente e recuperação de vegetação nativa;
- Desenvolvimento de atividades sustentáveis na Agricultura de Baixo Carbono (ABC);
- Adoção de tecnologias que contribuam para a adaptação às mudanças climáticas.
Com prazos de financiamento de até 12 anos e até 4 anos de carência, o FNE Verde é uma ferramenta valiosa para empreendedores que buscam implementar práticas sustentáveis em suas operações, incluindo a recuperação de áreas degradadas.
Contribuição para a descarbonização
O manejo de árvores cultivadas é essencial para a descarbonização da economia. O BNB desenvolveu também o programa FNE Agricultura de Baixo Carbono, que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes da atividade agropecuária. Esse programa não apenas promove a sustentabilidade da cadeia produtiva, mas também traz benefícios significativos, como:
- Redução do impacto da agricultura nas mudanças climáticas;
- Melhoria da biodiversidade;
- Aumento da eficiência produtiva.
“O BNB busca financiar investimentos agropecuários que incluam práticas de sustentabilidade, como a recuperação de pastagens degradadas e sistemas de integração Lavoura-Pecuária e Lavoura-Floresta”, explica Machado.
Uso inteligente da terra
O setor de árvores cultivadas é um exemplo de uso inteligente da terra. O BNB oferece linhas de crédito que priorizam projetos de uso sustentável das áreas plantadas e conservação ambiental, como o FNE SOL, que financia a aquisição de sistemas para micro e minigeração de energia renovável, como a energia solar.
“O Nordeste possui um alto potencial para a produção de energia solar, permitindo que os agricultores utilizem a mesma área produtiva para instalar sistemas fotovoltaicos, o que é uma excelente oportunidade para promover a sustentabilidade”, afirma o superintendente.
Critérios para acesso ao financiamento
Apesar do potencial do setor, o BNB enfrenta desafios para financiar o agronegócio. A instituição está constantemente ajustando suas políticas para facilitar o acesso ao crédito e fomentar o crescimento sustentável. A integração de práticas de sustentabilidade em sua estratégia de negócios é fundamental.
Para acessar o financiamento dos projetos, o Banco do Nordeste avalia a viabilidade técnica, econômica e financeira das iniciativas, além de garantir a conformidade com a legislação ambiental. Os projetos financiados são vistoriados durante a contratação e o desembolso dos recursos, assegurando a correta aplicação do crédito.
“O cumprimento das normas ambientais e a responsabilidade social são essenciais para a concessão do crédito. Buscamos apoiar iniciativas que promovam a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida, refletindo nosso compromisso em apoiar a transição para uma economia de baixo carbono”, destaca Machado.
Geração de empregos e desenvolvimento regional
O setor de árvores cultivadas é responsável por 2,6 milhões de empregos diretos e indiretos, contribuindo para o desenvolvimento das regiões fora dos grandes centros urbanos. O BNB atua como um dos principais agentes de fomento na região, promovendo o desenvolvimento sustentável e inclusivo.
“Nossa missão é transformar a Região Nordeste e o norte de Minas Gerais e Espírito Santo, utilizando o desenvolvimento sustentável como essência”, ressalta Machado. O banco também participa de programas de desenvolvimento regional que visam aumentar a competitividade nos setores agropecuário, industrial e comercial.
Investimentos para o futuro
O futuro do setor de árvores cultivadas é promissor, com grandes oportunidades de crescimento. O BNB está atento às tendências do mercado e planeja expandir seus investimentos no setor. A segurança alimentar, a produção orgânica e a geração de energia limpa são algumas das áreas que o banco busca incentivar.
“O Nordeste tem potencial para se tornar uma grande provedora mundial de alimentos, e o BNB está comprometido em apoiar essa transformação”, conclui Machado.
Diante de um cenário de crescimento contínuo e demanda por práticas sustentáveis, o Banco do Nordeste reafirma seu papel fundamental como agente de desenvolvimento, garantindo que os empreendedores do setor de árvores cultivadas tenham o suporte necessário para prosperar de forma sustentável.
Setor cresce em Alagoas
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área destinada à silvicultura em Alagoas cresceu nos últimos três anos, passando de 21.852 hectares em 2020 para 27.575 hectares em 2022. A Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Alagoas (Seagri) destaca que esse crescimento se deve à instalação de novas empresas no setor e a estratégias diversificadas que promovem a produção sustentável local, incluindo os plantios de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
A secretária Aline Rodrigues explicou que Alagoas está implementando o Plano ABC+ Alagoas, que se estende de 2020 a 2030 e é coordenado pela Seagri. “Este plano, alinhado às diretrizes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), estabelece metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e promover a fixação de carbono na atmosfera”, afirmou. Entre as iniciativas estão o aumento das áreas de plantio de eucalipto, chegando a 15 hectares, e a expansão dos sistemas integrados em 2.300 hectares.
“Estamos monitorando de perto o crescimento das florestas plantadas, pois são uma tecnologia essencial dentro do Plano ABC+ Alagoas. As ações que combinam sustentabilidade e inovação tecnológica são cruciais para a redução dos gases de efeito estufa e o sequestro de carbono. Até o final do decênio, esperamos expandir a área plantada para 38 mil hectares”, concluiu a secretária.
Mudanças climáticas impulsionam plantio
O economista alagoano Renan Laurentino destacou que, nos últimos anos, nunca se falou tanto sobre o potencial socioambiental e econômico do Brasil como atualmente, especialmente com o aumento das discussões sobre mudanças climáticas e o impacto das novas tecnologias. Segundo ele, essas transformações globais estão moldando um cenário em que é urgente pensar sobre o papel do ser humano na construção de um mundo mais sustentável. “Estamos sofrendo com questões impactantes, como as mudanças climáticas, que nos trazem uma perspectiva de como podemos agir para tornar o planeta um lugar melhor. Nesse contexto, entra a indústria de árvores cultivadas, que é uma pauta fundamental da bioeconomia em larga escala”, explicou Laurentino ao Investimento Por Aí.
O economista ressaltou que essa indústria, integrada de forma lógica, sistêmica e circular, tem um papel fundamental no uso sustentável da madeira, gerando crescimento econômico não apenas para o agronegócio, mas também contribuindo significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. “O manejo sustentável da madeira impulsiona não só o agronegócio, mas também tem uma forte intervenção no PIB, atraindo a atenção do mercado internacional”, afirmou.
Laurentino destacou que o setor já movimenta milhões de hectares de terras e emprega uma vasta mão de obra especializada, como biólogos, engenheiros florestais e especialistas em logística.
Regiões como Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são protagonistas na atuação da indústria de árvores cultivadas, com uma longa história que remonta a práticas já estabelecidas desde a década de 1950, ou até antes, por volta de 1920. “Essas regiões já atuam há décadas no mercado de árvores cultivadas. O Brasil, desde o ciclo do Pau-Brasil, tem uma tradição no extrativismo, e cultivar árvores para fins comerciais é uma evolução natural dessa história”, observou o economista. Ele lembrou que o setor gera uma receita bruta considerável, na casa dos 260 bilhões de reais, segundo o Instituto Brasileiro de Árvores Cultivadas (IBA).
Outro ponto relevante abordado por Laurentino é o interesse de investidores internacionais, especialmente no que se refere aos créditos de carbono. Países poluentes buscam investir em economias sustentáveis, como a brasileira, que se destaca pelo manejo responsável e pela produção agrícola e florestal alinhada às práticas ambientais. “O mercado de árvores cultivadas também atrai investidores estrangeiros por meio dos créditos de carbono, uma vez que o Brasil se posiciona como uma economia que valoriza o bem-estar socioambiental”, explicou. Ele citou o mogno como exemplo de uma madeira nobre que tem grande potencial de exportação e uso na construção civil.
