A implementação de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) para o manejo sustentável de açaizais nativos está promovendo mudanças significativas na produção de açaí em terras altas no Maranhão. Desenvolvida pela Embrapa Cocais, a iniciativa busca recuperar áreas degradadas na região do Alto Turí/Gurupi, formada por 13 municípios e responsável por 66% do açaí comercializado no estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018).
Conforme a publicação ‘Desempenho da Agricultura Maranhense em 2021’, lançada em julho de 2023, o Maranhão consolidou-se como o terceiro maior produtor nacional de açaí em 2021, subindo quatro posições no ranking. No mesmo período, o valor de produção do fruto aumentou 194,8%, tornando o açaí o segundo produto mais importante da lavoura permanente maranhense. O estado agora se posiciona atrás apenas do Pará, que detém cerca de 90% da produção nacional, e do Amazonas.
Desafios de adaptação
A tecnologia de manejo, historicamente desenvolvida para várzeas, precisou ser ajustada para os açaizais de terras altas que predominam na Pré-Amazônia Maranhense. Nessas áreas, a degradação causada pela exploração madeireira e o avanço das pastagens reduziu a produtividade das palmeiras nativas.
Com o aumento da demanda pelo fruto, especialmente durante a entressafra do Pará, o projeto emergiu como uma prioridade econômica e ambiental. A escolha do local para instalar a URT foi precedida de estudos detalhados e realizada de forma participativa, envolvendo representantes municipais.
Capacitação e resultados práticos
As capacitações práticas abrangeram etapas como limpeza do terreno, inventário das espécies e manejo seletivo de touceiras. Em uma área inicial de 0,25 hectare, pequenos produtores puderam aplicar as técnicas aprendidas e observar os resultados.
Lauro Paiva, agricultor familiar, destacou-se ao adotar o manejo sustentável em sua propriedade e expandir a área manejada para 7 hectares. Ele também se tornou multiplicador da tecnologia, inspirando outros produtores da região.
“Nosso parceiro, o senhor Lauro Paiva, tem sido referência na divulgação dos trabalhos que estão sendo realizados pela Embrapa na região. Outra estratégia adotada foi a integração e parceria dos pesquisadores das Unidades da Embrapa envolvidas com a tecnologia de manejo de açaí nativo”, relata o pesquisador da Embrapa Cocais, José Mário Frazão.
Agricultores relataram que, no passado, transformaram áreas de açaizais degradados em pastagens por desconhecerem técnicas adequadas de manejo. “Essa realidade está mudando e seu Lauro se tornou referência na tecnologia de manejo de açaí de terra firme na região e tem atendido às demandas de outros municípios para orientar a recuperação dessas áreas de açaizais”, acrescenta Frazão.
Benefícios econômicos e ambientais
Além de aumentar a produtividade, o projeto promove a restauração ambiental. Sementes coletadas nos açaizais manejados resultaram na produção de 4 mil mudas de espécies nativas. Essas mudas serão utilizadas para proteger as bordas das áreas manejadas e para atender outros agricultores interessados em restauração florestal.
A iniciativa conta ainda com parcerias institucionais, envolvendo secretarias municipais de agricultura e o órgão estadual de extensão rural, para integrar as ações locais ao projeto.
Expansão e perspectivas
O projeto tem vigência até 2025, com expectativa de replicação em outras regiões do Maranhão. Neste mês de janeiro, a comunidade do Maracanã deve receber uma capacitação voltada ao manejo e boas práticas de processamento de açaí, em parceria com o Instituto de Formação.
Os resultados já obtidos reforçam o potencial do manejo sustentável como alternativa viável para geração de renda e conservação ambiental na Amazônia Maranhense, mostrando que é possível aliar produção agrícola à restauração de ecossistemas degradados.