O custo das passagens aéreas para destinos do Nordeste atingiu um novo recorde no mês de novembro, início da alta temporada de fim de ano. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os bilhetes estão mais caros do que em 2009, mesmo considerando a correção inflacionária. O aumento ocorre em um cenário de recuperação do setor, que ainda sente os efeitos da pandemia e da instabilidade financeira das companhias aéreas.
De acordo com a Anac, a tarifa média mais alta na região foi registrada pela Latam, que comercializou passagens a um preço médio de R$ 910,67 em novembro. O último pico nesse nível ocorreu em outubro de 2009, quando os bilhetes da companhia custavam R$ 950,41, em valores ajustados pelo IPCA. A alta foi expressiva nos últimos meses: entre agosto e novembro, o preço médio da Latam cresceu 56,6%.
A Gol seguiu tendência semelhante, elevando o valor médio de suas passagens na região de R$ 606 em agosto para R$ 884 em novembro, um aumento de 46%. Já a Azul, que tradicionalmente praticava os valores mais altos, apresentou uma leve redução de 3,5% no mesmo período, embora suas tarifas ainda estejam em um patamar elevado, com bilhetes a R$ 828, em média.
O economista do Senac, Renan Laurentino, explica que o alto custo das passagens aéreas no Brasil é resultado de uma série de fatores estruturais e conjunturais. “Que o brasileiro paga passagem cara não é de hoje. Ainda sofremos as consequências da pandemia, que trouxe grandes prejuízos financeiros para as companhias. Além disso, temos apenas três grandes empresas no mercado, sendo que duas delas estão em recuperação judicial, o que influencia diretamente nos preços”, afirmou ao Investindo por aí.
Laurentino também destaca que questões trabalhistas e a cotação do dólar impactam significativamente os custos operacionais. “Há muitos processos trabalhistas envolvendo essas companhias, o que gera despesas extras. Além disso, os custos aeroportuários são fortemente influenciados pelo dólar. Mesmo que o querosene de aviação tenha estabilizado, esse não é o único gasto das empresas. Existem taxas de pouso, taxiamento e diversas outras despesas operacionais”, explica o economista.
A alta nos preços contrasta com a redução no custo do combustível. Segundo a Anac, o preço médio do litro do querosene de aviação caiu de R$ 4,17 em agosto para R$ 3,56 em novembro, uma redução de 14,6%. No entanto, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) argumenta que, apesar da alta recente no Nordeste, o valor médio das passagens em nível nacional caiu no último ano. A entidade informou que, em novembro de 2024, a tarifa média foi de R$ 726,46, abaixo dos R$ 737,11 registrados no mesmo período de 2023, e que 45% dos bilhetes foram vendidos por até R$ 500.
Diante dos preços elevados, muitos consumidores estão buscando alternativas para viajar, o que impacta o setor. “Como as passagens estão caras, as pessoas têm optado por viajar de ônibus, alugar carros ou utilizar seus próprios veículos para turismo doméstico, tanto no Nordeste quanto em outras regiões do país”, analisa Laurentino.
A expectativa de uma redução significativa nos preços das passagens aéreas em curto prazo ainda é incerta. “Pensar que pode haver uma queda nos valores lá para meados de 2025? Não necessariamente. A demanda continua alta, especialmente no Nordeste, e a oferta limitada faz com que os preços se mantenham elevados”, conclui o economista.