O Brasil é um país repleto de belezas, riquezas e com uma sociedade pujante, trabalhadora, criativa e produtiva. Contudo, neste mesmo país, é possível encontrar uma realidade diferente, marcada pelo atraso, carência de investimentos e escassez de oportunidades.
Com o objetivo de mudar esse panorama, o governo federal lançou, em dezembro de 2024, o Programa Cidades Inteligentes, que tem como premissa a descentralização e interiorização do desenvolvimento regional. Foram criados 26 polos regionais, um por estado.
No Nordeste, 112 municípios de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe foram contemplados pela política federal. O programa visa ampliar o acesso a oportunidades de trabalho e renda, infraestrutura econômica e urbana, bem como a bens e serviços públicos para a população residente nessas localidades.
Segundo Adriana Melo, secretária nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do Ministério de Desenvolvimento Regional, o objetivo principal da iniciativa é criar e fortalecer uma rede de cidades em todo o país, buscando descentralizar recursos que estão concentrados nas capitais estaduais.
“Temos muitas pequenas cidades empobrecidas, que estão perdendo população e dinamismo. O objetivo é fortalecer outras centralidades para que possam reter capital humano, atrair processos produtivos, fomentar um ambiente de negócios saudável e reduzir a atração excessiva das capitais. Isso ajuda a evitar a metropolização acelerada, a expansão descontrolada de periferias e o crescimento desequilibrado das cidades no território nacional. A ideia é criar diversas centralidades fortalecidas, diminuindo a pressão sobre as capitais e metrópoles”, destaca.
No Nordeste, Adriana ressalta que os critérios utilizados para a escolha das cidades basearam-se nas regiões imediatas do IBGE e nos municípios presentes no Plano de Desenvolvimento Regional do Nordeste, elaborado pela Sudene. Além disso, foram considerados indicadores socioeconômicos, a variação do dinamismo econômico nos últimos dez anos e o rendimento domiciliar per capita.
“Foram priorizadas regiões com os indicadores socioeconômicos mais baixos. A partir disso, cruzamos essas variáveis para definir as regiões imediatas no Nordeste”, contextualiza a executiva.
A secretária observa que a interiorização da economia ocorrerá por meio do fortalecimento das cidades escolhidas. Isso será feito por meio de investimentos em infraestrutura, melhoria do ambiente de negócios, atração de investimentos e geração de receitas próprias, bem como pelo fortalecimento das capacidades institucionais dos municípios.
“Não trabalhamos com projetos ou ações pré-definidas e uniformizadas para todo o país. Partimos do princípio de que cada região é única, com potencialidades e fragilidades específicas. Portanto, a agenda de desenvolvimento das Cidades Intermediadoras considera essas particularidades. As iniciativas são formuladas em parceria com as prefeituras municipais, o que aumenta as chances de êxito”, explica.
De acordo com Adriana Melo, os polos regionais devem se interconectar e cooperar entre si. “Quanto mais conectada uma rede de cidades, maior o fluxo de mercadorias, capital financeiro e humano. No Nordeste, por exemplo, as conexões internas ainda são frágeis. Muitas relações comerciais e produtivas se voltam para fora da região, como para o Sudeste ou até mesmo para o exterior. Precisamos fortalecer essas conexões internas”, salienta.
A primeira fase do projeto consistiu na seleção das cidades e na construção de agendas bienais de desenvolvimento junto às Prefeituras. A segunda fase envolverá a governança da Política Nacional de Desenvolvimento Regional, com a participação de diversos ministérios e parceiros para viabilizar as iniciativas.
“O Sebrae e a Caixa Econômica Federal são grandes parceiros. Além deles, outros agentes estão envolvidos, como a Frente Nacional de Prefeitos e a Confederação Nacional de Municípios”, explica a representante da pasta do Desenvolvimento Regional. “Todos estão trabalhando para fortalecer as cidades intermediadoras e consolidar uma rede policêntrica, capilarizada e interiorizada”.
A região em números
A análise de dados econômicos, populacionais e de desenvolvimento humano dos estados nordestinos revela disparidades significativas entre as regiões imediatas e seus municípios. O estudo desses números evidencia tanto tendências de crescimento quanto desafios estruturais enfrentados por cada localidade.
A Bahia se destaca como o estado mais rico da região, com um PIB total de R$ 11,9 bilhões, sendo Xique-Xique o maior contribuinte (R$ 1 bilhão). O Rio Grande do Norte aparece em seguida, registrando R$ 11,4 bilhões, impulsionado por Mossoró (R$ 8,9 bilhões). O Maranhão também apresenta um desempenho expressivo, somando R$ 6,9 bilhões. Já a Paraíba possui o menor PIB entre os estados analisados, com R$ 2 bilhões, tendo Cajazeiras como seu principal polo econômico (R$ 1,1 bilhão).
Entre os municípios, Parnaíba (PI) figura entre os de maior PIB, totalizando R$ 2,9 bilhões, seguido por Itabaiana (SE) com R$ 1,9 bilhão e Maragogi (AL) com R$ 1,1 bilhão. A economia dessas cidades reflete a força de setores como comércio, turismo e serviços, que desempenham papel fundamental em seu crescimento.
No que diz respeito à população, o Rio Grande do Norte lidera entre os estados analisados, com 537.289 habitantes, sendo Mossoró o município mais populoso (300.618 habitantes). Outras cidades com grande contingente populacional incluem Parnaíba (PI), com 153.863 habitantes, Itabaiana (SE), com 101.170, e Santa Inês (MA), com 88.722 moradores. Esses centros urbanos exercem papel crucial na economia regional e no fornecimento de serviços essenciais para municípios vizinhos. Em contrapartida, a Paraíba apresenta a menor população somada, com 150.837 habitantes, sendo Cajazeiras a cidade mais populosa (63.239 habitantes).
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) evidencia disparidades na qualidade de vida. Mossoró (RN) registra o maior índice entre os municípios analisados, com 0,720, refletindo melhores condições de educação, longevidade e renda. Outros destaques incluem Parnaíba (PI), com 0,687, e Cajazeiras (PB), com 0,679.
Por outro lado, algumas localidades enfrentam desafios significativos no desenvolvimento humano. Um exemplo é São Miguel dos Milagres (AL), cujo IDH-M de 0,591 está abaixo da média regional, evidenciando carências estruturais em áreas como saúde, educação e renda. Esses contrastes evidenciam a importância de iniciativas voltadas ao desenvolvimento regional, como o Programa Cidades Inteligentes.
Abaixo, os cinco menores municípios contemplados por estado: