O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lançou o Programa Paul Singer de Agentes de Economia Popular e Solidária, por meio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes). A cerimônia de abertura foi realizada na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em Brasília, na segunda-feira (9). Durante essa semana de lançamento, coordenadores estaduais de todos os territórios do país fizeram o curso de formação de Agentes, que será encerrado nesta sexta-feira (13).
O programa homenageia o economista Paul Singer, um dos pioneiros da economia solidária no Brasil e vai promover inclusão social e desenvolvimento sustentável, com a capacitação de agentes. Durante o evento, o secretário da Senaes, Gilberto Carvalho, destacou a importância da iniciativa. “A economia solidária oferece uma alternativa real para combater a fome e a exclusão, fortalecendo as redes de produção coletiva e promovendo o desenvolvimento com justiça social”, ressaltou.
As atividades dos coordenadores também incluem a organização de cursos, a realização de conferências regionais e a implementação de práticas inovadoras de cooperação. Vale destacar que dois terços dos coordenadores são mulheres, o que reforça o papel da liderança feminina nas iniciativas comunitárias.
Formação e Atuação nos Territórios
Foram selecionados 54 coordenadores – dois por estado e dois para o Distrito Federal. Os candidatos passaram por um processo seletivo que incluiu rigorosos critérios para comprovação de experiência em ações de economia solidária. Cada coordenador receberá uma bolsa mensal de R$5.200 para liderar atividades como capacitação dos agentes, articulação de políticas públicas e estímulo a empreendimentos solidários.
Com um orçamento inicial que permitiu a contratação de 500 agentes em todo o país, o governo espera dobrar esse número no próximo ano. Gilberto Carvalho destacou a necessidade de ampliar os recursos destinados à economia solidária. “É lamentável termos que limitar a equipe a 500 agentes no início. Mas, em 2025, chegaremos a mil, porque sabemos o quanto esse trabalho é essencial para as comunidades mais necessitadas”, afirmou.
Carvalho também enfatizou o papel estratégico dos agentes e coordenadores no campo. Segundo ele, essas equipes terão como missão diagnosticar as necessidades locais, atualizar o Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários (CadSol) e fomentar novas iniciativas. “Eles serão nossos olhos e ouvidos no território, garantindo que as ações do programa cheguem a quem mais precisa”, concluiu.
O CadSol é uma ferramenta que monitora iniciativas de economia solidária, possibilitando a participação em compras públicas e acesso a linhas de crédito. Esse dispositivo está desatualizado desde 2016.
Nordeste: “Um laboratório de transformação”
O Nordeste foi identificado como uma região estratégica para o programa, com exemplos bem-sucedidos que servem de modelo para outras partes do país. “O Nordeste é um laboratório de transformação muito especial. É preciso ampliar essas iniciativas e levar os exemplos de sucesso para outras regiões do Brasil”, sinalizou o secretário da Senaes.
Entre os casos citados, ele apontou iniciativas da Bahia e de Alagoas, e destacou o Rio Grande do Norte, com uma nova lei que facilita a aquisição de produtos de empreendimentos solidários para compras públicas na área da saúde, fortalecendo o setor local. Sobre a Bahia, Carvalho elogiou os Centros Públicos de Economia Solidária, que funcionam como espaços comerciais populares onde artesãos podem comercializar seus produtos e participar de capacitações.
Já em Alagoas, o município de Piaçabuçu foi citado como exemplo de integração bem-sucedida entre cooperativas locais. “Nesse município, uma cooperativa de plantio de coco estabelece uma relação virtuosa com a indústria local, que emprega mais de 150 trabalhadores. Essa indústria não só vende o coco para outras iniciativas, como também apoia uma cooperativa de senhoras que produzem doces e uma de jovens que transformam óleo de cozinha usado em detergente”, explicou.
“Os participantes do Programa Paul Singer desempenham um papel central nesta missão: transformar a vida das pessoas, criando novas perspectivas para o Brasil”, concluiu Gilberto Carvalho.
Força feminina
Das 54 pessoas selecionadas para coordenar as ações do programa, 36 são mulheres. Uma das coordenadoras do programa na Bahia, Magda de Souza Almeida, confirma a relevância da economia solidária para transformar territórios marginalizados. “Para nós, que carregamos a economia solidária no sangue, isso não é uma utopia. É um sonho real que nos motiva todos os dias. Estamos prontas para enfrentar esse desafio”, garante.
A coordenadora do projeto no Ceará, Ana Célia Vital Batista, levanta essa bandeira do poder feminino há quase 20 anos. “Sou militante da Marcha Mundial das Mulheres e integrante do Fórum Cearense de Economia Solidária. Venho da Rede Estrela, no município de Iracema, onde coordenamos 22 grupos de mulheres resistentes. Desde 2005, estamos juntas nessa luta”, celebrou.
A Atuação da Contag
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) é uma parceira fundamental do programa, articulando iniciativas regionais que conectam a produção local às políticas públicas. Com cinco regionais distribuídas pelo Brasil, a entidade desempenha um papel essencial na mobilização comunitária e na implementação das ações.
“Nosso objetivo é aproximar sindicatos, movimentos sociais e todas as pessoas que atuam nesse campo, ajudando a fortalecer e ampliar o programa”, assegurou o presidente da Contag, Aristides Veras dos Santos.
A Fundacentro no Programa
A Fundacentro tem um papel essencial na execução do programa, em parceria com a Senaes. “Estruturamos um Programa de Execução Orçamentária Descentralizada (PED), por meio do qual a Senaes nos repassa os recursos, e nós realizamos a execução do contrato”, detalhou o presidente da fundação, José Cloves da Silva.
Além disso, a Fundacentro leva sua expertise em Saúde e Segurança do Trabalho (SST) para o programa. “Estamos levando as boas práticas de SST para o cotidiano dos trabalhadores, promovendo mais segurança e sustentabilidade nas atividades”, afirmou o dirigente.
O Legado de Paul Singer
Paul Singer foi um dos maiores defensores da economia solidária no Brasil. De origem austríaca, imigrou para o Brasil em 1938, fugindo do nazismo, e construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com a justiça social. Singer estruturou o conceito de economia solidária, defendendo práticas baseadas na cooperação, autogestão e solidariedade.
Entre os marcos de sua trajetória estão a liderança da histórica greve dos 300 mil, em 1953, e a fundação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares na USP. Ele também foi secretário nacional de Economia Solidária entre 2003 e 2016.
O que é Economia Solidária?
A economia solidária prioriza o ser humano sobre o capital, promovendo práticas de produção, distribuição e consumo fundamentadas na cooperação e na autogestão. Diferente do modelo capitalista tradicional, que valoriza a competição e o lucro, ela busca inclusão social, justiça econômica e sustentabilidade.
Exemplos de economia solidária incluem cooperativas, bancos comunitários e associações, que são geridos democraticamente para garantir uma distribuição mais justa das riquezas geradas coletivamente.