A agricultura é um dos principais impulsionadores econômicos no Nordeste. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o papel do setor é crucial para o desenvolvimento da região, empregando cerca de 82,6% da mão de obra do campo. Entre os principais produtos cultivados no Nordeste, destaca-se a cana-de-açúcar, a soja, o algodão e o milho.
Normalmente, o período de plantio na região começa entre julho e agosto e a colheita ocorre até junho do ano seguinte, portanto, no decorrer do primeiro semestre os produtores nordestinos estarão dando conta dos resultados da safra 2024/2025. Esse último ciclo agrícola contou com investimento inédito: o Banco do Nordeste aplicou em julho do ano passado R$ 21,5 bilhões, sendo esse o maior Plano Safra da história na região. Essa oferta de crédito, R$ 1,5 bilhões maior do que a do Plano Safra anterior, foi dividida entre R$ 10 bilhões com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e R$ 11,5 bilhões destinados para a agricultura empresarial. As contratações para esse Plano Safra recorde acontecerão até junho de 2025.
O padrão meteorológico La Niña influenciará diretamente na safra de 2025. Marcado por uma diminuição na temperatura das águas do Oceano Pacífico, esse fenômeno meteorológico promove uma série de mudanças significativas nos padrões de chuva do Brasil, aumentando as precipitações principalmente no Nordeste, predominantemente seco.
Segundo Jean-Pierre Ometto, Pesquisador Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e Coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST / INPE), as referidas mudanças podem influenciar também nos padrões climáticos de 2025 e, consequentemente, na agricultura.
“Estamos em um processo de mudança climática clara, portanto, os efeitos de eventos climáticos como a La Niña podem ser intensificados pelo aquecimento global”, explica Ometto. “Portanto, para esse período na região Nordeste, é importante que o produtor tenha um planejamento que leve em conta as previsões climáticas para evitar riscos para a safra, principalmente em regiões de várzea, que possuem maiores chances de alagamento”, completa o especialista.
Para isso, o pesquisador indica que os produtores fiquem sempre atentos a algumas ferramentas de pesquisa meteorológica para entender os padrões de chuva durante o ano e se programar da melhor forma possível. Uma dessas ferramentas é o sistema AdaptaBrasil, plataforma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação onde pode ser feito o monitoramento de indicadores de impacto das mudanças climáticas em todo o território nacional.
Adaptação
“É importante que os produtores aproveitem essa maior quantidade de chuvas na região Nordeste para ter um melhor manejo da água, usando os períodos de maior precipitação para encher suas cisternas e se manter com melhores recursos hídricos em tempos mais secos no decorrer do ano”, recomenda Ometto. “O padrão da La Niña promove um clima mais seco e afeta desde o Rio Grande do Sul até partes do Centro-Oeste, o que pode afetar as colheitas nessas regiões e promover a safra no Nordeste”, comenta.
David Schmidt, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras e um dos sócios-gestores da Schmidt Agrícola, aponta que apesar das chuvas, o atual preço das commodities não sinaliza uma boa tendência para o setor. “A expectativa para a precificação da soja no mercado não é boa para o próximo período, porém, a tendência aqui no oeste da Bahia é continuar uma expansão, principalmente em áreas irrigadas”, afirma o produtor. “Temos na região uma possibilidade de expansão de 400 a 500 mil hectares irrigados, fazendo com que, apesar da diminuição do preço dos produtos, exista, sim, uma tendência de aumento nos lucros da safra, mas não tão agressiva quanto no último período”, explica Schmidt.
O presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Barreiras também cita que o fenômeno da La Niña tranquiliza os produtores da região, pois a tendência de aumento de chuvas promete aumentar a produção e, assim, diminuir um pouco o impacto gerado pela diminuição no preço das commodities.
“Por mais que a perspectiva de mais precipitações na região possa aumentar a pressão de algumas doenças fúngicas na produção, ainda assim, ela traz uma expectativa maior de produtividade, já que aqui na região é melhor lidar com algumas doenças do que com a falta de chuva”, explica o presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Barreiras.
David Schmidt também aponta que, apesar do aumento na produção de algodão, o carro-chefe da safra na região oeste da Bahia ainda é a soja, sendo essa uma cultura de valor agregado e demanda muito maior, porém, produtos como o próprio algodão e o milho são importantes para diversificar a safra na região e diminuir riscos. Além disso, o produtor também cita que a expectativa sobre mudanças nos preços internacionais das commodities; que podem mudar significativamente nos próximos meses devido à nova gestão presidencial nos EUA e um aumento da pressão de uma disputa comercial entre o governo Trump e a China.