Além disso, o economista apontou que o Brasil, com sua vasta extensão territorial e grande diversidade de biomas, tem se tornado um destino atrativo para investimentos em fontes renováveis, como energia eólica, fotovoltaica e hidrelétrica. “Com suas dimensões continentais, o país consegue atrair investidores de forma magistral. Temos um grande potencial em fontes renováveis e, agora, no setor de árvores cultivadas, que está cada vez mais integrado à lógica de responsabilidade social sustentável”, ressaltou.
Laurentino também chamou a atenção para o desenvolvimento da indústria de árvores cultivadas na região Nordeste. Nos últimos cinco anos, o cultivo de eucalipto vem ganhando força, especialmente em áreas que antes eram dominadas pelo plantio de cana-de-açúcar. “O Nordeste, com sua Zona da Mata historicamente desmatada, começou recentemente a investir no cultivo de eucalipto. Essa é uma oportunidade para a região entrar no mercado de árvores cultivadas e contribuir com o crescimento do setor”, concluiu o economista.
Combate ao desmatamento
O promotor de Justiça do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL), Alberto Fonseca, reforça que, apesar das críticas ao cultivo de eucalipto, essa cultura apresenta vantagens ambientais em comparação com a cana-de-açúcar. “O cultivo do eucalipto, embora não seja o ideal, é menos nocivo do que a cana-de-açúcar. Além de reduzir o impacto sobre a fauna local, permite a passagem de animais, o que não ocorre nas plantações de cana”, afirmou Fonseca. Ele também destaca que o eucalipto elimina o uso da prática de queima controlada, comumente utilizada na colheita da cana, que traz prejuízos ao meio ambiente.
Essa perspectiva vai ao encontro das ações promovidas pelo MPAL na Operação Mata Atlântica em Pé, uma das maiores mobilizações contra o desmatamento do bioma Mata Atlântica no Brasil. Durante essa operação, que ocorre em parceria com diversos órgãos ambientais, áreas com possível degradação são monitoradas e fiscalizadas, buscando preservar os últimos remanescentes desse ecossistema.
A Operação Mata Atlântica em Pé tem mapeado, com auxílio de tecnologias como o MapBiomas, áreas onde há indícios de desmatamento irregular. Essas ações buscam identificar e punir os responsáveis por crimes ambientais, garantindo a preservação da vegetação nativa. De acordo com dados recentes, mais de 17 mil hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica foram suprimidos de forma ilegal em 2023, o que evidencia a necessidade contínua de fiscalização e controle. Em 2022 foram 11,9 mil. Ao todo, foram alvos de fiscalização 1.399 polígonos, o que resultou na aplicação de aproximadamente R$ 82 milhões em multas.
Fonseca reforça que, embora o cultivo de eucalipto apresente desafios, ele ainda se coloca como uma alternativa viável dentro do cenário agrícola nacional, principalmente em áreas próximas a matas nativas. “Precisamos de soluções que conciliem a produção agrícola com a preservação do meio ambiente. O eucalipto, em comparação com culturas que causam maior impacto, é menos prejudicial”, concluiu.
A Operação Mata Atlântica em Pé é uma demonstração do esforço coletivo de diversos estados para a preservação de um bioma crítico e cada vez mais ameaçado. Os estados que participam da Operação são Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
5 respostas
Interessante ver esse assunto sendo abordado por áreas distintas. Ainda precisamos muito nos aprofundar e destacar os impactos ambientais em torno deste assunto.
Eu gosto assim amostradinho ♡
Maravilha!!!
Já ouvi falar sobre algo relacionado. Mas é bastante interessante o assunto tanto que os pequenos produtores estão tomando bastante engajamento até instituição bancária tipo o banco do nordeste se interessar em financiar dando grande notoriedade.
Ótima forma de desenvolver economicamente o país e ter responsabilidade com o planeta