O Nordeste do Brasil consolidou-se como a principal região produtora de manga do país, respondendo por 76% do volume colhido na safra 2023/24. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estados nordestinos produziram 1,34 milhão de toneladas, gerando R$ 2,65 bilhões em valor de produção. A combinação de clima favorável, solos férteis e sistemas avançados de irrigação garantiu um salto de 52% no valor da produção da fruta entre 2022 e 2023, consolidando a região como potência no agronegócio brasileiro.
Para entender melhor o cenário, o Investindo por aí conversou com o Banco do Nordeste (BNB) e com Marcos Xavier, gerente executivo da Fazenda Cruzeiro, localizada na Bahia, um dos maiores polos produtores de manga do país.
Bahia e Pernambuco: protagonistas na produção
A Bahia, maior produtora nacional, respondeu por 40% da colheita de manga do Brasil em 2023, totalizando 704 mil toneladas e gerando R$ 1,61 bilhão em valor de produção. Com uma área colhida de 33,3 mil hectares, o estado possui um rendimento financeiro 20% superior à média nacional, alcançando R$ 48.261 por hectare.
Juazeiro, cidade baiana localizada no polo Petrolina/Juazeiro, destaca-se pela integração de tecnologias avançadas em seus sistemas de produção. Marcos Xavier, gestor executivo da Fazenda Cruzeiro, explica que o sucesso da região deve-se à combinação de fatores naturais e técnicas modernas. “Os solos arenosos e o clima tropical garantem alta produtividade e permitem ajustar a produção às demandas do mercado interno e externo. Estamos em uma região privilegiada, onde a qualidade da manga é um diferencial competitivo”, afirma.
Pernambuco, o segundo maior produtor, também teve uma performance significativa na safra 2023/24. O estado produziu 602 mil toneladas, equivalente a 34% do volume nacional. A produtividade pernambucana foi a maior do país, com 33.097 kg/ha, 51% acima da média brasileira, e o rendimento financeiro chegou a R$ 45.479 por hectare. Petrolina, epicentro da produção estadual, é reconhecida pela eficiência de seus sistemas irrigados e pela adaptação às exigências do mercado internacional.
Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe: potencial em crescimento
Outros estados nordestinos têm contribuído para fortalecer o protagonismo regional na fruticultura. O Ceará, por exemplo, colheu 43 mil toneladas e registrou um valor de produção de R$ 628 milhões, enquanto o Rio Grande do Norte alcançou 42 mil toneladas e R$ 124 milhões em receita. Sergipe, apesar de ter um volume menor (14 mil toneladas), obteve o maior rendimento por hectare da região, com R$ 50.946.
Segundo relatório do Banco do Nordeste, o sucesso da fruticultura na região é impulsionado pela infraestrutura hídrica e pelo apoio técnico oferecido aos produtores. “A viabilização da irrigação e a introdução de tecnologias específicas para o Semiárido colocam o Nordeste em posição de destaque no mercado de frutas tropicais. Apesar dos desafios, como a concentração da produção em poucos polos, o potencial de expansão é enorme”, aponta o relatório do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), do BNB.
Exportações
A manga nordestina desempenha um papel estratégico nas exportações brasileiras de frutas. Em 2023, o Nordeste gerou US$ 929,5 milhões em divisas, com destaque para a manga, que encontrou mercados consolidados na União Europeia, Estados Unidos e Canadá. Países como Alemanha, Reino Unido e Países Baixos estão entre os principais destinos.
No entanto, o relatório do ETENE destaca que o setor ainda enfrenta barreiras fitossanitárias e logísticas. A União Europeia, por exemplo, tem adotado limites mais rigorosos para resíduos de agrotóxicos, o que exige maior adequação dos produtores brasileiros. “Superar essas barreiras e expandir a presença no mercado externo é um desafio, mas também uma grande oportunidade para aumentar o valor agregado da produção nordestina”, mostrou a análise do ETENE.
Perspectivas para 2024
As expectativas para a próxima safra são otimistas. A redução da inflação na Europa, aliada à recuperação da demanda nos mercados asiáticos, deve favorecer ainda mais as exportações. Além disso, o bom volume de chuvas em 2024 melhorou a capacidade dos reservatórios da região, garantindo segurança hídrica para os principais polos produtores.
Com resultados crescentes e potencial de expansão, a produção de manga no Nordeste continua como referência no agronegócio nacional. A integração entre tecnologia, infraestrutura e manejo sustentável reforça a competitividade da região, transformando a fruticultura em uma das principais alavancas econômicas para o Semiárido brasileiro.